Luís Eduardo Gomes
Em virtude das fortes chuvas que atingem a cidade de Porto Alegre desde a noite de ontem, o prefeito José Fortunati realizou no final da manhã desta quinta-feira (15) uma reunião com seu secretariado no Centro Integrado de Comando (CEIC) da cidade para discutir as ações a serem tomadas pelo poder público para enfrentar os estragos.
Segundo o prefeito, a primeira medida tomada foi convocar servidores de folga. “Estamos chamando todos os servidores que estavam de folga para que possam atuar, especialmente reforçando as equipes da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMAM) e do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), que estão atuando em conjunto na questão, não somente do lixo, mas especialmente das árvores caídas sobre as vias”.
De acordo com balanço divulgado pelo CEIC por volta do meio-dia, 23 vias estavam totalmente bloqueadas devido à queda de árvores de grande porte e 42 estavam parcialmente interrompidas por árvores de médio e pequeno porte. Foram registradas mais de 80 ocorrências de queda de árvores. Além disso, às 13h, a cidade ainda registrava 22 pontos de alagamento e 43 semáforos estavam fora de operação, a maioria deles nas avenidas Voluntários da Pátria e Ipiranga (confira o detalhamento).
Fortunati afirmou ainda que as fortes chuvas, registradas especialmente no final da noite de ontem e no início da manhã de hoje, prejudicaram a prestação de serviços essenciais para a população. “Temos casas destelhadas em praticamente toda a cidade. Escolas alagadas. Temos postos de saúde que foram danificados”, disse. “Estamos trabalhando para que, dentro do possível, a cidade volte a operar com a máxima tranquilidade em pouco tempo”.
O Hospital de Clínicas montou uma operação de emergência para as próximas 48 horas, suspendendo cirurgias de pequeno porte e tentando atender pacientes com consultas previamente agendadas. Pacientes na CTI também precisaram ser remanejados. O hospital teve vidros quebrados, além de destelhamento, alagamentos e equipamentos danificados.
Por volta do meio-dia, seis casas de bomba da cidade não estavam funcionando por falta de energia, o que dificultava a drenagem das vias da cidade. Pela manhã, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) informou que a Estação Menino Deus, a maior da cidade e que abastece 39 bairros, também estava sem energia, mas o serviço já foi restabelecido. Às 10h, a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) informou que o número de clientes sem energia elétrica no Estado estava em 208 mil, 110 mil na Capital.
Famílias desabrigadas
Das 9h da manhã de quarta-feira até as 9h da manhã de hoje, o CEIC registrou mais de 60 mm de chuvas nos bairros São Geraldo e Sarandi, na Zona Norte de Porto Alegre, o que representa mais da metade da média histórica para o mês de outubro, 114,3 mm. No centro e em diversos bairros da zona sul e da norte foram registrados mais de 50 mm. Apesar do alto volume, o nível do Guaíba se manteve estável, em 2,6 m, o que ainda representa alerta, mas é abaixo dos 2,89 m registrados na segunda-feira, quando o rio alcançou seu maior nível desde a enchente histórica de 1941.
Na região das ilhas de Porto Alegre, a mais afetada pelas enchentes do início da semana, o nível do Guaíba estava em 2,1 m nesta manhã, abaixo dos 2,3 m de pico. Segundo Fortunati, equipes da prefeitura estão fazendo o monitoramento constante de famílias em áreas de risco.
“O nosso problema é que muitas famílias não desejam e não querem abandonar suas casas com medo do saque. Infelizmente, mesmo na época da dor, existem aqueles que não têm escrúpulos”, disse Fortunati, acrescentando que mobilizou a Guarda Municipal, e conta com apoio da Brigada Militar e dos Bombeiros, para reforçar a vigilância das áreas. “Algumas famílias que permaneciam nas ilhas, justamente para guardar suas casas, tiveram as lonas completamente arrancadas”.
Segundo ele, a Defesa Civil esteve no local durante a madrugada para levar mantimentos, lonas, colchões e roupas secas. A prefeitura continua recebendo doações para as famílias desabrigadas no Ginásio Tesourinha, na Avenida Érico Veríssimo. A maior necessidade de doações é de água, materiais de limpeza e higiene, fraldas geriátricas, lonas pretas e velas.
Prevenção das chuvas
De acordo com Fortunati, após as enchentes registradas no mês de julho na cidade, a prefeitura intensificou os processos de desobstrução de arroios, canais e bocas de lobo para tentar minimizar o efeito de novas chuvas. “Nós acabamos ampliando a potência do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) e também o DMLU atuou muito para retirar focos de lixo”, disse.
Contudo, ele fez um alerta para a população evitar descartar qualquer tipo de lixo de forma irregular. “É importante que as pessoas compreendam que, num momento como esse, qualquer descarte irregular de lixo, a bagana do cigarro ou pedaço de papel, se junta com outros e acaba causando alagamentos enormes. O que mudou desde julho foi esse trabalho preventivo, mas nós precisamos muito da colaboração da população. Não descartem de forma alguma garrafa PET, ou papel ou qualquer coisa, porque é isso que no final acaba dificultando que as nossas equipes consigam manter a cidade em ordem”, disse.
