A coordenação da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à presidência, se mostrou apreensiva com um eventual recrudescimento dos ataques pessoais a 15 dias do primeiro turno das eleições, marcado para 2 de outubro, e conclamou os eleitores a resolver a disputa no primeiro turno. A avaliação é de que a munição do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, está acabando, sem que a vantagem de Lula tenha sido revertida.
Reunidos durante a presença do candidato petista em Porto Alegre, para ato de campanha nesta sexta-feira (16), a presidente do PT, Gleisi Hofmann, e o coordenador da campanha de Lula, Aloízio Mercadante, recomendaram atenção redobrada na reta final da campanha. Hoffmann disse que é preciso fazer com que a eleição presidencial se resolva já no primeiro turno.
“Falta só um pouquinho para vencer no primeiro turno. Não podemos ir para casa e ficar só na alegria. Precisamos, repito, precisamos fazer com que a eleição se resolva no primeiro turno. Não temos como suportar mais um mês de ódio, ignorância e atraso. Em nome de nossos partidos”, conclamou.
O próprio Lula se mostrou incomodado com os ataques pessoais na reta final da campanha, que motivaram uma representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo multa e suspensão de um site com notícias falsas sobre o candidato. A página está registrada em nome da campanha de Bolsonaro, que o impulsionou com anúncios pagos.
“Só faltam 16 dias. Daqui para a frente, temos que ficar alertas com as mentiras do zap [WhatsApp]. Ficar alertas com as fake news, ficar alertas com as mensagens e não deixar passar nenhuma mentira. Aí a gente vai poder, no dia 2 de outubro, resolver o nosso problema com a história deste país”, disse Lula.
Nesta sexta-feira, um grupo de artistas e intelectuais, liderados pelo jurista francês William Bourdon, enviou um manifesto em defesa da democracia ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes. No documento, expressam preocupação com o processo eleitoral brasileiro. Os signatários destacam que é inaceitável que acusações falsas sejam utilizadas para atacá-lo.
Em contato com jornalistas antes do comício em Porto Alegre, Lula se mostrou incomodado com a proliferação de acusações falsas. “Eu sou o único culpado por ser inocente. Pela primeira vez na história do Brasil alguém é culpado por ser inocente. Eu fui absolvido em 26 processos, fui absolvido pela Suprema Corte [STF] e em dois processos na ONU. Agora, eu não posso permitir que gente como o atual presidente fale essas coisas”, afirmou.
Na entrevista, Lula subiu o tom contra Bolsonaro. Sem mencionar o nome do presidente, afirmou que o país precisa voltar à normalidade. “As pessoas têm que aprender a se respeitar, têm que aprender a conversar, têm que saber que a gente pode divergir de forma civilizada. Os milicianos que se apoderaram deste país criaram um clima insuportável. A ponto de agredirem jornalistas, ofenderem a Suprema Corte, e mais do que isso, pela primeira vez na história do Brasil, nós estamos vendo um presidente não cuidar do orçamento, que é a função dele. Virou refém do orçamento secreto. O país está como uma biruta de aeroporto: o presidente não governa porque não sabe e vive de contar mentiras”.
Mais tarde, no comício, Lula voltou a se referir ao que chamou de ofensas de Bolsonaro. “Ele agora está me ofendendo na televisão e me chamando de ladrão. Mas não fui eu que comprei 51 imóveis e paguei 26 milhões em dinheiro vivo. Não fui eu que fiz decreto de sigilo de cem anos pra proteger ministro e também os filhos. Mas ele pode saber que o Lulinha paz e amor aqui vai quebrar todo o sigilo dele porque nós queremos saber o que esse sujeito fez. No nosso tempo não tinha tapete pra jogar o lixo, qualquer coisa era apurada. Doesse a quem doesse. E é assim que vai ser. Porque a gente não quer esconder a safadeza de ninguém, muito menos a nossa própria safadeza”, discursou.
No discurso, de pouco mais de meia hora, Lula usou termos duros e definiu os eleitores de Bolsonaro como fanáticos, que às vezes “têm comportamento agressivo”. Por duas vezes se referiu ao presidente como “genocida”.
Lula chegou ao local do ato com mais de uma hora de atraso. Já eram 18h45 quando uma multidão ovacionou o ex-presidente ao som do jingle da campanha de 1989. Segundo os organizadores, 50 mil se concentraram no Centro Histórico da capital gaúcha para o comício.
A ex-presidente Dilma Rousseff foi uma das mais saudadas pelo público. Ela criticou a situação da educação no país e classificou os resultados do Ideb, divulgados nesta sexta-feira, como “horríveis”. E afagou os eleitores do PDT. “Nossa missão é ganhar essa eleição no primeiro turno. Tenho certeza que o Leonel Brizola [ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro] estaria sentado ali do lado do Lula neste comício. Ele não vacilou e apoiou Lula, estiveram juntos na campanha de 1989”, disse.
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