Política
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27 de maio de 2022
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16:28

Após abrir mão da Ceitec, governo Bolsonaro vê necessidade de produção de semicondutores

Por
Luís Gomes
luisgomes@sul21.com.br
 TCU suspendeu liquidação do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec) em setembro de 2021 | (Divulgação)
TCU suspendeu liquidação do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec) em setembro de 2021 | (Divulgação)

O governo federal vem defendendo publicamente, em diversas ocasiões, a necessidade do Brasil aumentar a produção nacional de chips e semicondutores para dar conta das necessidades tecnológicas, especialmente a adoção da tecnologia 5G de conexão de internet. O governo, contudo, vem frisando que está buscando parceiros privados para a iniciativa e mantém o processo de liquidação do Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), empresa estatal que é a única produtora de chips e semicondutores na América Latina.

Nesta quinta-feira, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, afirmou em conversa com empresários do setor de telecomunicações, em São Paulo, que o Brasil precisa investir em uma fábrica de semicondutores, segundo informou o jornal Estado de S. Paulo. “Estamos atrás de buscar uma empresa que possa abrir aqui uma fábrica de semicondutores. O Brasil pode exportar para Europa, África e toda a América Latina”, disse.

A fala recente do ministro repete o que ele mesmo já havia dito em evento promovido pelo Itamaraty no dia 27 de abril, em Brasília. Na ocasião, Faria destacou que o País só produz 10% do consumo brasileiro de semicondutores, mas a produção nacional não seria adequada para a tecnologia 5G de conexão de internet.

“Quanto menos nanômetro (unidade usada para medir as dimensões em microchip, equivalente a 1 bilionésimo de 1 metro), maior a inteligência. O menor chip que já conseguimos fabricar foi o de 180 nanômetros – para identificação de passaporte – enquanto um chip para 5G é de apenas 10 nanômetros”, disse.

De acordo com o ministro, 100% dos chips voltados para a quinta geração de dados móveis são fabricados atualmente na Ásia: 92% em Taiwan e 8% na Coreia do Sul. Ele ainda afirmou que o Brasil teria tudo para ser um grande produtor e exportador de semicondutores, uma vez que é o maior país da América Latina e o primeiro da região a implementar a tecnologia 5G. Contudo, defendeu que seria necessário “atrais parcerias internacionais” para o setor.

A reiterada defesa do setor pelo ministro Faria contrasta com a decisão do governo Bolsonaro de liquidar a Ceitec. Criada em 2008 e sediada em Porto Alegre, a Ceitec teve a liquidação decretada pelo presidente Bolsonaro em dezembro de 2020. Contudo, o processo foi suspenso em setembro do ano passado por uma decisão do Tribunal de Contas da União (TCU), que ainda aguarda para julgar em definitivo a matéria.

A suspensão foi baseada em voto do revisor da matéria, ministro Vital do Rêgo, que considerou frágeis as justificativas apresentadas pelo governo federal para fundamentar a desestatização da empresa. “Os motivos que conduziram à liquidação da Ceitec não se sustentam, carecendo de maior fundamentação, pois se apoiaram em análises que não ponderaram relevantes perdas e dispêndios de recursos públicos como consequências imediatas desta linha de ação”, disse Vital do Rêgo em seu voto.

Em novembro passado, Faria disse em entrevista à revista Veja que convidou o bilionário Elon Musk, proprietário da empresa Tesla e que está em negociações para a compra do Twitter, para montar uma fábrica de semicondutores no Brasil.

“Eu o convidei a abrir uma fábrica de semicondutores aqui. Ele me disse que não fazia parte do core business investir em uma fábrica de semicondutores, afinal, ele gosta de investir apenas em tecnologias que ainda não existem, mas reconheceu que precisa de semicondutores para tudo. Um carro da Tesla, por exemplo, precisa de 10 mil peças”, disse o ministro na ocasião.

Na semana passada, Musk esteve no Brasil para receber uma homenagem do governo brasileiro e anunciar um plano para levar internet para regiões remotas da Amazônia. Dessa vez, a fábrica de semicondutores não esteve entre os assuntos tratados pelo ministro com o empresário, ao menos entre aqueles que foram divulgados.


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