Luís Eduardo Gomes
Em 29 de janeiro, uma forte tempestade com ventos recordes atingiu Porto Alegre. Milhares de árvores foram derrubadas. Centenas de milhares de pessoas ficaram sem água e sem luz. Por três dias, esse foi o caso da artista plástica Carol W. Moradora do bairro Floresta, ela chegou a se mudar para a casa da irmã e de uma amiga.
Passado o sufoco, a tempestada passou a servir de material para reflexão. “Eu comecei a pensar porque não consegui ficar sozinha nesses dias. A gente não pensa sobre essas coisas. Comecei a tentar expurgar isso e tentar a pensar coisas boas sobre a chuva, tempestade, escuridão, solidão e não apenas como uma coisa ruim”, explica.
A partir de conversas com o amigo escritor Márcio Vassallo, surgiu a ideia de transformar estes pensamentos em arte. “Ele me perguntou: ‘Por que tu não transforma isso em arte?’ Isso me deu um clique, de que eu ia me sentir muito melhor com tudo que aconteceu se eu transformasse em arte, que é a minha linguagem”, diz.
A partir do próximo dia 10, Carol W. exibe, no Vila Flores, o resultado do trabalho que desenvolveu desde então: a exposição “A Escuridão que me Clareia”. São 25 esculturas de papel machê que contam com materiais colhidos junto à devastação causada pelo temporal, como galhos, compondo as peças. Troncos de árvores também são utilizados como expositores.
Entre as questões abordadas na exposição estão o medo provocado pela escuridão, a força da natureza, a fúria da tempestade, a intensidade da chuva, a velocidade do vento e o silêncio da solidão. Mas o trabalho destaca também o lado bom provocado em todas estas situações, como o despertar de outros sentidos, e a auto descoberta. “É sobre a tempestade, sobre a força da natureza, mas também é sobre estar vulnerável e sozinho”, conta a artista.
Além de servir de inspiração para a exposição, Carol diz que a tempestade também a ajudou a “amadurecer” como artista. “Eu me senti mais madura para falar de um tema tão pesado mais de um jeito bom. As pessoas vão ver uma exposição diferente minha. O meu trabalho é conhecido por ser mais alegre, mais lúdico. É a primeira vez que eu faço uma coisa mais reflexiva. Tão íntima”, conta.
Para acompanhar a exposição, que vai até o dia 24 de novembro, o Vila Flores promoverá um calendário de eventos paralelos, mas também relacionados ao tema da escuridão. Um dos eventos, por exemplo, contará com a audio-descrição das obras para deficientes visuais.
Confira mais informações abaixo:
O que é: “A ESCURIDÃO QUE ME CLAREIA”
Local: Vila Flores (Rua São Carlos, 759 – Bairro Floresta)
Data: de 10 a 24 de novembro
Dia 10 – às 19h Inauguração
Dia 17- Bate papo com a psicóloga Priscila Passos D’Avila – Entrada 1 kg de alimento
Dia 18 – Visitação com grupos para audiodescrição
Dia 22 – Degustação às cegas- Café Mineraux
Dia 23 – Oficina de construção de bonecos com Carol W- Entrada 1 kg de alimento
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