Um brasileiro poderia ser condenado, pela primeira vez, por participar da Operação Condor, aliança entre as ditaduras sul-americanas nos anos 1970. Não no Brasil, mas na Itália. O coronel Átila Rohrsetzer, 91 anos, morreu antes do julgamento. Aposentado, ele vivia em um bairro rico de Florianópolis. Agora, o processo deverá ser extinto.
Era esse caso que vinha sendo julgado há anos na Itália, em processo aceito pela Justiça. São vários acusados de cometer crimes contra a humanidade, que são imprescritíveis pelo Direito internacional. No Brasil, a Lei da Anistia, de 1979, tem livrado agentes do Estado de prestar contas sobre crimes durante o período da ditadura.
Rohrsetzer comandava a Divisão Central de Informações (DCI), que antecedeu o DOI-Codi. O Ministério Público da Itália o acusou de envolvimento no caso Viñas, que fugia da ditadura argentina e desapareceu no Brasil. Seu corpo nunca foi encontrado.
Havia quatro brasileiros incluídos no processo, mas apenas Rohrsetzer ainda estava vivo. No início deste ano, o jornalista brasileiro Marcelo Godoy, de O Estado de S.Paulo, prestou depoimento à Justiça italiana. “O Átila fazia parte da cadeia hierárquica, da estrutura da repressão política daquele tempo, sendo que o órgão que ele comandava coordenava a repressão no Rio Grande do Sul”, afirmou ao jornal El País. Em 2014, Godoy lançou livro sobre a história do DOI-Codi paulista.
Em março, o juiz aposentado João Carlos Bona morreu em consequência da covid-19. Durante a ditadura, o então militante foi torturado por Átila Rohrsetzer, que segundo os relatos gostava de ouvir música clássica durante as sessões. A história de Bona – que depois se tornaria presidente de tribunal militar – foi retratada no filme Em Teu Nome…, de 2010.