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13 de junho de 2018
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10:30

Com orla prestes a ser inaugurada, reforma da Usina do Gasômetro deve levar mais de um ano para conclusão

Por
Sul 21
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Com orla prestes a ser inaugurada, reforma da Usina do Gasômetro deve levar mais de um ano para conclusão
Com orla prestes a ser inaugurada, reforma da Usina do Gasômetro deve levar mais de um ano para conclusão
Entrega do novo atracadouro construído junto à Usina do Gasômetro | Fotos: Joana Berwanger/Sul21

Fernanda Canofre

Enquanto a orla do Guaíba, um dos principais cartões postais de Porto Alegre, está às vésperas de ser aberta ao público, a Usina do Gasômetro, um dos pontos de referência dela, ainda deve demorar para abrir as portas outra vez. Fechada desde o ano passado para reforma, o prédio da Usina ainda deve enfrentar mais quatro meses até a licitação e pelo menos um ano de trabalhos, antes de voltar ao funcionamento normal.

Essas são as previsões feitas pelo diretor da Usina do Gasômetro, Luiz Armando Capra Filho, em entrevista exclusiva ao Sul21. Ele explica que a fase atual, chamada de “projeto básico”, deve levar ainda entre 30 e 40 dias para ser concluída. Só depois dela é que começam a transcorrer os 90 dias até se definir o vencedor da licitação que deverá assumir os trabalhos nos quase 15 mil metros quadrados de escopo do prédio.

Capra afirma que a condução do projeto está dentro do que era projetado pela prefeitura. O início das obras teria sido atrasado porque o projeto precisou passar por readequações, diante do que era proposto pelo governo anterior, de José Fortunati (PSB), porque “não cabia dentro da realidade financeira”. A obra total tem orçamento fixo de US$ 3 milhões, dinheiro via Confederação Andina de Fomento (CAF), que já está disponibilizado para a prefeitura. Ele é parte de um pacote global que incluiu ainda as obras da Orla do Rio Guaíba e o quadrilátero da Rua dos Andradas.

“Por uma questão de responsabilidade administrativa, a gente teve que segurar esse projeto, voltar para a prancheta, estabelecer prioridades, no sentido de definir o que competia a essa obra dentro do orçamento que a gente dispõe”, diz Capra.

Entre as mudanças previstas no projeto anterior que tiveram de ser suprimidas está a construção de uma coluna de bateria de elevadores e banheiros novos, que iria do térreo ao último pavimento. Para evitar ultrapassar o orçamento, mesmo beneficiado com a alta do dólar, o diretor afirma que a reforma deverá focar em melhorias na estrutura já existente.

“O primeiro fator [para fazer essa reforma] foi a oportunidade do financiamento, porque o prédio já está beirando o centenário, é um prédio de arquitetura industrial do início do século XX, sofre muito assédio do tempo na lateral do rio e precisava dessa atenção. A segunda questão é a abertura efetiva do Teatro Elis Regina, que é a prioridade do secretário [Luciano Alabarse], como eixo de virada da Usina”, salienta.

O Teatro chegou a operar por algum tempo, abrigando inclusive a Ospa, porém, com a implantação da Lei Kiss precisou ser fechado por falta de adequações. O espaço não deve sofrer maiores alterações, apenas adaptações para melhorar acessibilidade e o PPCI. Outra prioridade da obra deve ser a recuperação da laje do quarto andar, a área do terraço da Usina. Na época em que funcionava como indústria, a Usina tinha um lanternim, para fazer a iluminação da região. Para garantir que as pessoas possam visitar o espaço com segurança, nessa nova fase, o maior número de alterações do prédio deve acontecer ali.

“Agora, a partir do momento que termina o projeto básico começa a fase do projeto executivo. Eles têm que fazer o projeto instalação elétrica, projeto hidrossanitário, PPCI (Plano de Prevenção Contra Incêndio), todo o detalhamento do projeto arquitetônico. A partir da definição do projeto arquitetônico, vem essa fase de detalhamento”, diz Eduardo Hahn, coordenador de memória da Secretaria de Cultura. O que for levantado nesta fase será inserido nas prerrogativas do edital.

Usina só se tornou um espaço cultural em 1991. Fotos: Joana Berwanger/Sul21

Projeto tem consultoria de instituto para PPPs

O projeto também vem sendo acompanhado pelo Instituto Odeon, do Rio de Janeiro, responsável por prestar consultoria para o governo de Pernambuco, o Theatro Municipal de São Paulo e o Museu de Arte do Rio. Capra diz que “a premissa do projeto é sua sustentabilidade”, ou seja, como ele se sustentará depois de entregue a reforma. O Instituto e a Secretaria de Parcerias Estratégicas vêm desenvolvendo estudos para encontrar esses modelos.

“Por exemplo, um restaurante no quarto andar. Ficou evidenciado que a gente precisava de um espaço que desse vazão àquela vista maravilhosa e que tivesse acesso popular e algum atrativo, café, bar. A proposta do Instituto Odeon é um olhar que está lá no futuro, na operação da Usina quando ela reabre e fica nos dando indicativos do que a gente tem que ter nessa obra”, explica ainda o diretor.

Ele não soube dizer o valor do contrato com o Instituto. A reportagem tentou contato com os responsáveis pelo contrato da Usina com a CAF, mas o número não estava disponível.

Além das readequações no projeto, a desmobilização dos grupos que ocupavam espaços na Usina e de setores da própria Secretaria Municipal de Cultura (SMC) que estavam instalados lá, também tomou tempo. A busca por novos espaços para alocar servidores, por exemplo, teria levado 11 meses, segundo Capra. A estrutura da secretaria não deve voltar ao local, depois da reforma, já a situação dos grupos ainda pode ser discutida. O projeto também prevê a manutenção das salas multiuso.

A Banda municipal, que costumava ensaiar no Gasômetro, conseguiu uma casa própria na Rua da República. Já os grupos de teatro foram instalados no novo Centro Cultural Caio F., instalado na rua Santa Terezinha, no bairro Santana, que abrigava uma cooperativa para pessoas com deficiência, a Coopersocial, há 22 anos. O Sul21 reportou sobre a situação em agosto do ano passado.

A história da Usina

Apesar do nome, a Usina do Gasômetro nunca produziu gás. Construída em 1926, ela sempre funcionou como usina termelétrica da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE). O nome veio por causa da sua localização, na mesma volta onde se encontrava a antiga Usina do Gás (nas imediações da atual Praça do Aeromóvel).

Depois que deixou de funcionar, nos anos 1970, o prédio ficou sem uso e chegou a ser ameaçado de demolição, até ser tombado como Patrimônio Histórico e Cultural do Estado e da cidade de Porto Alegre. A primeira reforma, impulsionada pela sociedade civil, começou nesta época e durou até 1989. O uso da Usina como espaço cultural, porém, só viria a acontecer em 1991.

Hoje, o prédio ainda pertence à Eletrobrás, segundo Capra, mas está cedido ao município.


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