Cidades|z_Areazero
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14 de julho de 2017
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11:35

Comunidade reclama de falta de serviços e superlotação da emergência no Hospital da Restinga

Por
Luís Gomes
luisgomes@sul21.com.br
Hospital da Restinga e Extremo Sul | Foto: Foto: Joel Vargas/PMPA

Luís Eduardo Gomes

Na última segunda-feira (10), o ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP), o governador do Estado, José Ivo Sartori (PMDB), e o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Jr. (PSDB), estiveram no Hospital da Restinga e Extremo-Sul (HRES) para anunciar o início da operação do novo serviço de teleoftalmologia para a região. Na ocasião, lideranças comunitárias apresentaram às autoridades cobranças de melhoria no hospital, como a abertura de serviços de obstetrícia e maternidade. Também reclamaram da superlotação da emergência e da falta de outros serviços.

Sartori, Marchezan e Ricardo Barros no Hospital da Restinga | Foto: Luiz Chaves/Palácio Piratini

Integrante do Comitê Regional Restinga Extremo-Sul de Luta pela Saúde – grupo formado por lideranças comunitárias que há décadas lutavam pela construção de um hospital na região -, Cláudia Maria da Cruz afirma que esteve presente no ato de lançamento do teleoftalmo para reclamar das condições do hospital, que, segundo ela, estão precárias e do contrato firmado entre o poder público e o Hospital Moinhos de Vento, responsável pela gestão do HRES, que não estaria sendo cumprido.

“O que hoje temos ali é uma emergência superlotada, sem vagas para novas internações, não tem mais condições de internações, o centro de especialidades não está atendendo todas as especialidades dentro do contrato”, diz Cláudia. “A traumatologia está toda equipada, teria uma sala toda equipada, só não tem atendimento”, complementa.

Cláudia afirma que a causa para a superlotação da emergência é a falta de médicos nos postos de saúde da região. “Qual é o motivo da superlotação da emergência? A saúde básica não tem o atendimento necessário. O posto de saúde da 5ª Unidade [localizado nas proximidades do HRES] não tem médico há três, quatro dias”, afirma. Ela diz que ouviu casos de pessoas que chegaram ao hospital às 6h para serem atendidas na emergência e foram para casa a 1h do dia seguinte sem atendimento após terem desistido de aguardar.

Membros do Comitê protestaram contra a situação do hospital na segunda-feira | Foto: Arquivo Pessoal

Ela também reclama da falta de atendimento para mulheres grávidas no hospital, salientando que, em alguns casos, as moradoras da região precisam se deslocar até 45 km para o hospital que oferece serviços de parto e maternidade pelo SUS, o que aumentaria o risco de complicações para mães e recém nascidos pela falta de atendimento imediato. Cláudia diz que a disponibilização desses serviços na região se torna mais essencial porque muitos moradores da Restinga precisam pegar dois ônibus para chegar no hospital mais próximo. “A comunidade que fica na frente do hospital não tem ônibus direto ao centro, tem que fazer o transbordo”, afirma.

Cláudia explica que, em razão dos problemas, lideranças comunitárias decidiram voltar a mobilizar o Comitê Regional Restinga Extremo-Sul de Luta pela Saúde, que havia sido formado há décadas para a luta pela construção de um hospital na região e descontinuado quando a obra saiu do papel.

Também membro do Comitê e da TV Restinga, Márcio Figueira afirma que, em razão da falta de serviços, o hospital acaba funcionando apenas como uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ampliada, uma vez que o foco principal é a emergência. Ele também reclama do fato de que os postos de saúde não estão atendendo os moradores adequadamente. “Tem problemas de acesso aos postos. Os moradores não conseguem ficha para atendimento, muitas vezes têm que madrugar na fila. Faltam médicos. Isso tudo acaba acarretando com que as pessoas vão para o hospital e fiquem 6, 10 horas aguardando atendimento”, diz.

Carta dos moradores entregue às autoridades | Foto: Reprodução

Ele ainda afirma que a Prefeitura não está cumprindo a sua parte no financiamento do hospital – por contrato, 50% dos recursos devem ser oriundos do governo federal, 25% pelo Estado e 25% do executivo municipal – e que circula uma informação na região de que o poder público pretende fechar três unidades de saúde – da 5ª Unidade, Castelo e Núcleo Esperança – para concentrar os atendimentos no hospital. No entanto, ele afirma que devido ao tamanho da região – a Restinga engloba 27 mil comunidades e cerca de 120 mil pessoas, segundo o Comitê -, o próprio hospital está distante para muitos moradores.

Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde informa que os serviços contratualizados com o Hospital Moinhos de Vento para o Hospital Restinga Extremo-Sul incluem pronto atendimento de urgência, leitos de internação adulto e pediátrico, ambulatório de especialidades, exames de imagem e análises clínicas, além do teleoftalmo, inaugurado nesta semana. A secretaria afirma que a ampliação dos serviços está em análise pela atual gestão e depende de um novo contrato com a gestora do hospital.

Na segunda-feira, integrantes do comitê estiveram com uma faixa alertando que a saúde de região está na UTI e tentaram entregar uma carta [ver acima] explicando a situação e conversar com as autoridades. Cláudia inclusive conseguiu conversar com Sartori, mas reclama que a equipe do governador utilizou sua imagem indevidamente em uma propaganda do governo nas redes sociais.

Governo utilizou reclamação dos moradores como propaganda em suas redes sociais | Foto: Reprodução

Sobre a falta nos postos de saúde, a SMS afirma que já foram contratados mais de 50 profissionais de saúde para atuar na atenção primária desde o início do ano. A pasta também confirmou que a intenção da atual gestão é concentrar o atendimento de saúde primária em locais “mais bem estruturados”. “Nestes locais os pacientes poderão ter consultas, raio-X, ecografia, além de outros exames, evitando deslocamentos até outros bairros. Para isso, algumas equipes de unidades de saúde devem ser concentradas em um único local, unindo entre seis e sete equipes de saúde da família. Com isso em caso de alguma impossibilidade de profissionais comparecerem ao trabalho, o posto estará coberto, sem deixar a população desassistida”, explica a secretaria por meio de nota. A pasta não respondeu o questionamento sobre a situação do cofinanciamento.

Também por meio de nota, a assessoria do Hospital Moinhos de Vento afirmou que, nos três anos de operação do Hospital Restinga e Extremo-Sul já foram realizados 193 mil atendimentos de emergência, 8,2 mil internações, 82 mil exames de imagem e 6,3 mil atendimentos ambulatoriais nas especialidades de medicina interna e infectologia, e que outros serviços como o Centro Cirúrgico, Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI -A) e a Maternidade entrarão em funcionamento à medida que condições de demanda e custeio forem viabilizadas. Questionada sobre a situação dos repasses municipais, estaduais e federais, informou que o financiamento do HRES “está regular e de acordo com o contrato”.* A assessoria do Moinhos ainda informou que traumatologia não está no escopo de serviços contratados para o hospital.

A Secretaria Estadual de Saúde afirmou que a gestão do hospital é de responsabilidade do município e do grupo Moinhos de Vento.

*CORREÇÃO: Inicialmente, publicamos que a assessoria do Hospital Moinhos de Vento não havia respondido os questionamentos a respeito do financiamento do HRES. A informação foi corrigida às 11h21 desta sexta-feira (14). 


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