O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), admitiu, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, que telefonou para o chefe do Executivo de São Paulo, João Dória (PSDB), no dia 15 de janeiro deste ano, pedindo que ele retardasse o início da vacinação contra a covid-19 no Estado para não prejudicar o presidente Jair Bolsonaro. O telefonema de Eduardo Leite a Dória foi um pedido do ministro Luiz Eduardo Ramos, então secretário-geral do governo.
Ramos pediu a Leite para que tentasse convencer Dória a adiar o início da vacinação para ajustá-la com o calendário da vacinação nacional que vinha sendo protelado pelo governo Bolsonaro. O governador paulista não concordou com o pedido de seu colega gaúcho e lamentou que o mesmo se prestasse a esse serviço. Na entrevista, Leite disse que concordou com o pedido feito pelo general Ramos por julgar ser necessária uma coordenação nacional no processo de vacinação.
O telefonema de Leite a Dória contradiz a postura adotada pelo governador gaúcho nos meses seguintes em relação à “coordenação nacional” do governo Bolsonaro no enfrentamento da covid-19. No dia 1º de março, por exemplo, Leite criticou as declarações de Bolsonaro questionando as aplicações de recursos pelos governadores. “A intenção do presidente é causar confusão. Precisamos de vacina e não de conflito”, disse na época. Além disso, no mesmo período, Leite disse que Bolsonaro tinha “desprezo” pela população e que o comportamento do presidente na pandemia questionando as medidas sanitárias e a vacina estava causando a morte de pessoas. E acrescentou:
“Não tem como entender que o presidente da República não seja responsável por esse número de mortes no Brasil uma vez que gera confusão. (…) É desumano, é egoísta e é uma irresponsabilidade. Se a sua preocupação é a economia, ouça o seu ministro da Economia que diz que vacinar é o grande programa de recuperação econômica. A vacina é que vai parar o vírus. E se não podemos parar o vírus temos que parar as pessoas que carregam o vírus”.