Geral
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7 de setembro de 2022
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17:09

‘Brasil, 200 anos de (in)dependência. Para quem?’: Veja como foi o Grito dos Excluídos na Capital

Por
Duda Romagna
mariaeduarda@sul21.com.br
Na marca dos 200 anos do Brasil independente, a bandeira foi representada suja de sangue. Foto: Luiza Castro/Sul21
Na marca dos 200 anos do Brasil independente, a bandeira foi representada suja de sangue. Foto: Luiza Castro/Sul21

Nesta quarta-feira (7), dia que marca os 200 anos da independência do Brasil, organizações da sociedade civil, movimentos sociais, pastorais sociais e comunidades se juntaram na marcha “Grito dos Excluídos”, em Porto Alegre. A concentração teve início às 9h, em frente à Igreja São José do Murialdo, com o lema “Brasil, 200 anos de (in)dependência. Para quem?”, e buscou chamar atenção também para a luta contra o racismo e pelos direitos à saúde, à educação, à alimentação, à terra e à água.

O roteiro da caminhada se concentrou no bairro Partenon para valorizar a luta desta comunidade situada na zona leste de Porto Alegre. Desde 2019, a proposta tem sido dar destaque às lutas das periferias.

Ainda na concentração, aconteceu a manifestação de grupos indígenas pela seguridade dos direitos de seus territórios. Moisés da Silva, liderança da etnia Kaingang na Lomba do Pinheiro, esteve presente na marcha junto à comunidade da Escola Estadual Fag Nhin. “Nesse momento, a nossa bandeira é a bandeira da paz em primeiro lugar. A vinda de outro governo trará uma esperança para nós, povos indígenas, dos territórios indígenas e também para a nação brasileira.”

Como ato antirracista, a marcha fez uma intervenção em frente a um supermercado da rede Carrefour, liderada pelo movimento Levante Popular da Juventude. Em 2020, João Alberto Freitas, um homem negro, foi assassinado por seguranças em outra unidade da rede em Porto Alegre. Victor Lisboa da Silva, integrante do grupo, manifestou a importância da presença da juventude em um ato dessa proporção.

“Junto com os trabalhadores, nós, a juventude que é protagonista, a maior parte da população dentre os trabalhadores, trabalhamos de Uber ou de tele-entrega de bicicleta. A gente sabe quão mais difícil ficou ultimamente, nesse último período de 2018 para cá. A nossa juventude começou a sofrer, passar fome. Aumentou muito mais a violência dentro das periferias, com a nossa juventude da vila que tenta sair para trabalhar, mas ainda tem medo. A gente vem construir nesse ato pra dizer que a nossa juventude também tem voz, a juventude está com fome, a juventude quer trabalhar, a juventude quer cultura, a juventude que é amar. Esse ato é maravilhoso, é grande, porque ele tá dando voz para nós, a juventude.”

O Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) e o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) levantaram as bandeiras de habitação popular e dos direitos básicos de trabalho e alimentação. “Nós somos esse povo que neste período está excluído de todos os seus direitos que, com muita luta, foram conquistados, especialmente em relação à moradia. A gente hoje vive um momento muito tenso dentro da pauta da luta pela moradia com a falta de políticas públicas de habitação popular e também com ameaças de despejo”, destacou Ceniriani Vargas, representante do MNLM.

Ainda, pelo caráter ecumênico da marcha, representantes de entidades religiosas também estiveram presentes. Ivan Carlos Pereira, membro do coletivo LGBT+ Anglicanxs+, parte da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), reforçou que existem grupos religiosos que acolhem e estão juntos na luta das minorias. “A igreja se abriu para a inclusão, as pessoas podem participar plenamente da igreja do jeito que são e as pessoas LGBT são as que mais estão ajudando a igreja, que estão curando as igrejas da homofobia”, observou.

O ato se encerrou com o “grito contra fome” e um ato inter-religioso na Praça Francisco Alves, com a distribuição de arroz orgânico produzido pelo MST.

O Grito

O Grito dos Excluídos e das Excluídas ocorre em todo o Brasil desde 1995. A ideia surgiu durante a 2ª Semana Social Brasileira (1993/1994), a partir de uma reflexão sobre o Brasil, as alternativas possíveis e seus protagonistas. De acordo com os organizadores, mais do que uma articulação, o Grito é um processo, uma manifestação popular simbólica que integra pessoas, grupos, entidades, igrejas e movimentos sociais comprometidos com as causas dos excluídos e excluídas.

Durante muitos anos, a caminhada foi realizada na sequência do desfile militar do dia 7 de setembro. Desde 2019, o comitê de organização do Grito na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) decidiu fazer o ato pelas cidades da região, sobretudo nas periferias, como uma forma de valorização das comunidades e suas lutas. Naquele ano, a marcha foi realizada em Canoas, junto às comemorações dos 40 anos de existência da Vila Santo Operário, que marcou a luta pelo direito à terra em território urbano.

Em 2020, no cenário de pandemia que assolou o país, o Grito foi virtual, e em 2021, quando voltou a ser realizado presencialmente, voltou para Porto Alegre, sendo realizado embaixo do viaduto Dona Leopoldina.

Confira mais imagens do Grito dos Excluídos:

Foto: Luiza Castro/Sul21
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Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
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