Coronavírus
|
16 de setembro de 2021
|
16:52

Ministério da Saúde muda orientação e suspende vacinação de adolescentes

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br
Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, decidiu voltar atrás na orientação dada no começo do mês. Foto: Alan Santos/PR
Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, decidiu voltar atrás na orientação dada no começo do mês. Foto: Alan Santos/PR

Depois de anunciar que os adolescentes sem comorbidades entre 12 anos e 17 anos de idade poderiam começar a serem vacinados a partir de 15 de setembro, o Ministério da Saúde (MS) mudou a orientação e suspendeu a vacinação desse público por meio de nota informativa divulgada exatamente no dia em que a imunização poderia iniciar. A decisão causou surpresa em secretários municipais e estaduais de saúde.

A vacinação dos adolescentes sem comorbidades já está em curso em muitas cidades do País. Em Porto Alegre, por exemplo, a Prefeitura começou a aplicar a vacina Pfizer em jovens a partir de 15 anos nesta quinta-feira (16).

A surpresa causada pela mudança da recomendação se deve às explicações contidas na nota informativa do Ministério. No documento, o órgão elenca seis razões para justificar a mudança: diz que a Organização Mundial de Saúde não recomenda a imunização de criança e adolescente, com ou sem comorbidades; que a maioria dos adolescentes sem comorbidades acometidos pela covid-19 apresentam evolução benigna, apresentando-se assintomáticos ou oligossintomáticos; destaca que somente um imunizante foi aprovado até o momento (Pfizer); e que os benefícios da vacinação em adolescentes sem comorbidades ainda não estão claramente definidos.

O estranhamento de gestores, médicos e pesquisadores é que todas essas quatro questões já eram conhecidas quando, no começo de setembro, o MS anunciou a vacinação dos adolescentes sem comorbidades.

Na nota informativa, o Ministério ainda cita outros dois fatores: o primeiro é uma frase aparentemente incompleta e o segundo, sem relação específica com a vacinação dos adolescentes. A nota do Ministério da Saúde diz que: “apesar dos eventos adversos graves decorrentes da vacinação serem raros, sobretudo a ocorrência de miocardite (16 casos a cada 1.000.000 de pessoas que recebem duas doses da vacina); e que a redução na média móvel de casos e óbitos (queda de 60% no número de casos e queda de mais de 58% no número de óbitos por covid-19 nos últimos 60 dias) com melhora do cenário epidemiológico.

No Rio Grande do Sul, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) informou ter distribuído nesta quarta (15), para todos os municípios, doses da Pfizer para vacinar adolescentes sem comorbidades com 17 anos, conforme decisão pactuada com o Conselho das Secretarias Municipais da Saúde (Cosems/RS). “Nas próximas remessas Pfizer para D1, tendo em vista a nota técnica divulgada pelo MS, se fará nova avaliação”, afirma a SES.

Por sua vez, em Porto Alegre, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) divulgou que aguardará a notificação oficial do Ministério da Saúde e da Secretaria Estadual de Saúde. “A vacinação dos adolescentes acima de 15 anos segue, até o momento, ocorrendo normalmente na capital”, explicou.

Em coletiva de imprensa nesta quinta (17), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, explicou as razões que levaram o governo federal a rever a vacinação de adolescentes sem comorbidades.

Queiroga disse que foram constatados 1.500 efeitos adversos, mas a maioria, 93%, causados pela aplicação de vacina errada. Até o momento, apenas o imunizante da Pfizer tem autorização da Anvisa para uso em adolescentes.

Há apenas um caso de morte de uma adolescente em São Bernardo do Campo (SP) com relação temporal após ter recebido a vacina da Pfizer. O caso está sendo investigado e, até o momento, ainda não há comprovação que o óbito tenha relação com o imunizante.

