Coronavírus
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9 de fevereiro de 2022
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09:10

Dificuldade de acesso torna lenta vacinação infantil em Porto Alegre

Por
Luís Gomes
luisgomes@sul21.com.br
Foto: Cristine Rochol/PMPA
Foto: Cristine Rochol/PMPA

Apesar de a vacinação infantil de 5 a 11 anos já estar liberada desde a semana passada, Porto Alegre vacinou até o momento 31.207 crianças. O número representa cerca de um quarto (26,41%) da população de 118.158 estimada para a faixa etária na Capital. Na última quinta-feira (3), a cidade de São Paulo já tinha atingido a marca de 50% das crianças vacinadas. A Prefeitura de Porto Alegre reconhece que o ritmo de vacinação está lento, mas avalia que ele está evoluindo.

Contudo, a lentidão da vacinação não pode ser explicada, apenas, pelos receios de pais vacinarem seus filhos, mas também pelas dificuldades que eles relatam estar encontrando em termos de acesso às unidades de saúde.

Um dos problemas relatados à reportagem é a dificuldade de mães e pais em levarem os filhos aos postos de saúde durante o horário de trabalho. Moradora da Restinga, Rosélia Rodrigues conta que a filha, Patrícia, conseguiu vacinar apenas um dos seus netos até o momento. Na semana passada, Patrícia levou seus dois filhos, um menino de 11 anos e uma menina de 8 anos, à Clínica da Saúde da Família, localizada ao lado do Hospital da Restinga, e foi informada que não havia vacina disponível para a menor, embora o calendário da cidade já previsse doses para a idade dela.

“Eles disseram que não tinha vacinas no momento para a minha neta de 8 anos. Só teria se ela voltasse mais tarde. Mas aí a minha filha trabalha e ainda não pode voltar para vacinar a menina. Ela está aguardando uma folga”, conta Rosélia.

Outro problema relatado, que também se relaciona com a dificuldade de tempo e liberação de trabalho, é a da formação de filas nas unidades de saúde. Esse se torna um problema maior na vacinação infantil do que na de adultos porque crianças de 5 a 11 anos devem aguardar por 20 minutos no local da imunização para o monitoramento de eventos adversos.

Também moradora da Restinga, Cátia Fernanda da Silveira Pinto precisou ir ao posto de saúde três vezes para vacinar o filho de 10 anos. Nas primeiras duas oportunidades, a Clínica de Saúde da Família estava com filas e não conseguiu esperar. “Na primeira vez, no dia 28, a gente chegou 8h40 no hospital e já tinha uma fila gigantesca lá. Era um dia de sol bem quente. Devia ter umas 60 pessoas dentro da Clínica da Família e devia ter outras 60 do lado de fora. A gente não quis ficar porque tinha muita aglomeração e a previsão era de que íamos conseguir só depois do meio-dia. No dia 1º, eu pedi carona para uma amiga. Chegamos lá e, de novo, estava superlotado e eu desisti”, conta.

Já na terceira, saiu de casa às 6h30 acompanhada de uma amiga, que tem três filhos. Quando chegou, mesmo antes da abertura da vacinação, que inicia às 8h, 12 pessoas já estavam na fila. “A logística da vacinação foi muito engraçada. Eu e a minha amiga saímos às 6h30. Meu marido nos levou de carro e foi trabalhar. O marido dela ficou em casa arrumando as quatro crianças para levar às 8 horas”, diz.

Elas ainda precisaram esperar que o sistema voltasse a funcionar, depois de ficar fora do ar por cerca de meia hora no início da vacinação, mas conseguiram que as quatros crianças fossem vacinadas por volta das 9h. Na saída, acionaram um aplicativo de transporte individual, contando com a sorte de que o sinal, que é ruim na região, não falhasse e que o motorista aceitasse levar todo mundo.

“A dificuldade é que a vacinação na Restinga está somente em um lugar. Muita gente diz que não vai levar porque tem muita aglomeração e tem um foco de covid”, diz Cátia. “Eu também vejo dificuldade de conhecidos aqui da volta que tem quatro ou cinco filhos e não tem como levar todas”.

Outro fator que tem atrasado a vacinação é a falta de informação, ou falta de acesso à informação, por parte dos pais. Moradora da Vila Mapa, na Lomba do Pinheiro, Thalita da Cruz conseguiu vacinar a filha de 6 anos na semana passada, na Unidade de Saúde da Lomba do Pinheiro, porque, como conta, estava monitorando o site da Prefeitura desde quando a imunização infantil foi anunciada. “Na primeira oportunidade que apareceu para a idade dela, eu já levei para vacinar”.

