Tutti buona gente.com
Alberto Dines
A compra de 30% da Globo.com pela Telecom Italia deixou todo mundo feliz. A equipe econômica e o mercado financeiro esfregam as mãos porque os 810 milhões de dólares vão entrar rapidinho no Brasil e isso já está forçando uma queda na cotação da moeda americana, provocado uma reação em cadeia extremamente favorável.
Os parceiros, evidentemente estão exultantes. Os italianos que desde Américo Vespúcio rondam o Brasil mas não se abancam agora finalmente vão entrar na Terra Nostra. A Globo.com passa a valer quase 3 bilhões de dólares. Quanto valerão a Globocabo, a Globopar, o jornal O Globo e a TV Globo?
O negócio também vai apressar as negociações para a compra da TVA (leia-se Abril) pela Telefónica Media (leia-se Telefônica e portal Terra). E obviamente agilizar o divórcio, certamente amigável, Folha-Abril no UOL.
O iG está com um pé na Bandeirantes e o outro numa operação ultra-secreta.
Parabéns a todos.
Há um dado que precisa ser considerado. A Globo.com é provedora de conteúdo.
Em outras palavras, é fornecedora de informação.
Em outras palavras, é empresa jornalística.
Em outras palavras: sendo empresa jornalistica, até o momento não pode ter sócios estrangeiros. E, mesmo quando mudar a redação do artigo 222 (sobre a propriedade das empresas jornalísticas), será preciso uma terceira emenda que englobe e regulamente os provedores de conteúdo colocando-os na mesma esfera dos veículos de informação (impressos ou eletrônicos).
Quando o UOL vendeu 10% do seu capital a grupos internacionais também infringia nossa Carta Magna. E o fazia por conta de uma futura alteração constitucional que sequer chegou ao plenário da Câmara. Antes ainda, quando associou-se a um grupo impressor americano para parcerias na área gráfica também contrariava a legislação. Quem chamou a atenção para o caso foi demitido. No caso este Observador [veja remissões abaixo].
Na parceria Globo.com – Telecom Italia ficou visível que não se trata de um negócio na área de tecnologia ou acesso. É conteúdo. A encantadora prova: a simpaticíssima dona da festa onde se anunciou a parceria com os italianos era D. Marluce Dias da Silva, diretora da Unidade TV e Entretenimento das Organizações Globo, empresa de comunicação que, pelos diplomas legais vigentes, está impedida de estabelecer parcerias com capitais internacionais (Valor, 2/6/200, pág. B-3).
O friforó acionário na área da mídia é inevitável. Vai recapitalizar os gigantes nativos. Vai estimular as empresas médias. Está promovendo uma salutar animação no mercado de trabalho.
Mas já que a mídia está contando as coisas pela metade ou omitindo o principal, conviria que alguém mostrasse o resto: os reis estão nus. Peladinhos.