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10 de junho de 2020
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18:24

Cpers lança campanha por pagamento de dias descontados e pede diálogo ao governo Leite

Por
Luís Gomes
luisgomes@sul21.com.br
Representantes do Cpers participam de ato diante do Palácio Piratini | Foto: Caco Argemi/Divulgação

Luís Eduardo Gomes

Representantes do Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers) participaram na manhã desta quarta-feira (10) de um ato diante do Palácio Piratini para marcar o lançamento da campanha “Governador, Escute Quem Educa. Devolva nossos salários já!”, que cobra que o governador Eduardo Leite (PSDB) dialogue com a categoria.  “A nossa campanha é justamente para ver se abrem um canal de diálogo. Inexiste qualquer diálogo com o governo nos dias de hoje”, diz a presidente do sindicato, Helenir Aguiar Schürer. A campanha também contou com uma ação nas redes sociais, por meio da hashtag #LeiteCaloteiro.

A principal pauta do ato é a cobrança pelo pagamento dos dias parados na greve de 2019, que já foram recuperados pelos professores, mas que seguem sendo descontados pelo governo. “Nós julgamos que foi uma coisa ilegal, já que nós recuperamos todos os dias e o próprio governo confirma que o ano de 2019 foi encerrado. Então, nós achamos injusta essa penalização do governo e estamos insistindo para que nos recebem e nos discutirmos”, diz a presidente do Cpers, destacando ainda que a questão também está sendo debatida na Justiça.

O Cpers aponta que 27 mil trabalhadores da educação estadual tiveram algum desconto por terem participado da greve, com o valor variando de acordo com os dias de participação na paralisação. Contudo, destaca que ainda há servidores que continuarão sofrendo descontos até o mês de junho — o salário de abril dos servidores foi quitado nesta terça-feira (9).

“Com a pandemia, muitos tiveram alguém da família que perdeu emprego ou que tinha uma função que teve que parar agora, então os professores e funcionários estão passando por uma difícil crise financeira e muitos, inclusive por essa questão, não estão conseguindo fazer o empréstimo bancário do seu salário [operação que permite aos servidores minimizar o impacto dos parcelamentos], o que torna mais vulnerável ainda a nossa categoria”, diz.

Professores cobram o pagamento dos dias descontado e já recuperados | Foto: Caco Argemi/Divulgação

Além do pagamento dos dias descontados, o Cpers também cobra do governo diálogo sobre as mudanças no pagamento do adicional de difícil acesso e nas discussões sobre o retorno das aulas presenciais em meio à pandemia. A respeito do adicional, Helenir destaca que o sindicato sempre participou de comissões que discutiram o tema e que, no governo Leite, é a primeira vez que o Cpers não é consultado.

“Nós tivemos professores e funcionários que perderam quase 70% do que recebiam no seu salário. Em muitas escolas que recebiam 100% [de adicional de difícil acesso], ficou zero o difícil acesso”, diz.

Helenir também pontua que as mudanças nos adicionais, que acompanharam as alterações no plano de carreira do magistério, também eliminaram a bonificação paga a educadores que atuam em escolas localizadas em regiões com elevados indicadores de violência.

“A periculosidade deixou de existir e o governo botou no lugar [como indicador] o Bolsa Família, o que nós achamos que é um preconceito. Não podemos comparar quem recebe Bolsa Família com marginais. O problema físico que vivíamos da insegurança em algumas escolas não foi contemplado dentro dos critérios. Nós temos escolas que têm muito assalto nos arredores e na própria escola muitas vezes o tráfico comanda e não temos nenhuma bonificação para encarar esses perigos”, diz.

Sobre a volta às aulas, Helenir avalia que o governo está muito focado “nas coisas” e pouco nas pessoas. “O governo está pensando na higienização, nas carteiras, nas cadeiras, nos escritórios, nos banheiros, mas eu não vejo nenhuma preocupação com as crianças e com os adolescentes. Veja bem, o governo tinha proposto que as crianças de 0 a 3 anos voltassem em 1º de junho e, na nossa visão, estas deveriam ser as últimas, porque é impossível manter o distanciamento com essas crianças. Assim como os nossos pequenos, tu ter 30 ou 25 alunos numa sala de aula com idade de 7 anos, que não podem se aproximar da professora, nem dos coleguinhas, nós achamos totalmente inviável enquanto o pico do coronavírus não estiver numa curva decrescente muito forte, o que não está acontecendo neste momento”, diz. “Vocês imaginem uma criança, depois de todos esses dias fora da escola, a primeira coisa que vai querer fazer é abraçar a professora e seus coleguinhas. Como conter isso sem, inclusive, causar traumas psicológicos de rejeição? Isto parece que ninguém está pensando”, complementa.

Para Helenir, não haveria condições de retornar às aulas presenciais sem uma política expressiva de testes em massa de estudantes e professores.

Os representantes o Cpers não foram recebidos pelo governo.

Representantes do Cpers participam de ato diante do Palácio Piratini | Foto: Caco Argemi/Divulgação

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