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31 de outubro de 2014
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17:09

Conheça as cinco chapas que disputam o DCE da UFRGS, com eleição em novembro

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Sul 21
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Conheça as cinco chapas que disputam o DCE da UFRGS, com eleição em novembro
Conheça as cinco chapas que disputam o DCE da UFRGS, com eleição em novembro
"Prédio branco" foi inaugurado recentemente e já foi interditado por risco de desabamento. Segundo alguns militantes, é o resultado da expansão precarizada da UFRGS. Esta é uma das pautas em quetão entre as chapas que disputam o DCE da universidade l Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
“Prédio branco” foi inaugurado recentemente e já foi interditado por risco de desabamento. Segundo alguns militantes, é o resultado da expansão precarizada da UFRGS. Esta é uma das pautas em quetão entre as chapas que disputam o DCE da universidade l Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Caio Venâncio

Maior instituição de ensino superior do estado, com mais de 25 mil alunos, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), além de conceituada no meio acadêmico, é referência no movimento estudantil. Nos próximos dias 18, 19 e 20 de novembro, mais um capítulo desta história de mobilização e disputa política deve ser escrito, com  a eleição para o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFRGS. Cinco chapas disputam o comando da entidade representativa. As propostas e concepções variam, com posições à direita e à esquerda, mas alguns temas se repetem, como a necessidade de expansão das vagas de forma qualificada e políticas que garantam a permanência dos acadêmicos na universidade.

Chapa 1 “DCE de Verdade: Nosso Partido é o Estudante 2.0”

Atualmente no comando do DCE, a Chapa 1 representa a situação, mas com renovação de boa parte daqueles que compõem a nominata. Estudante de Engenharia Metalúrgica e candidato a coordenador geral, Cleber Gugel Machado enumera realizações que os credenciariam a permanecer mais um ano à frente da entidade: reforma da sede central do DCE; abertura diária das sedes dos campus Vale e Saúde; criação de espaço cultural, com aulas de dança e teatro; fundação da Liga das Atléticas da UFRGS, cujo objetivo é incentivar o esporte dentro da universidade.

Além disto, o fornecimento de suco no Restaurante Universitário, interrompido desde 2011, seria retomado em breve, conforme Cleber. “Deu briga, mas a licitação do suco saiu e em dezembro deve retornar. Um suco concentrado, melhor do que o que era fornecido anteriormente, e gratuito”, anuncia.

Agora, numa eventual nova gestão, Cleber indica como prioridades o combate à Resolução 19, que determina um mínimo de aproveitamento para que os estudantes se mantenham na faculdade, aumento no valor das bolsas e expansão do espaço cultural do DCE, com aulas em outras sedes que não a central. “Vamos combater os problemas dos maiores para os menores. Esta resolução 19 prejudica os alunos, especialmente os mais pobres. Nos cursos de exatas, por exemplo, a evasão supera os 50%”, evidencia.

Cleber afirma que seu grupo representa o “movimento apartidário”, contando com a participação de centros acadêmicos das Engenharias, Informática, Agronomia, Veterinária, Física, entre outros “mais das exatas”, como ele próprio define. Ele também refuta aqueles que os classificam como “chapa da direita”. “Não somos nem de esquerda nem de direita, refletimos a pluralidade dos estudantes da UFRGS. Entre nós tem quem seja conservador, liberal, marxista e até anarquista”, revela. E completa: “Estamos mais preocupados com as pautas da universidade, não com a organização da juventude de partidos políticos. Primeiro arrumamos a casa, depois pensamos na Palestina”, resume.

Ocupação da Reitoria é um movimento citado por integrantes de diferentes chapas | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Ocupação da Reitoria é um movimento citado por integrantes de diferentes chapas | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Chapa 2 “Na Mesma Barca: Unidade é pra Lutar!”

Com um nome retirado de uma poesia do poeta angolano Agostinho Neto, a chapa 2 “Na Mesma Barca”, quer se opor ao que chamam de velhas práticas do movimento estudantil, que não mais dialogariam com a realidade dos estudantes. Aluna de Direito, Tábata Silveira, que ocupa o posto de coordenadora geral na chapa, argumenta que existe entre eles o interesse de abrir espaços de comunicação e troca com bolsistas e cotistas. “Estamos na mesma barca dos estudantes, não somos nem nos colocamos como cúpula ou vanguarda”, define.

