Opinião
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5 de março de 2021
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17:57

Esteio: testagem de marketing e a realidade que ninguém vê (por Graziela Oliveira)

Por
Sul 21
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Municipários de Esteio cobram resultados de testes realizados no início de fevereiro. (Facebook/Reprodução)

Graziela Oliveira (*)

 Aqui em Esteio, a realidade dos quase 2000 mortos diários no País parece estar deslocada do mundo perfeito do prefeito Leonardo Pascoal (PP). No Facebook, com dinheiro e máquina pública em mãos, tenta-se vender uma realidade de segurança e agilidade no rastreamento, controle e proteção contra o vírus entre os trabalhadores. Porém, há quase 30 dias, a educação no município vive uma situação desesperadora. Os testes sorológicos realizados pela prefeitura no início de fevereiro, quando os servidores da educação foram convocados às atividades presencialmente nas escolas, mesmo sem alunos, ainda não chegaram. Mesmo sem o resultado dos testes, os trabalhadores continuaram suas atividades. O resultado? Surto da doença. São cerca de 70 profissionais da educação afastados em decorrência do Covid-19. Na última semana, em menos de três dias, dois trabalhadores vieram a óbito.

Os trabalhadores da educação querem saber do prefeito Leonardo Pascoal (PP): “Cadê os resultados dos exames da Covid-19 realizados no início do mês passado?” O SISME solicitou agenda com a secretária de saúde, Ana Boll, mas até o presente momento não recebeu resposta. Esteio está entre as 20 cidades com os piores índices de contágio e mortes no Rio Grande do Sul. Os leitos UTI Covid-19 do Hospital São Camilo estão operando com 100% da sua capacidade.

Diante do silêncio ensurdecedor do nosso gestor público e da crescente crise sanitária, muitos profissionais tiveram que buscar exames particulares para saberem sobre sua saúde. O prefeito postou no Facebook um vídeo lindo sobre os testes: grande jogada de marketing de um representante que só se preocupa com a economia dos seus patrocinadores de campanha. Entretanto, os resultados dos testes da prefeitura não nos servem mais, pois sua função de rastrear efetivamente o contágio e garantir a proteção dos trabalhadores e da própria comunidade já não faz sentido. Qual o interesse da demora e da não divulgação dos resultados? Mistérios de uma quarentena.

Enquanto isso, morremos. Somos infectados e infectamos quem amamos. Nisto, não há mistério algum, só fatos. Não há mais espaço nos hospitais e não há mais espaço para os mundos de fantasia dos nossos governantes. Há surto de Covid nas escolas de Esteio. Há surto de Covid em todo o Rio Grande do Sul. Recordes de mortes diárias. Nova cepa, jovens morrendo. Essa é a realidade que ninguém vê, ou finge morbidamente com resquícios de crueldade. Nosso único tratamento é ficar em casa para podermos voltar às nossas atividades o mais rápido possível.

Recentemente, o SISME conseguiu na justiça a garantia de que as aulas presenciais sejam canceladas em regime de Bandeira Preta, na Região de Esteio. A decisão da 21ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul atendeu o pedido urgente de tutela movido pelo Sindicato, e ainda determina que a prefeitura se abstenha de ordenar o trabalho presencial nas escolas a todos os profissionais da educação.

Apesar de ser uma vitória pela vida de todos, é triste termos que recorrer à justiça para que se faça cumprir o bom senso de salvar vidas. Os trabalhadores estão exaustos. Toda a comunidade está exausta. Vamos fazer a nossa parte e ficar em casa. Vamos salvar vidas, já que nossos gestores querem salvar eleições.

ESCOLAS FECHADAS, VIDAS PRESERVADAS!

(*) Graziela Oliveira está presidenta do Sindicato dos Municipários de Esteio. É professora da Rede Municipal de Esteio e Mestranda em Educação pela UFRGS.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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