Contudo, Thalita diz que chamou a sua atenção o fato de que, ao postar no Facebook a imagem da criança vacinada, mais de 10 mães e pais responderam com perguntas sobre a vacinação infantil. “O pessoal não sabia que já estava na idade, não sabiam quais postos onde poderiam vacinar. Inclusive, quando eu falei do postinho onde eu levei a minha filha, teve gente que me disse que nem sabia que tinha posto ali”, diz.

Como forma de tentar minimizar as dificuldades que as famílias têm encontrado para vacinar seus filhos, a cidade de São Leopoldo iniciou na última quinta-feira (3) a vacinação descentralizada em escolas, com uma instituição da rede municipal da cidade oferecendo a imunização por turno. Somente na primeira manhã foram vacinadas 440 crianças na escola Chico Xavier, localizada no bairro Santos Dumont. O número foi muito superior a média anterior de doses infantis aplicadas na cidade, que era de cerca de 150 por dia.

A Prefeitura de São Leopoldo informou nesta terça que, nos cinco dias de descentralização, a vacinação infantil, iniciada em 19 de janeiro, saltou de 1,5 mil para 6,7 mil doses aplicadas, alcançando 45% da população local de 5 a 11 anos.

Diretora de Atenção Primária da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Porto Alegre, Caroline Schirmer reconhece que a vacinação infantil começou lentamente em Porto Alegre, mas destaca que a vacinação fora das unidades de saúde só foi liberada pelo Estado na semana passada, em razão dos cuidados necessários à aplicação da vacina da Pfizer — primeiro liberado para a imunização infantil na Capital.

“O número de vacinados realmente estava muito baixo. Pensando que o acesso é um dos atributos da atenção primária que a gente mais observa quando falamos de vacinas. Já foi visto nos adultos isso e agora, nas crianças, ainda mais, porque a criança tem que ser levada por um adulto e esse adulto tem a questão do trabalho e tudo mais”, diz.

Caroline explica que uma das ações que estão sendo organizadas é a realização de um Dia D da vacinação infantil, a ser realizado em quatro (número ainda não definido) escolas municipais em um sábado nas regiões sul, norte, leste e oeste/central da cidade. A ideia do Dia D seria garantir que a maior parte das crianças de 5 a 11 anos recebam a primeira dose no início do ano letivo na rede municipal, marcado para a próxima segunda-feira (14).

A diretora diz que ainda não há definição sobre a data exata — se ocorrerá no próximo sábado (11) ou no seguinte (18) –, mas que deve ser logo. Uma possibilidade é que seja liberado o passe livre para famílias acessarem os pontos de vacinação e, assim, contornar as dificuldades ligadas ao transporte.

Caroline diz que 30 mil crianças já se vacinaram em Porto Alegre, mas ainda faltariam cerca de 90 mil. “Quando a gente começou, em 19 de janeiro, o movimento estava fraco. A gente fez diversas campanhas para trazer essas famílias para dentro das unidades. Quando a gente foi baixando a faixa etária, começou a aumentar o volume. Então, afim de evitar aglomerações, nós colocamos a vacinação no terceiro turno, das 18h às 21h, de maneira agendada, para as pessoas não precisarem esperar”, diz.

A vacinação no terceiro turno é feita em duas unidades, 1º de Maio (bairro Cascata) e Morro Santana (bairro Protásio Alves), e pode ser programada pelo aplicativo 156+POA no celular.

Caroline diz que a vacinação também está disponível aos sábados — embora restrita ao Postão do IAPI, na zona norte da Capital — e, a partir da próxima segunda-feira, será disponibilizada na unidade móvel da SMS. A unidade faz a vacinação nos bairros de forma itinerante, mas ainda não tinha começado a vacinar crianças porque dependia de treinamento da equipe para a peculiaridade da imunização infantil, segundo a diretora.

“A gente gostaria de ter a vacinação contra a covid em todas as 132 unidades de saúde de Porto Alegre, porque a adesão certamente seria muito maior. Mas o número de doses que nós temos não é muito grande, então não adianta colocar pouquinhas doses em cada unidade e faltar ao longo do dia”, diz.

Também iniciou nesta segunda-feira a vacinação domiciliar de crianças acamadas ou com dificuldades de locomoção aos postos de saúde. Esta opção pode ser solicitada pelo WhatsApp das coordenadorias de saúde pelos números (51) 3289-5566 (Sul), (51) 3289-3490 (Norte), (51) 3289-5529 (Leste) e (51) 3289-2905 (Oeste/Central).

“É um serviço um pouco demorado, porque a gente faz a vacina e tem que esperar os 20 minutos, que é uma peculiaridade da vacina das crianças”, diz, ressaltando que as coordenadorias estão com horários disponíveis.


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