Em torno de 3,5 milhões de adolescentes com e sem comorbidades foram vacinados até o momento no Brasil. No Rio Grande do Sul, segundo dados apresentados pelo Ministério da Saúde, 59.736 adolescentes entre 12 e 17 anos receberam doses de vacina, sendo 57.958 imunizados com Pfizer, a vacina autorizada pela Anvisa, e 941 com  CoronaVac, 838 AstraZeneca e 26 da Janssen.

“Toda vez que o Ministério tiver que fazer correção, vai fazer, com tranquilidade”, disse Queiroga. E acrescentou: “O Ministério pode rever a posição desde de que haja informação sólida de segurança da vacinação de adolescentes sem comorbidade”.

O ministro, entretanto, não considerou que a vacina da Pfizer já teve seu uso aprovado pela Anvisa.

Queiroga ainda disse que o Ministério da Saúde vai acompanhar os casos dos adolescentes vacinados com CoronaVac, AstraZeneca ou Janssen. Sobre os jovens que receberam a primeira dose da vacina correta, da Pfizer, a orientação do ministro é que no momento não tomem a segunda dose.

A orientação, todavia, não deve ser cumprida. Estados como São Paulo e o Distrito Federal anunciaram que seguirão a imunização dos adolescentes. No RS, o governo estadual anunciou que os jovens imunizados podem receber a segunda dose.

“Todos os que recebem a primeira dose tem direito a completar o esquema vacinal”, comunicou a Secretaria Estadual da Saúde.

O diretor da Vigilância Sanitária da Prefeitura de Porto Alegre, Fernando Ritter, usou o Twitter para enfatizar que a Anvisa autorizou a vacinação de adolescentes, e que a OMS também recomenda, ao contrário do que disse a nota do Ministério da Saúde.

Nas redes sociais, médicos e cientistas se manifestaram contrários a suspensão da vacinação dos adolescentes.

“Esta ‘Nota Informativa’ do @minsaude é algo lamentável. A justificativa para modificar a recomendação baseia-se em 6 itens. I ao IV não são fatos novos, já são conhecidos antes da decisão por vacinar este grupo. O V é uma frase incompleta que não faz sentido. O VI cita um dados incompleto e que, de qualquer forma, também não tem nenhuma relação com vacinação de adolescentes. Visão totalmente clínica do ponto de vista individualista. O que está na nota não justifica a decisão”, afirmou Alexandre Zavascki, infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O epidemiologista Pedro Hallal, ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coordenador da pesquisa EpiCovid, ponderou ser correta a afirmação de que adolescentes têm menos risco de desenvolver a forma grave da doença, mas isso não é motivo para não vaciná-los. “100% errada a decisão do @minsaude de suspender a vacinação em adolescentes. Até quando vão tratar a pandemia com uma abordagem clínica, e não coletiva? É verdade que a maioria dos adolescentes não terá caso grave, mas quanto mais gente vacinada, mais difícil pro vírus circular.”

Professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), a epidemiologista Ethel Maciel destacou ser correto os adolescentes serem os últimos a receberem a vacina e reforçou o entendimento de que a vacinação é segura.

“PNI (Programa Nacional de Vacinação) está causando mais confusão. Os adolescentes sem comorbidades devem ser os últimos na prioridade de vacinação. Mas devem ser vacinados também, principalmente pensando no retorno presencial da educação. A SBP fez uma revisão das evidências recomendando a vacinação desse grupo. No Brasil já tem mais mortes em adolescente e jovens menores de 19 anos que outros países como EUA e Reino Unido. É preciso ter cautela para não confundir a população, coisa que o PNI está errando. A OMS diz para adolescentes serem os últimos por uma questão de equidade e não de segurança. Ou seja, a prioridade deve ser vacinação de adultos. O consenso da Sociedade Brasileira de Pediatria está embasado nas evidências científicas, e indica a vacinação para todos. A vacinação é segura e evita mortes em um contexto de pandemia”, explicou a epidemiologista.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora