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6 de maio de 2015
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17:34

Santa Casa de Porto Alegre anuncia redução de 400 mil atendimentos pelo SUS

Por
Sul 21
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Foto: Caroline Ferraz/Sul21
Trabalhadores da Santa Casa lotaram anfiteatro Hugo Gerdau | Foto: Caroline Ferraz/Sul21

Débora Fogliatto

Trabalhadores da saúde de todo o Rio Grande do Sul paralisaram atendimentos e realizaram atos nesta quarta-feira (06), no que chamaram “Dia D”, para protestar contra cortes de recurso por parte do governo estadual. Foram suspensos 9 mil atendimentos, com 90% da categoria mobilizada em cerca de 200 municípios. No hospital Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre, em uma reunião aberta que lotou o anfiteatro Hugo Gerdau da instituição, foram anunciadas reduções de 118 leitos e 4.312 internações, o que resulta em 437 mil atendimentos a menos no ano.

A redução é um redimensionamento assistencial, proposto pela Santa Casa à Secretaria Municipal de Saúde, que é a administradora da entidade, nesta terça-feira (5). De acordo com a direção do hospital, dos R$ 500 mil que o governo estadual anunciou que cortaria da verba para a saúde, R$ 300 mil dizem respeito a hospitais filantrópicos e Santas Casas.

Também compondo os protestos do dia, no Hospital Vila Nova, a paralisação afetou 35 cirurgias, que foram adiadas. Funcionários da Santa Casa ainda chamavam a população para o protesto que será realizado na quarta-feira da próxima semana (13), em frente ao Palácio Piratini, a partir das 11h.

Mas as dificuldades financeiras não param por aí: o repasse da União para estas instituições era de 75% em 1980, enquanto atualmente é de 46,70%. “Se percebe uma omissão da União com o Sistema Único de Saúde, transferindo responsabilidades para estados e municípios”, constatou o Diretor-Geral da Santa Casa Julio Dornelles de Matos.

O estado conta com 245 hospitais filantrópicos e Santa Casas, em 220 municípios, sendo os responsáveis por 75% das internações do Sistema Único de Saúde (SUS) em 2014.

Tabela mostrada por Dornelles sobre os cortes de atendimentos da Santa Ca
Tabela mostrada por Dornelles sobre os cortes de atendimentos da Santa Casa

De acordo com os dados apresentados no ato, a cada R$ 100 utilizados por instituição, os hospitais recebem R$ 63,08 do poder público. Apenas em 2013, foram 540 mil internações no estado, o que gerou um déficit de R$ 404 milhões. “Esse déficit vem de longa data, de forma crescente, e chegou a R$ 1 bilhão e 200 milhões. Se não fosse pelos repasses dos municípios, não teríamos como sobreviver”, constatou o diretor. Mesmo com o redimensionamento,  o hospital continuará com um prejuízo de R$ 70 milhões no ano.

Em 2012, os investimentos começaram a aumentar, mas não de forma suficiente para acabar com o déficit. Foram R$ 168 milhões em 2013, R$ 250 milhões em 2014 e, em 2015, estavam previstos no orçamento estadual R$ 300 milhões, que não serão repassados. “Nós fazemos muito mais do que a nossa obrigação. Aqui na Santa Casa, 53% dos pacientes são do interior. Temos uma trajetória de prejuízos e, por isso, atendemos também convênios e particulares, para nos manter”, relatou Dornelles, acrescentando que o hospital recebe ajuda também da Universidade Federal de Ciências da Saúde, da Assembleia Legislativa e busca editais públicos.

Foto: Caroline Ferraz/Sul21
Trabalhadores também chamavam para ato do dia 13 de maio | Foto: Caroline Ferraz/Sul21

O procurador da Justiça Antonio Carlos de Avelar Bastos, da Procuradoria das Fundações do Ministério Público do Rio Grande do Sul, destacou que a “saúde é um direito de todos” e as Santas Casas “não deveriam passar por esse tipo de constrangimento”. Ele demonstrou “total solidariedade” à entidade. “Não nos resta outra opção além de estar em favor dessa campanha, pois precisamos do funcionamento dessa instituição”, apontou.

Em entrevista coletiva, o Provedor Alfredo Guilherme Englert destacou que a entidade “não é contra ninguém, contra nenhum partido, mas a favor dos pacientes”. Para ele, “o limite já foi superado” e a Santa Casa não pode continuar tendo prejuízos.

A Secretaria Estadual da Saúde (SES) se manifestou através de nota, em que informa estar “aberta de forma permanente ao diálogo” com as Santas Casas e hospitais e pondera que o planejamento proposto pelo governo tem como objetivo “adequar os repasses às entidades ao orçamento da pasta – evitando, assim, o desajuste que gerou o atraso nos repasses em 2014”. O comunicado ressalta que os valores previstos a partir de dezembro de 2014 estão em dia e já foram pagos R$ 352,5 milhões do Tesouro do Estado. A SES ainda garante, na nota, que os 12% da receita líquida para a saúde estão garantidos.

Por Caroline Ferraz/Sul21
Em coletiva, Eglert (Centro) disse que “o limite já foi superado” | Foto: Caroline Ferraz/Sul21

Na entrevista coletiva, Dornelles disse que o Estado está pagando em dia depois de já ter realizado cortes. “O Estado tem dito que está pagando em dia, mas isso é uma inverdade, seria muito mais justo que tivesse dizendo a verdade. O Estado cortou os recursos e depois que cortou, o que sobrou está pagando em dia. Eles não querem anunciar e estão jogando isso para que os hospitais façam”, criticou.

Confira a íntegra da nota:

A Secretaria Estadual da Saúde (SES) informa que está aberta de forma permanente ao diálogo com a Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do RS. O planejamento proposto pelo Estado objetiva adequar os repasses às entidades ao orçamento da pasta – evitando, assim, o desajuste que gerou o atraso nos repasses em 2014.

A SES ressalta que estão rigorosamente em dia os valores previstos a partir de dezembro de 2014. Assim, já foram pagos neste ano aos hospitais gaúchos R$ 352,5 milhões do Tesouro do Estado.

Em relação aos recursos pendentes anteriores a esse período, que deixaram de ser pagos pela última gestão por um comprometimento acima da capacidade orçamentária, a quitação dos mesmos será feita de acordo com o fluxo de caixa do Tesouro estadual. Estão em aberto repasses de R$ 151 milhões.

A Secretaria Estadual da Saúde salienta que – mesmo com os cortes no custeio e investimentos de todos os órgãos estaduais frente às limitações financeiras do Estado – está assegurada para 2015 a destinação dos 12% da receita líquida para a área da saúde.


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