A Secretaria Estadual de Educação (Seduc) do Rio Grande do Sul começou a aplicar no último dia 24 de maio a avaliação diagnóstica “Avaliar é Tri RS” em todas as 24 mil escolas da rede estadual de ensino. As provas, que serão empregadas de forma escalonada até o dia 11 de junho para alunos do Ensino Médio, têm o objetivo de identificar os ganhos e as perdas de aprendizagem ocorridas na educação como consequência da pandemia. Contudo, professores denunciam que a prova que está sendo aplicada no Rio Grande do Sul é idêntica a usada em avaliação de Minas Gerais e já está disponível na íntegra na internet.
A prova foi elaborada pelo Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/UFJF), trazendo questões nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática. Segundo explicou a secretária estadual da Educação, Raquel Teixeira, na apresentação do programa, a ideia é que os professores utilizem os resultados para reforçar a recuperação de conteúdos em 2021.
“A iniciativa, realizada ao lado das Coordenadorias Regionais de Educação (CREs) e equipes diretivas das instituições de ensino, permitirá discutir as melhores ações para resgatar as aprendizagens que foram prejudicadas pelo longo período sem aulas presenciais”, disse a secretária.
Contudo, Felipe Augusto Kopp, professor de uma escola estadual da cidade de Santa Cruz do Sul, onde a avaliação foi aplicada na semana passada, diz que provas idênticas às aplicadas na escola já haviam sido empregadas em outros locais. Além disso, relata que a situação também foi observadas em escolas de outras cidades do Estado.
“O que acontece é que essas provas estão disponíveis na internet, porque elas foram aplicadas exatamente iguais em outro Estado. Tem uma prova em Minas Gerais que é exatamente a mesma prova, não muda nem a ordem das questões. A prova está disponível na internet e o gabarito também”, diz.
Na imagem abaixo, é possível ver a primeira página da prova aplicada pela Secretaria de Educação de Minas Gerais, como parte da avaliação diagnóstica de 2021, aos alunos do 2º ano do Ensino Médio. A íntegra da prova está disponível aqui.
A seguir, a primeira página da prova aplicada para alunos do 2º ano do Ensino Médio em Santa Cruz do Sul, conforme foto feita pelo professor Felipe Kopp.
A página seguinte da prova da Avaliar é Tri, ver abaixo, também é idêntica à disponível na internet.
Kopp explica que, no caso de sua escola, houve uma convocação de todos os alunos para a realização da avaliação, incluindo aqueles que optaram por permanecer no ensino remoto após a retomada das aulas presenciais. Em razão disso, ele diz que a escola decidiu separar os alunos em dois grupos, para que pudessem fazer as provas em dias distintos. “Os alunos do primeiro dia compartilharam informações com os colegas, que encontraram o gabarito dessas provas na internet. Então, agora os estudantes estão fazendo a prova com o gabarito pronto”, diz. “É um negócio absurdo”.
O professor diz que os próprios alunos compartilharam com os professores que acharam as respostas na internet. “Alguns alunos, claro, fizeram a prova certinho, mas como é que tu vai usar os dados sabendo que parte dos alunos fizeram a prova com a respostas”, diz. “Imagina se é um concurso que usou questões que já estão na internet, seria invalidado”.
Ele explica que as respostas podem ser encontradas na internet quando se posta o enunciado das questões em ferramentas de busca. Na imagem abaixo, da prova aplicada na escola Santa Cruz, o enunciado de uma das questões diz: “Para a apresentação de um trabalho da escola, Aline precisa construir uma pirâmide de papelão, como a da figura abaixo”.
A resposta dessa questão pode ser encontrada na página Brainly. As questões também podem ser encontradas em outros sites, como o “Blog do Prof. Warles”, que atribui as questões à Secretaria de Educação de Goiás.
Kopp destaca ainda que as escolas receberam uma verba extraordinária para a impressão da prova. “É um desperdício de dinheiro, porque a prova não vai avaliar nada, os estudantes estão chegando com as respostas”, critica.
A reportagem do Sul21 encaminhou à Seduc as imagens feitas pelo professor e os links onde as provas idênticas estavam disponíveis. Em resposta, a Seduc diz que a avaliação segue ocorrendo normalmente para os alunos do RS. Quando perguntada se a prova não perderia validade por estar disponível online, respondeu: “A Seduc esclarece que o Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (Caed) da Universidade Federal de Juiz de Fora é nacionalmente reconhecido como referência em avaliações educacionais. O sistema permite a identificação de casos pontuais de resultados considerados incompatíveis em relação ao contexto dos participantes. Estes dados não serão considerados no diagnóstico final e não comprometerão os resultados”.
A Seduc disse ainda que a contratação da Caed para a elaboração da prova foi feita por meio de um acordo de cooperação e não teve custos para o Estado.