Ela conta que a formação da chapa veio a partir de mobilizações como a ocupação da Reitoria, assembleia de bolsistas e luta pela paridade nas eleições para reitor. “Não é um agrupamento de forças políticas, não somos pautados por interesses externos, como aquele velho modelo em que os partidos políticos discutem o processo previamente, de fora para dentro, buscando construir quadros para eleger vereadores e deputados”, compara Tábata.

O programa político do grupo se divide em quatro grandes eixos. Em relação à democracia dentro da UFRGS, ambicionam conquistar a votação paritária, em que o voto dos estudantes corresponda a um terço, assim como o de funcionários e professores. Sobre assistência estudantil, pretendem lutar para garantir a construção da casa do estudante no campus do vale, um novo RU no campus Centro e o reajuste das bolsas. “Lutamos pelo fim do trabalho como contrapartida à concessão de bolsas para estudantes carentes. Também pretendemos equiparar o valor das bolsas com o salário mínimo ou ao menos fazer com que elas sejam corrigidas de acordo com a inflação”, explica a aluna. Adotando como lema “construir a universidade popular”, Tábata afirma que a chapa vai procurar reforçar a extensão popular e a troca de experiências com as comunidades organizadas. Além de estudantes sem vínculos, a chapa é composta por militantes do PCB, PCR, Juventude Comunista Avançando (JCA), Juventude Libre e coletivo Voz Ativa.

Chapa 3 “Podemos! Mobilizar e Conquistar”

Fazendo alusão ao partido político espanhol homônimo, que se notabilizou pelas grandes assembleias em praça pública e por se contrapor à “velha esquerda”, a chapa “Podemos! Mobilizar e Conquistar” pretende mostrar que, por meio da mobilização, é possível fazer com que os estudantes conquistem aquilo que desejam dentro da UFRGS. Aluno de Jornalismo e candidato a coordenador geral, Guly Marchant conta que a chapa é o resultado de conversas com diferentes pessoas ao longo das últimas três semanas. Segundo ele, o grupo já larga com alguma vantagem diante dos concorrentes por ter realizado a inscrição com apoio de mais de 260 estudantes de 43 cursos. “É uma chapa de oposição à atual gestão do DCE, de esquerda e representativa”, apresenta.

A assistência estudantil é um dos principais focos do grupo. Eles pretendem garantir a abertura do novo RU do Campus do Vale, em obras há cerca de dois anos; conquistar o aumento do auxílio-creche, atualmente em R$ 90, para as estudantes com filhos ou mesmo fazer com que a escola infantil que hoje atende filhos de professores da UFRGS amplie o grupo de beneficiados. Também existe a preocupação em relação à qualidade com que ocorre a expansão das vagas na universidade, além da falta de vagas em casas do estudante e RU nas instalações da UFRGS em Imbé. A chapa é mais uma a contemplar os bolsistas em suas propostas, pretendendo fazer com que os reajustes sigam os do salário mínimo.

Para Guly, os problemas relacionados à segurança dos alunos, como os corriqueiros assaltos no Campus do Vale, podem ser resolvidos com a ocupação dos espaços da universidade. “Diferente da atual gestão, não queremos a Brigada Militar dentro do campus. Acreditamos que a liberação, por parte da Reitoria, da organização das festas dos diretórios acadêmicos pode encher os espaços de alunos e assim torná-los mais seguros. Outra medida é a busca pela unificação dos horários de saída das aulas no turno da noite, assim há uma maior aglomeração, que inibe casos de violência”, detalha. A chapa é contrária ao atual modelo de espaço cultural do DCE, em que as atividades são pagas, e pretende ampliá-lo de forma gratuita por meio da colaboração dos próprios estudantes. Além de acadêmicos independentes, como são conhecidos aqueles que não têm vínculo político-partidário formal, a Podemos tem na sua nominata militantes do PSOL, PSTU e Alicerce Juventude.

