Eleições 2022
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6 de outubro de 2022
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18:13

PT e PSOL reelegem todos os deputados federais candidatos e ampliam votação em 260 mil votos

Por
Luís Gomes
luisgomes@sul21.com.br
Fernanda Melchionna e Luciana Genro ampliaram votações expressivamente. Foto: Joana Berwanger/Su21
Fernanda Melchionna e Luciana Genro ampliaram votações expressivamente. Foto: Joana Berwanger/Su21

Após o primeiro turno das eleições de 2022, os olhares se voltam para as novidades. No caso dos deputados federais eleitos pelo Rio Grande do Sul, o principal fenômeno foi a votação do atual deputado estadual Tenente Coronel Zucco (Republicanos), eleito com 259 mil votos. Contudo, outro fenômeno eleitoral ocorreu neste pleito: o aumento expressivo das votações dos deputados federais de esquerda que concorreram à reeleição. Na comparação com 2018, somados, os deputados de PT e PSOL que buscavam a reeleição aumentaram as suas votações em 264.749 eleitores.

O campeão de crescimento foi Paulo Pimenta (PT), que fez 90.023 votos a mais do que em 2018. Fernanda Melchionna (PSOL) teve um salto quase igual, 85.548 a mais. O terceiro e quarto maiores saltos também foram do PT, com Maria do Rosário e Elvino Bohn Gass crescendo, respectivamente, 53.747 e 28.917 de uma eleição para a outra. O crescimento mais modesto entre os petistas que tentavam a reeleição foi de Dionilso Marcon, que fez 6.514 votos a mais em 2022.

O crescimento nesses patamares não foi verificado nos demais partidos. Entre os outros 22 deputados federais que tentaram a reeleição, apenas mais um fez 20 mil votos a mais do que em 2018: Alceu Moreira (MDB), que elevou a sua votação em 25.306 votos.

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“Normalmente, de fato, os candidatos fazem votações mais expressivas quando são novidade. É sempre muito mais difícil você ampliar a votação nas reeleições. Isso exige um trabalho muito maior e acaba sendo um voto que expressa um reconhecimento do trabalho realizado. Eu acho que o eleitor buscou nessa eleição candidaturas que têm posições claras sobre as coisas”, diz Paulo Pimenta.

Pimenta avalia que a sua votação em 2018 já havia sido expressiva e que não havia perdido muitos votos — fez 140.868 em 2014, contra 133.086 em 2018 –, mas ressalta que o aumento era, de fato, inesperado, uma vez que ele se tornou o deputado federal mais votado da história do PT no Rio Grande do Sul, superando os 213 mil votos que Paulo Paim fez em 1990. “Muita gente achava que essa marca nunca ia ser alcançada novamente”, diz.

Maria do Rosário, que antes de crescer 53 mil votos nesta eleição tinha perdido cerca de 30 mil votos entre 2014 e 2018, também avalia que o resultado é um reflexo da firmeza de posições dos atuais deputados ao longo de seus mandatos.

“Se tu enxergar os mais votados de um lado e de outro, são pessoas posicionadas nos seus campos políticos. Os primeiros de direita, do campo neoliberal ou do bolsonarismo. Mas todos os nossos apresentaram e também imprimiram conteúdo programático. Aqueles que se vocacionaram a uma posição mais folclórica e caricata na extrema-direita, essa postura foi derrotada. Acho que é uma lição da política gaúcha de que aquelas pessoas com opinião forte e firme foram mais bem votadas”, diz.

A respeito do “retorno dos votos” que havia pedido, Rosário acredita que isso também se deve a uma solidez programática e à continuidade de ideias defendidas por seu mandato. “Eu acho que o o período exige nitidez programática, firmeza no posicionamento. Isso não significa ser intransigente. Os parlamentares que melhor dialogam e também têm maior produtividade, eles fazem o seu trabalho sólido também. Agora, eu vejo que a mudança no quadro de representação política parlamentar com a cláusula de barreira, com a diminuição do número de partidos, tende a tornar os partidos mais programáticos. E acho que isso vai ser muito cobrado das pessoas que pensam que o muro é o melhor lugar. O muro não é um bom lugar na política, a política exige ter lado”, diz.

