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28 de maio de 2018
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16:19

Com filas que se estendem por quilômetros, postos começam a vender gasolina em Porto Alegre

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br
A fila se estendeu da avenida Farrapos até as quadras mais próximas da avenida São Pedro. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Giovana Fleck

Desde as 20h de domingo (27), Ivonete da Rosa ainda não conseguiu ir para casa. “Eu vou e volto do supermercado pra comprar mais pão e frios.” Com uma cesta de sanduíches e uma garrafa térmica de café, ela é quem tem abastecido as pessoas que chegam a esperar seis horas para conseguir gasolina em um posto na esquina da Av. Farrapos com a rua Ramiro Barcelos. “E não diminui, só aumenta”, afirma.

Desde que a escolta de caminhões de combustíveis foi autorizada pelo governo do Estado no domingo, Porto Alegre recebeu oito carregamentos. A prioridade foi dada para o abastecimento de ambulâncias da SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e outros veículos também vinculados à saúde. Além disso, viaturas da Brigada Militar também tiveram preferência.

Ivonete da Rosa, vendendo sanduíches para os motoristas da fila. Foto: Giovana Fleck/Sul21

No posto entre a Farrapos e a Ramiro, no final da manhã da segunda-feira (28), alguns brigadianos aguardavam outros oficiais para realizar o abastecimento. “Este é um dos postos conveniados com a Brigada”, explica o soldado Rafael Rocha. “Ambulâncias e carros da Susepe (Superintendência dos Serviços Penitenciários) também abasteceram aqui”, conta.

Segundo Clever Ávila, gerente do estabelecimento, o posto recebeu cerca de 20 mil litros – o que não deve durar até a terça-feira (29). “Não temos mais previsão de entrega. Por isso, limitamos a compra a R$ 100 por tanque”, esclarece. Ele ficou sabendo da entrega através de sua distribuidora, por uma ligação telefônica. “O movimento não diminuiu desde que abrimos de novo.”

Do outro lado das bombas, um cordão improvisado com cones e fitas de segurança limitava a área de espera ocupada por centenas de motoristas de veículos comuns que também aguardavam sua vez de abastecer em uma fila que se estendia até a Av. São Pedro. Fátima Guterres conversou com a reportagem por volta das 11h da manhã. Ela aguardava desde às 7h45 e ainda estava a algumas dezenas de carros de distância da sua vez. “Vou ficar o quanto for preciso. Preciso trabalhar.” Ela é proprietária de uma empresa que entrega pães caseiros pela cidade. “Se eu conseguir trabalhar até metade da semana já está bom.” Ela está praticamente sem gás e com pouco estoque de farinha e outros insumos. “Talvez quarta ou quinta-feira a gente tenha que fechar as portas e esperar o país voltar ao normal.”

Motoristas relataram espera de até seis horas. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Ana Cristina Silva conseguiu abastecer, após 3h30 na fila. “Estava quase entrando na reserva”, diz, sorrindo e em tom vitorioso. Ela mora em Canoas, mas disse ter vindo “de mala e cuia” para ficar na casa de uma amiga com a filha durante a semana e evitar as viagens diárias. “Gasto um tanque e meio por semana morando em Canoas. Estando aqui e abastecendo R$ 100 eu sei que consigo trabalhar e pegar a filha no colégio essa semana.” Ela diz que reconhece um efeito de pânico generalizado entre as pessoas. “Mas alguma coisa tem que ser feita”, completa. “A turminha de hoje ganhou tudo de mão beijada. Na década de 1980, início de 90, a gente tinha que ter uma despensa para armazenar comida. Meu pai comprava 10kg, 20kg de arroz e feijão na época da Ditadura Militar. Se estocava, era normal. Mas hoje, vejo gente defendendo a volta desse tempo. A nossa liberdade vale ouro. Essa greve tem que acontecer, é legítima. Mas que se mantenham as razões legítimas.”

Descendo a avenida Farrapos, outro posto estava completamente fechado. “Não recebemos gasolina desde quinta-feira (24)”, diz o frentista Jones Silva. O estabelecimento seguinte vendia apenas GNV (Gás Natural Veicular) para cerca de 15 veículos adaptados. “Temos previsão de receber combustível amanhã (29), mas só gasolina. A distribuidora falou em 10 mil litros”, diz o gerente Isiquel Silva.

Confira a lista de postos que receberam abastecimento até agora em Porto Alegre:

Av. Assis Brasil, 6032, perto da avenida Sertório

Av. Assis Brasil, 5023, esquina com a rua Dona Alzira

Av. Assis Brasil, 516, próximo ao Bourbon Shopping Assis Brasil

Rua Ramiro Barcelos, 238, esquina com a avenida Farrapos

Rua Silva Jardim, 560, esquina com a rua Anita Garibaldi

Rua Carlos Gomes,1395, próximo ao Hospital Mãe de Deus


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