Ocupação do "Castelinho" foi outro  mobilização marcante em 2014 na UFRGS l Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Ocupação do “Castelinho” foi outro mobilização marcante em 2014 na UFRGS l Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Chapa 4 “Ação Libertadora Estudantil”

No ano em que se recorda os 50 anos do Golpe Militar, alguns estudantes da UFRGS homenageiam Carlos Marighella e, numa referência clara à Ação Libertadora Nacional (ALN) do guerrilheiro baiano, articulam a chapa “Ação Libertadora Estudantil”, cujo objetivo seria, mais do que assumir o controle do DCE, reformular o movimento estudantil da UFRGS. Estudante de Ciências Sociais, Tiago Nogara relata que o grupo se formou a partir da organização A Marighella, da qual fazem parte alguns dos que integram a chapa, além de movimentos como o da ocupação da reitoria da universidade. “Não vimos como fazer unidade com outros grupos, que no geral são contaminados por interesses exógenos de forças políticas. Afinal, esta unidade deve se dar nas lutas e não ser meramente eleitoral, num modelo em que se discute primeiro a nominata e depois o programa da chapa. Lamentavelmente, hoje o movimento estudantil da UFRGS cai no ‘disputismo’ de correntes partidárias”, sustenta.

Nogara prima por um DCE em que a Executiva se encarregue da parte burocrática, dando espaço ao conjunto dos estudantes participar da entidade por meio de amplas assembleias. De concreto, ele defende um RU de qualidade, expandido e com opção vegana; um DCE que preste solidariedade à luta dos funcionários da UFRGS; manutenção das bibliotecas da UFRGS, em especial a do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), que sofreu com um alagamento decorrente do rompimento de um cano no início deste ano; aperfeiçoamento da expansão universitária promovida pelo governo através do Reuni; rompimento de acordos de pesquisa com as empresas Elbit (tecnológica bélica para o Estado de Israel) e Monsanto (Agrotóxicos); e confecção do cartão TRI a preço de custo. “O DCE não é uma empresa para ficar gerando lucro”, justifica. Porém, ele ressalta: “O carro-chefe é a mudança no movimento estudantil. É uma candidatura ideológica, sem a estrutura que os outros, que vão buscar financiamento entre sindicatos e tudo mais, vão ter”.

Chapa 5 “Coragem pra Mudar”

Com um nome oriundo de um pensamento coletivo daqueles que estão insatisfeitos com a atual gestão do DCE, com o atual estado do movimento estudantil na UFRGS e pretende alterá-los, fazendo o mesmo com todo o Brasil, a chapa “Coragem pra Mudar” surgiu a partir da construção de coletivos como a União da Juventude Socialista (UJS) e Mudança, além de outros jovens que compactuam com suas ideias.

Estudante de Políticas Públicas e candidato a coordenador geral pela chapa, Maicon Prado conta que as propostas de seu grupo vão ao encontro de um desejo de popularizar a UFRGS. Dentro das questões do movimento estudantil, isso se refletiria na valorização do Conselho de Entidades de Base (CEB), bem como de outras formas de participação dos centros acadêmicos. Um DCE itinerante também é cogitado. A assistência estudantil está entre aquilo que buscam para garantir a permanência dos alunos na universidade. “Queremos conquistar a abertura do RU aos sábados, para assegurar o direito dos estudantes à alimentação. Além disto, existem algumas questões básicas, como o papel higiênico nos banheiros”, explicita. Núcleos temáticos seriam criados para discutir a questão LGBT e a violência urbana, por exemplo. Para o problema da segurança nos campi, Marcel propõe o cercamento eletrônico deles, assim como reforço na iluminação e no policiamento no entorno. “Não queremos a Brigada no campus”, deixa claro. Pensando nos estudantes de cursos de ciências exatas, ele acredita que é importante incentivar a parceria com empresas juniores, para qualificar sua inserção no mercado de trabalho. No entanto, ele ressalta que o programa completo da chapa está sendo finalizado.

Maicon analisa que a polarização entre extrema-direita e extrema-esquerda verificada no DCE da UFRGS nos últimos anos não representou bem os estudantes. “Somos uma proposta de esquerda que quer participação dos estudantes na base. Outras chapas que concorrem hoje e já estiveram na entidade anteriormente são centralistas, não abrem espaço para o diálogo”, aponta. No grupo, há estudantes que militam no PT, PCdoB e PDT.


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