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13 de agosto de 2016
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11:55

Rede de saúde básica sofre com a falta de 16 profissionais do Mais Médicos há dois meses

Por
Sul 21
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Rede de saúde básica sofre com a falta de 16 profissionais do Mais Médicos há dois meses
Rede de saúde básica sofre com a falta de 16 profissionais do Mais Médicos há dois meses
Depois de três anos trabalhando em unidade do bairro Restinga, na capital gaúcha, Otto Torres voltará neste ano ao seu país| Foto: Vinícius Roratto/Sul21.
Depois de três anos trabalhando em unidade do bairro Restinga, na capital gaúcha, Otto Torres voltará neste ano ao seu país | Foto: Vinícius Roratto/Sul21

Débora Fogliatto*

Desde 2013, com a chegada de 113 profissionais do programa Mais Médicos, Porto Alegre expandiu suas equipes de saúde da família, passando de 126 — das quais cerca de 40 não tinham médicos — para 211 completas. Há cerca de dois meses, no entanto, a falta de reposição de profissionais prejudicou 16 das equipes, que ficaram sem médicos, mas conseguiram continuar atuando devido a um remanejo por parte da Prefeitura. A demora na chegada de novos profissionais para suprir os que foram embora é a mais longa desde que o programa começou.

A troca de governo e, consequentemente, de ministro da Saúde, é apontada como a possível causadora da demora, considerando que o poder municipal tem conseguido obter poucas informações sobre o programa desde então. “Acredito que a demora seja devido à transição do Ministério e à fala do ministro de que vão priorizar médicos brasileiros, porque isso acaba sendo mais difícil. Às vezes vem médico brasileiro e a gente fala onde irão atuar e eles dizem que não querem, por exemplo”, explicou o secretário de Saúde de Porto Alegre, Fernando Ritter.

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A maior parte dos 16 médicos que saíram do programa eram estrangeiros que retornaram aos seus países de origem, entre eles cubanos, cujo contrato de três anos expirou. “Já pedimos a reposição por parte do Ministério, são 16 que temos direito a receber. Eles saíram há quase três meses e, apenas nesta semana, três chegaram, mas não sabemos quando virão mais”, lamentou o secretário.

Proposta do ministro interino da Saúde, Ricardo Barros, traz mais prejuízos do que benefícios, segundo a Proteste. WILSON DIAS/AGÊNCIA BRASIL
Ministro garantiu continuidade do programa “como previsto” | Foto: Wilson Dias/ Agência Brasil

Em julho, durante reunião com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o ministro Ricardo Barros garantiu que a continuidade do programa estava assegurada e manifestou a vontade de fortalecer a participação de médicos brasileiros. Na ocasião, ele afirmou que estava em andamento edital para preenchimento de cerca 1.300 vagas em todo o país. “O Mais Médicos vai continuar conforme está previsto. O programa continuará dando sempre preferência aos profissionais brasileiros e vamos incentivar para que essa participação cresça cada vez mais. Mas, enquanto existir necessidade de preencher vagas em que médicos brasileiros não se dispõem a ir, nós estaremos suprindo com os profissionais por meio da cooperação com a Opas. Esse é o objetivo que o governo tem para manter a proposta que foi muito bem aceita e avaliada pelos prefeitos e pela população, que está satisfeita com o atendimento realizado pelos profissionais em todo o país”, disse.

O presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul e secretário de Saúde de Canoas, Marcelo Bósio, também destaca que nem sempre os médicos brasileiros aceitam bem os locais para onde são enviados. “Aumentaram as desistências de participação, em torno de 25% dos médicos que são brasileiros não permanecem nas comunidades. Isso também é um ponto que acabou ficando preocupante”, disse ele, que explicou que a demora de mais de 60 dias para reposição é referente aos médicos que vieram nos dois primeiros ciclos e, portanto, já completaram três anos no país.

O município de Porto Alegre recentemente nomeou médicos para suprir a falta de profissionais. Três aprovados em concurso feito pela Secretaria já estão em processo para assumir os cargos, enquanto outros cinco também serão chamados a partir do Instituto Municipal de Estratégia de Saúde da Família (Imesf). “Mesmo assim, continuamos em dificuldade”, admite Ritter.

.Pesquisa da Rede Observatório apontou que o programa ampliou a cobertura da atenção básica e do Estratégia da Saúde da Família, além de reduzir internações e aumentr consultas Médico cubano atende a moradora de Tarauacá, no Acre.
Médico cubano atende moradora de Tarauacá, no Acre | Foto: Pesquisa da Rede Observatório

Uma das regiões mais afetadas na cidade é a Restinga, onde duas Unidades Básicas de Saúde (UBS), um Pronto Atendimento, e quatro equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF), que receberam grande parte dos profissionais vindos pelo Mais Médicos, estão com o atendimento prejudicado. “Em postos que tinham dois, agora têm um, onde tinha um, tivemos que remanejar. E a situação está ficando caótica, porque onde a gente precisa colocar médico é na [UBS] Macedônia, que tem três vagas e conseguimos repor um, mas ainda faltam dois clínicos-gerais para atender uma população de 20 mil pessoas. Estamos apavorados”, relata a Conselheira Distrital de Saúde da Restinga, Djanira Correa da Conceição.

Ela lembra da atuação de médicos cubanos que trabalharam no local, entre eles Osmany Mattos Reis e Otto Arcides Torres Merino, que chegaram com a segunda turma de profissionais. “Eles eram ótimos, a comunidade adorava o atendimento deles. Infelizmente não temos médicos de Família formados em número suficiente aqui no Brasil, e esses médicos cubanos têm uma outra lógica de trabalho, ensinam as pessoas a tomar água, tomar chá, tocam no paciente. Não é que nem aquele médico que só receita o remédio”, destaca Djanira.

Nesse momento, com 16 vagas em aberto, Porto Alegre conta com 97 médicos do Programa Mais Médicos, dentre os quais quatro são brasileiros. Mesmo com a saída de alguns cubanos, eles ainda representam a maioria dos profissionais do programa na capital gaúcha, com a presença de 30. Há ainda nove argentinos, um boliviano, um congolês, três salvadorenhos, um guatemalteco, dois haitianos, um mexicano, três peruanos, um português, seis dominicanos, dez uruguaios e 24 venezuelanos.

*Com informações do Ministério da Saúde


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