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8 de agosto de 2014
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17:48

Para cientista político, insatisfação com a política deve aumentar votos em branco e nulos

Por
Sul 21
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Para cientista político, insatisfação com a política deve aumentar votos em branco e nulos
Para cientista político, insatisfação com a política deve aumentar votos em branco e nulos

Foto: TSE

 

Ana Ávila*

Em 2010, quase 500 mil gaúchos votaram em branco ou anularam seu voto para presidente no primeiro turno. Quando a disputa se restringiu a José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), esse número ficou acima de 300 mil. No Brasil todo, mais de sete milhões de eleitores optaram por anular ou votar em branco no segundo turno da disputa presidencial daquele ano. Para o cientista político Paulo Moura, esse número deve crescer ainda mais na eleição deste ano. Entre os motivos estaria a insatisfação do eleitorado com a corrupção. “As denúncias de corrupção, assim como as manifestações de junho do ano passado, exacerbaram a rejeição à classe política, instalaram na população o descrédito e a decepção”, afirma o analista.

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Este percentual de eleitores desinteressados em escolher um representante político pode crescer ainda mais na disputa para cargos parlamentares. Segundo Moura, “toda a atenção da mídia nas disputas eleitorais fica concentrada nas candidaturas majoritárias. Além disso, para o Parlamento há um grande número de candidatos”, fazendo com que, se não forem capazes de produzir fatos que os evidenciem entre os demais, os postulantes a cargos como de deputado acabem diluídos entre seus concorrentes. “O eleitor só pensa em quem vai votar para deputado 15 ou 20 dias antes da eleição e acaba votando em branco ou nulo”, afirma o cientista político.

Nas eleições de 2006, 466.748 gaúchos votaram em branco e 227.201 anularam o voto na hora de escolher o candidato a deputado estadual. Em 2010, 487.153 ficaram com a primeira opção e 179.216 optaram por anular. Para deputado federal não foi muito diferente, 502.785 votam em branco e 217.222 anularam em 2006. Na eleição seguinte, 524.822 escolheram votar em branco e 212.745 optaram por anular o voto. De acordo com Moura, o alto índice de rejeição aos parlamentares se dá, em grande parte, devido à falsa ideia que a sociedade faz de que os parlamentares seriam os maiores responsáveis pelo desvio de dinheiro público. “Na verdade, o desvio de dinheiro público acontece, predominantemente, no Executivo, só que a cobertura da imprensa, em geral, onera os deputados”, afirma o analista.

De acordo com Moura, o índice elevado de abstenção e de votos brancos e nulos não é uma realidade exclusiva do Brasil. Em países onde o voto é facultativo, como nos Estados Unidos, o cientista político afirma que apenas 45% a 50% dos eleitores votam nas disputas presidenciais. Na hora de escolher o representante no Parlamento, esse número cai ainda mais. O professor destaca que é necessária uma motivação especial para que o eleitor vá às urnas em países como os EUA. Foi o caso da eleição histórica que deu o primeiro mandato a Barack Obama, em 2008. Na ocasião, quase 66% dos eleitores registrados compareceram às urnas, de acordo com o site Real Clear Politics. A taxa de participação foi a maior no país desde 1908.

Recentemente, o candidato do PSDB à presidência, Aécio Neves, usou a campanha do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que incentiva os jovens de 16 anos a tirarem o título de eleitor, para tentar reduzir o número de votos brancos, nulos e as abstenções. Na página do candidato no Facebook, um vídeo incentiva os eleitores “a fazerem a diferença”. Aécio deve gravar ainda outro vídeo reiterando seu apoio à campanha #VempraUrna.

O objetivo dos tucanos pode ser impedir que se repita o cenário da eleição de 2010, quando a presidenta Dilma Rousseff (PT) foi eleita com os votos de 55,7 milhões de brasileiros, dos 135 milhões aptos a votar. A última pesquisa Ibope apontou que 25% da população ainda não escolheu seu candidato ou pretende votar em branco ou nulo. Para o cientista político Paulo Moura, “o eleitor que anula, vota em branco ou se se abstém está insatisfeito, quer mudança. Assim, faz todo o sentido que a oposição vá atrás desse voto”.

Outro índice que chama a atenção no Brasil é o percentual de eleitores que anula ou vota em branco para o cargo de senador. Em 2006, 668.649 mil eleitores do Rio Grande do Sul votaram em branco e 518.073 anularam o voto. Em 2010, quando deveriam escolher dois candidatos ao Senado, 1.307.450 votos foram em branco e 983.662 anulados.

Para governador, constatou-se um salto significativo no número de votos brancos e nulos no último pleito no Rio Grande do Sul. Enquanto em 2002 e 2006, esse número vinha se mantendo na faixa dos 500 mil, em 2010 passou dos 600 mil. O mesmo aconteceu na disputa para a prefeitura. Somando os números de todos os municípios do Estado, enquanto em 2008 cerca de 520 mil eleitores optaram por anular o voto ou votar em branco, em 2012 apenas os que anularam passam dos 400 mil. Somados, brancos e nulos chegaram a 728.413.

O TRE explica que os votos brancos e nulos não são considerados em nenhum tipo de cálculo, seja ele de quociente eleitoral, ou de percentual para um possível segundo turno. A soma é feita unicamente para se levantar o número de pessoas que votou na eleição. Deste número são retirados os votos válidos, excluindo brancos e nulos, e é com os válidos que se fará, por exemplo, o levantamento de quanto por cento recebeu cada candidato.


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