Não foi por acaso que o Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers) escolheu o dia 1º de abril, o Dia da Mentira, para realizar a Assembleia Geral da categoria, nessa sexta-feira, em Porto Alegre. Provavelmente não estava no plano que a data coincidisse com o dia seguinte à renúncia de Eduardo Leite (PSDB) do cargo de governador do Estado para tentar viabilizar sua candidatura à Presidência da República, mas até isso colaborou para o ato.
O agora ex-governador foi, junto com o presidente Jair Bolsonaro (PL), o principal alvo das críticas dos professores estaduais reunidos em frente ao colégio Júlio de Castilhos, o Julinho. O ponto central de insatisfação, ou “mentira”, como diz o Cpers, se refere ao reajuste de 32% concedido por Leite aos professores. Segundo o sindicato, somente 14% dos educadores do Estado receberam 30% ou mais de reajuste salarial.
“O Dia da Mentira foi escolhido para caracterizar um governo que mentiu pra população quando disse que deu 32% de aumento para todos os professores, o que não é verdade. Somente 14% receberam mais de 30%, a maioria ficou entre 5% e 10%”, afirmou Helenir Aguiar Schürer, professora aposentada da rede estadual e atual presidente do Cpers-Sindicato.
Outro ponto criticado é o discurso de Leite sobre a distribuição de verba para arrumar a estrutura das escolas estaduais. De acordo com a presidente do Cpers, entre o discurso e a prática, houve muita distância. “Isso não aconteceu, nós andamos numa caravana e isso não aconteceu. Essa questão é importante para nós.”
Durante o ato, a categoria também enfatizou a situação da merenda escolar dos alunos da rede pública estadual. Leite tem destacado o aumento de 186% no valor da merenda, porém, o Cpers argumenta que o ex-governador não costuma dizer que o valor passou de R$ 0,33 para R$ 0,80.
“Eduardo Leite mente e mente muito. Não deixará saudades, é página virada”, analisa Helenir.
A crise do Ipe-Saúde e a implantação do Novo Ensino Médio foram outros pontos debatidos pelos professores durante a Assembleia Geral. Há o receio na categoria de que o governo estadual aumente o percentual descontado do Ipe-Saúde.
Ao final, os educadores aprovaram um conjunto de propostas de mobilização. Entre os principais pontos está a intensificação da reivindicação por reposição salarial de 33,24% para todos os funcionários, professores e aposentados, a revogação do Novo Ensino Médio, e a defesa do Ipe-Saúde público e de qualidade, “ressaltando a responsabilidade dos governos Leite e Sartori, na crise da autarquia”.
Os professores também pretendem exigir a realização imediata de concurso para o magistério, já aprovado pela Assembleia Legislativa, e a realização de concurso para funcionários de escolas e especialistas, assim como a assinatura de uma carta compromisso dos candidatos ao governo do estado, com as pautas da categoria.