Geral
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19 de junho de 2022
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09:12

Programa ‘Nenhuma Casa Sem Banheiro’ conclui 1ª etapa de visitas técnicas em Canoas

Por
Luís Gomes
luisgomes@sul21.com.br
Arquitetos do CAU/RS realizam visita aos moradores do bairro Guajuviras contemplados no programa Nenhuma Casa Sem Banheiro | Foto: Luiza Castro/Sul21
Arquitetos do CAU/RS realizam visita aos moradores do bairro Guajuviras contemplados no programa Nenhuma Casa Sem Banheiro | Foto: Luiza Castro/Sul21

O Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU/RS) concluiu na primeira quinzena de junho as visitas técnicas nas residências das primeiras 180 famílias de Canoas que serão beneficiadas pelo projeto Nenhuma Casa Sem Banheiro, programa realizado em parceria com a prefeitura da cidade e com recursos do governo estadual.

O Nenhuma Casa Sem Banheiro é um projeto que o CAU/RS vem implementando na Região Metropolitana de Porto Alegre em parceria com a Secretaria de Obras e Habitação (SOP) do Estado. Em dezembro passado, foi firmada uma parceria com a Prefeitura de Canoas com o objetivo de beneficiar 359 famílias que moram em residências sem banheiro ou com instalações precárias.

O projeto foi dividido em duas partes, com a primeira etapa voltada para atender 180 famílias dos bairros Guajuviras e Niterói, e a segunda 179 famílias dos bairros Mathias Velho, Harmonia, Mato Grande, Fátima e Rio Branco. Contudo, algumas famílias do bairro Rio Branco já foram incluídas nesta primeira etapa.

É o caso de Zaida Machado dos Santos, 73 anos, que mora há 30 anos em uma casa com banheiro improvisado. “No começo, ele era direitinho, mas agora tem muita goteira, muita coisa ali assim”, diz.

Atualmente, o banheiro da família fica fora da casa e o fluxo de água quente é infrequente. “Tem um chuveirinho, uma duchinha quente que, de vez em quando, a gente está se esfregando e ela esfria”.

 

Implementação do projeto inicia com visitas às casas das famílias beneficiadas | Foto: Luiza Castro/Sul21

Morando atualmente com um filho, Zaida diz que sempre pensou em construir um banheiro em condições adequadas, mas nunca conseguiu juntar dinheiro. “E agora piorou”, diz. “Esse novo banheiro vai ter o necessário pra gente tomar um banho quente, vai ter uma pia para lavar o rosto e as mãos. Hoje, no verão a gente se lava no tanque. No inverno, é na bacia”, complementa.

A implementação do programa iniciou com a indicação por parte de agentes comunitários da Prefeitura de Canoas de famílias que tinham a necessidade de construção de um novo banheiro. Posteriormente, um técnico da secretária municipal de Habitação visitou as famílias indicadas para verificar se elas realmente se enquadravam nas regras do programa. Já a terceira etapa foi a visita às residências por arquitetos do CAU/RS para medição dos terrenos e identificação do espaço que melhor se enquadraria o novo banheiro.

Thabata Cardoso, arquiteta do programa, explica que a visita é destinada para ver onde é possível adequar a construção de um novo banheiro no imóvel, conforme a vontade da família beneficiada. “A ideia não é só dar um banheiro, mas também dar aquilo como elas gostariam que fosse, se fosse elas que estivessem construindo. E esse é o trabalho do arquiteto, dar para a pessoa que está ali o sonho dela. Então a gente veio fazer esses levantamentos, ver as condições de como a gente conseguiria adaptar esse banheiro dentro da realidade de cada casa”, diz.

Supervisora do programa pelo CAU/RS, Josiane Scotton destaca que, nesta primeira etapa, foram visitadas casas em situações bastantes diversas. “Desde apenas a ausência do banheiro até toda a casa em si com diversas questões. Tem sido interessante que a gente está visitando essas residências no começo do inverno, então a gente começa a ver a condição dos ambientes em regiões às vezes alagadiças, com questões de umidade, sem mesmo instalação de água, o banheiro sem um esgotamento sanitário adequado. Então, a gente acaba que fica pensando principalmente nessa condição de inverno, de frio, todas as dificuldades que as pessoas passam”.

Lidar com o frio foi justamente um dos problemas apontados por Avelina José dos Santos, 52 anos, durante a visita à sua casa, também no bairro Rio Branco. Avelina morava em uma casa de madeira com duas peças e um banheiro, ainda que em condições precárias, anexo. Contudo, a residência foi danificada por uma chuva de granizo e ficou inabitável, a obrigando a se mudar para uma casa de alvenaria que estava construindo no mesmo terreno. Hoje, a casa permanece inacabada, com piso à mostra, mas o banheiro fica ao lado da antiga casa de madeira, exigindo que, toda vez que toma banho, ela percorra um bom trecho sem proteção do sol ou da chuva. “A gente toma o banho e depois já sai na friagem, daí fica ruim. E ali é tudo esburacado. Às vezes, a gente tá tomando banho e aparece minhoca e outras coisas”, diz.

 

Foto: Luiza Castro/Sul21

Presidente do CAU/RS, Tiago Holzmann diz que a ideia do projeto é levar o trabalho de arquitetos para melhorar a vida das famílias que vivem em condições inadequadas.

“Um projeto que a gente considera, por um lado, muito ousado e, por outro, que parece ser tão singelo, algo tão básico para muitos de nós, enquanto que uma parte importante da população não tem nem esse básico. Essa foi uma ficha que caiu quando nós estávamos desenhando o projeto, nós estamos no ano 2022 e uma parte grande da nossa população não tem acesso ainda a tecnologias que os romanos já resolveram há mais de 2 mil anos, que é o básico do acesso à água e ao saneamento”, afirma.

Após a visita, os arquitetos têm um prazo de 30 dias para elaborar a planta individual de cada banheiro e encaminhar para a prefeitura de Canoas, que tem mais 10 dias para aprovar. Concluído esse processo com os 180 projetos da primeira fase, será feita uma licitação para a contratação da empresa que será responsável pelas obras. A previsão da Prefeitura é começar a construção dos banheiros até o final de 2022.

Holzmann avalia que, uma vez entregue o novo banheiro, a vida de cada família beneficiada passará por uma transformação. “Poder tomar um banho para ir procurar emprego, pra ir pra aula, pra ir trabalhar, nos parece fundamental levar essa possibilidade para todas as casas, sem falar das questões também ligadas à saúde, vetores de doença e outros”, afirma.


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