Samir Oliveira
As desavenças que existem entre o secretário da Saúde de Porto Alegre, Carlos Casartelli (PTB), e o vereador Thiago Duarte (PDT) estão prestes a ganhar um novo capítulo. Na segunda-feira (24), o petebista irá à tribuna da Câmara Municipal para reagir às denúncias que foram entregues na semana passada ao parlamentar – que é presidente da Comissão de Saúde -, apontando 14 itens a serem investigados na pasta que comanda.
Na última terça-feira (11), um grupo de servidores da prefeitura entregou a Thiago Duarte um abaixo-assinado contendo quase 800 assinaturas em favor da criação da CPI da Saúde, elencando 14 motivos que justificariam a investigação. De autoria de Thiago Duarte e Clàudio Janta (SD), o requerimento para instalação da comissão já está em andamento e conta com nove das 12 assinaturas necessárias para que saia do papel.
Carlos Casartelli é taxativo ao dizer que o abaixo assinado não existe ou sugerir que o documento seria uma peça de ficção elaborada por Thiago Duarte. O secretário não poupa acusações ao desafeto, alega que o pedetista se sente frustrado por não ter sido escolhido para o cargo que ocupa e chega, inclusive, a questionar sua sanidade mental.
“Demandei junto à Comissão de Saúde e ao presidente da Câmara o abaixo assinado e a informação que tive foi de que esse documento não deu entrada na Câmara. O presidente da comissão tem mais de um consultório na cidade e atende mais de 30 pacientes por dia. Ele está com esse documento tentando conseguir assinaturas, não foi algo entregue pelos servidores”, acusa.
Para Casartelli, o vereador tem motivações pessoais para ataca-lo. “Ele tenta fazer essa CPI por uma questão política e por uma questão pessoal. Ele acabou pessoalizando uma questão política, precisaria até de uma análise mais profunda para saber o que ocorre com o doutor Thiago. Eu não poderia fazer essa análise porque sou pediatra”, alfineta.
Dando continuidade às críticas, o secretário acusa o vereador de querer tomar seu posto no comando da pasta. “Eu não tenho culpa se ele não foi escolhido secretário da Saúde. Espero que ele seja um dia, ele tem oportunidade, é uma pessoa jovem”, provoca.
O secretário avisa que solicitou as gravações da reunião da Comissão da Saúde em que foi entregue o documento com as denúncias e informa que, se conseguir identificar quem são os servidores que pronunciaram as acusações, irá entrar com processos na Justiça. “Estou com o CD da reunião, que tinha um número muito reduzido de pessoas e para a qual não fui convidado. Vou ouvir e, se estiver claro quem disse a denúncia, se eu reconhecer a voz, vou abrir uma ação judicial, porque há declarações que estão no site da Câmara que são completamente absurdas”, comenta.
“O secretário não é vítima, quem é vítima é a população de Porto Alegre”, diz vereador
As desavenças entre os dois são antigas e públicas. Ambos estão envolvidos no apoio ao governo municipal: Casartelli é um secretário da prefeitura e Thiago Duarte integra o mesmo partido que o prefeito José Fortunati, o PDT. Contudo, nem mesmo a união em torno do Paço Municipal é capaz de minimizar as disputas.
Enquanto o secretário acusa o vereador de almejar seu cargo, Thiago Duarte descarrega uma série de críticas à gestão da Saúde na cidade e mantém a convicção de instalar uma CPI para investigar ao gestão do petebista. “Eu ratifico que o abaixo-assinado dos servidores é verdadeiro. É só andar pelos postos de saúde que é possível ver toda opressão e assédio moral que os trabalhadores vivem. Não tenho nenhuma intenção em pleitear o cargo do secretário, nem qualquer outra coisa neste sentido”, responde.
O vereador reproduz as denúncias contidas no documento e cobra explicações de Casartelli. “O secretário deve nos responder quem vai atender as emergências clínicas no Centro da cidade, já que o HPS não atende mais e o Hospital de Clínicas vive superlotado. Ele tem que responder por que o quarto andar do Hospital Presidente Vargas está fechado e por que comprou livros sobre crack sem licitação por R$ 1 milhão”, fustiga.
Thiago Duarte diz que o secretário não deveria se preocupar com ele, mas, sim, com a população que se queixa do atendimento na área da saúde. “Eu não sou o problema, sou apenas uma pessoa que serve de porta-voz a essas demandas. Ninguém quer desestabilizar o secretário. Ele não vai conseguir me intimidar desta forma, porque ele não é vítima nesse processo, quem é vítima é a população de Porto Alegre, que não consegue atendimento”, rebate.
O parlamentar confirma que estará presente na sessão de segunda-feira (24), às 14h, quando Casartelli irá comparecer à tribuna do plenário da Câmara. O pedetista diz aguardar por “uma obra de ficção”, no que diz respeito à fala do secretário, e lamenta que muitos vereadores, inclusive a bancada do PT – que faz oposição ao governo – optem por defender o petebista e não assinar o requerimento para criar a CPI da Saúde. “Vai ser uma obra de ficção, um projeto de teatro. Não vamos ter o mesmo tempo, eu terei cinco minutos e ele terá dez minutos no início e 20 minutos no final. Há vereadores que têm interesse em defendê-lo, inclusive na oposição”, aponta.