Presidente estadual do PSOL, Luciana Genro, que também cresceu em 37.261 votos a sua votação para deputada estadual, avalia que o aumento dela e de Fernanda tem a ver com as ideias que defenderam em seus mandatos. “Na eleição anterior, eu vinha de 8 anos fora de qualquer mandato. Então, estar em um mandato faz uma diferença importante, porque a gente consegue desenvolver laços mais amplos com diferentes segmentos da sociedade. Eu acho que eu consegui fazer isso de forma muito eficaz no que diz respeito à luta das mulheres, à luta LGBT, à luta do povo de religião de matriz africana, à luta da moradia, da educação, dos direitos humanos em geral. Então, eu fui uma porta voz aqui na Assembleia de diversas pautas, de diversas lutas da sociedade que ganharam repercussão com a minha intervenção política”, diz.

Por outro lado, destaca também outros dois elementos. O primeiro é o crescimento significativo do partido em Porto Alegre. “Nós tivemos 16% de todos os votos para deputado estadual na cidade, somando eu, o Matheus, a Karen e os demais candidatos, é um percentual bastante expressivo”, diz. Melchionna fez 91.749 votos somente em Porto Alegre.

Outro elemento que ela destaca é o crescimento da esquerda, uma vez que PT, PSOL e PCdoB (que não tinha feito deputados federais ou estaduais em 2018) cresceram simultaneamente. “A força da esquerda aumentou com a própria situação do Lula a nível nacional. O fato do PSOL estar junto com o Lula a nível nacional foi um acerto político importante, mas ao mesmo tempo estar se apresentando também com a sua cara própria, através dos seus parlamentares. Aqui no Rio Grande do Sul, nós tivemos um acordo que foi inédito a nível nacional, foi o melhor acordo que o PSOL obteve com o PT, tendo o vice na chapa do governador e mais a primeira suplência com o Olívio num mandato que seria coletivo, se fosse vitorioso. E também pontos programáticos importantes que o PSOL somou na plataforma do PT. Então, eu acredito que essa abertura do eleitorado tem a ver com isso, com uma situação nacional mais favorável do que a que a gente tinha em 2018 para a esquerda como um todo”, diz.

Pimenta pontua que, no seu caso, os eleitores já conheciam as suas principais posições, mas que é inegável a mudança de clima. “Quem vota em mim, sabe em quem está votando. Mas evidente que a mudança de humor das ruas é perceptível. Tudo aquilo que houve de perseguição contra a Dilma, contra o Lula, esse discurso perdeu muita credibilidade. A sociedade percebeu aquilo que a gente dizia, que os processos eram eivados de ilegalidades. O fato dos principais nomes da Lava Jato terem virado candidatos demonstrou que aquela ideia de que era uma ação suprapartidária, apartidária, que eles não estavam ali para fazer carreira, tudo aquilo era mentira. Tanto é que todos eles eram candidatos e mostraram sua face se vinculando ao bolsonarismo. Então, isso derrubou boa parte daquela tese de acusação contra o PT e contra nós”, avalia.

Bohn Gass ressalta que, no seu caso, suas votações têm aumentando a cada eleição, o que não configuraria um exemplo de votações que perdeu e recuperou. Por outro lado, o deputado também acredita que houve mais abertura para os políticos do campo na eleição atual. “O PT se reposicionou, a presidenta Dilma, essa farsa que foi feita contra ela foi comprovada. A prisão do Lula e o fato dele ser absolvido, as pessoas compreenderam, nós nos reposicionamos como partido, é o partido mais bem aceito na sociedade”, diz.

Diante dessas circunstâncias, ele avalia que o resultado dos deputados federais é um indicativo de que o o Rio Grande do Sul também poderá estar mais aberto ao ex-presidente Lula na disputa de segundo turno. “Nós vamos trabalhar para manter a liderança do Lula em nível nacional e reverter a situação no Rio Grande do Sul. Isso é perfeitamente possível porque agora vai ser um debate de tempos iguais. Os debates até agora foram uma armação, porque na outra vez inventaram uma facada, agora inventaram um padre para prejudicar e fazer a ideia de uma armação contra o Lula. Agora ele terá tempo igual. Agora é gotejar projeto de um contra o outro, então isso vai dar condições do Lula mostrar melhor o que ele já fez, e acabar com fakes que são construídos”, diz Bohn Gass.


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