Política
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8 de março de 2015
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21:28

Cunha terá de cuidar da própria sobrevivência

Por
Sul 21
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Presidentda Cãmara foi um dos  políticos que o STF autorizou abertura de investigação nas denúncias da Petrobras (Foto: Agência Brasil)
Presidente da Câmara foi um dos políticos que o STF autorizou abertura de investigação nas denúncias da Petrobras|Foto: Agência Brasil

Por Paulo Moreira Leite

Da Brasil 247

Quarenta e oito horas depois da divulgação da Lista de Janot, ainda é cedo para um balanço definitivo sobre seu impacto político. Parece claro, porém, que ela trouxe mais benefícios do que prejuízos ao governo Dilma e ao PT. Apesar de toda campanha tendenciosa da imprensa conservadora ao longo de 2014, Dilma Rousseff sequer havia sido alvo de qualquer investigação — ao contrário do que ocorreu, por exemplo, com o Aécio Neves, seu adversário principal na campanha, o que apenas ajuda a confirmar o caráter sem-caráter da cobertura, não é mesmo? Nossa imprensa não só vazou informações e suspeitas que não existiam, mas escondeu informações relevantes sobre o candidato do PSDB e suas ligações com Alberto Yousseff.

O fato é que Dilma deixou de ser alvo para qualquer investigação, o que irá esvaziar o movimento golpista escondido por trás da palavra “impeachment.” A presença majoritária de políticos do Partido Progressista nas revelações da delação premiada modifica a discussão sobre a Lava Jato. Trata-se, mais do que nunca, de uma denúncia contra aliados do governo, que deram continuidade ao esquema criado por José Janene em torno de Paulo Roberto Costa e Alberto Yousseff, rea´rticulado depois da morte do deputado-tesoureiro. A participação de petistas no esquema, se for demonstrada, envolve personagens secundários.

Chefe da Câmara terá de dar explicações

A principal novidade, porém, envolve Eduardo Cunha. O novo presidente da Câmara, adversário agressivo do Planalto, tomou um golpe da testa. Não há motivo para condenações apressadas. Mas a denuncia trazida pelo PGR irá exigir explicações detalhadas e complexas, como se pode compreender pela leitura do Globo de hoje, que descreve Eduardo Cunha envolvido numa clássica operação de criar dificuldades para receber facilidades, inclusive com ajuda de parlamentares próximos.

Ocupado em atacar o governo de qualquer maneira, inclusive quebrando rituais na definição de subrelatorias na CPI da Petrobrás, numa truculência acima de qualquer padrão de convivência democrática entre maioria e minoria, Cunha muda de posição no jogo. A partir de agora terá,prioritariamente, de cuidar da própria sobrevivência política.

Nem tudo está resolvido, porém. Ao aceitar uma acusação contra Antonio Palocci — desmentida pela testemunha mais importante –, Rodrigo Janot abriu uma porta que pode permitir a Sérgio Moro chegar a Lula. Sem direito a foro privilegiado, Palocci pode ser investigado em primeira instancia, em Curitiba. A pergunta é saber se terá seus direitos de defesa respeitados ou se será submetido ao regime de prisão preventiva e delação premiada, numa repetição do escandaloso exercício para arrancar confissões e acusações de qualquer maneira. Também é de se perguntar qual postura o ministro Teori Zavaski, que assume o caso definitivamente, terá diante disso.


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