Débora Fogliatto
Dois atos marcaram o Dia Internacional da Mulher em Porto Alegre neste 8 de março, pedindo mais direitos, defendendo a legalização do aborto e a maior representatividade das mulheres na política. Embora tivessem algumas pautas em comum, a divisão entre dois grupos aconteceu porque um deles tinha o caráter voltado à defesa do mandato da presidenta Dilma Rousseff (PT) e o outro, denominado independente, contava com partidos e coletivos que criticam pela esquerda algumas medidas do governo federal.
Ambos os atos criticaram o Congresso Nacional, conservador e fundamentalista, e estavam preocupados com a intersecção entre machismo, racismo e preconceito contra lésbicas e transexuais. O ato denominado “8 de março unificado”, que reuniu representantes do PT, PCdoB e de alguns coletivos e sindicatos, concentrou-se na Esquina Democrática. Já o “ato classista independente”, que contou com a participação do PSOL, PSTU e outras organizações e sindicatos, reuniu-se no Largo Glênio Peres e caminhou pelo Centro da cidade.
Ato classista independente
A legalização do aborto foi um dos temas reivindicados pelas participantes do ato que se reuniu no Largo Glênio Peres a partir das 17h. A ideia das manifestantes era focar no diálogo com as mulheres trabalhadoras, destacando os dados de violência contra a mulher e a redução dos direitos trabalhistas que ocorreu pelas políticas dos governos federal e estadual.
O ato contou com a presença de políticas do PSOL, como Luciana Genro e Fernanda Melchionna, e Vera Guasso, do PSTU. “Nem a direita, nem o PT, trabalhadoras no poder”, exclamaram as mulheres enquanto saíram em caminhada. Embora questões relacionadas ao governo tenham sido a causa da divisão dos atos, as críticas a medidas de Dilma não foram as únicas reivindicações do ato independente.
“Temos falado muito na legalização do aborto, especialmente nesse momento do zika vírus, isso volta à tona como uma questão de saúde pública. São milhares de mulheres vítimas de abortos clandestinos no país”, destacou Fabiana Amorim, do coletivo Juntas. Hilda Donal, do Quilombo Raça e Classe, aponta que a interrupção ilegal da gravidez vitima principalmente jovens negras e periféricas. “A maioria das que acabam nos postões de saúde por abortos mal sucedidos são as que não têm poder aquisitivo, ou seja, as negras e pobres. Se fosse legalizado, isso evitaria a morte de muitas mulheres”, considera.
Além desta pauta, Hilda menciona outros avanços necessários nos direitos das mulheres negras, como a necessidade de creches públicas para que elas possam ter independência financeira, a valorização no âmbito trabalhista e equidade salarial. Ela lembrou que o aumento da terceirização prejudica principalmente as mulheres negras, que são “as mais exploradas”.
Um pouco antes do ato sair em caminhada, algumas jovens negras de diversos coletivos se uniram e fizeram uma intervenção artística, dando as mãos e declamando a música “Mulheres Negras”, da Yzalú. “Não fomos vencidas pela anulação social, sobrevivemos à ausência na novela, no comercial; o sistema pode até me transformar em empregada, mas não pode me fazer raciocinar como criada. Enquanto mulheres convencionais lutam contra o machismo, as negras duelam pra vencer o machismo, o preconceito, o racismo”, recitavam.
Ato 8 de março unificado
Na Esquina Democrática, uma grande faixa com os dizeres “unidos contra o golpe” demonstrava a diferença de tom entre os dois atos. As mulheres presentes destacaram a necessidade de defender Dilma contra os ataques que vem sofrendo da imprensa e da direita desde que assumiu o segundo mandato, a partir do tema “mulheres unidas em defesa da democracia”.
Com a presença de vereadoras e deputadas do PT e PCdoB, elas entoavam músicas como “a nossa luta é todo dia, contra o machismo, o racismo e a homofobia”. “Nós, mulheres negras, entendemos que retrocessos no processo democrático seria um retrocesso na qualidade de vida das mulheres e pessoas negras. Queremos que a democracia se concretize com a participação das mulheres negras nos espaços de poder”, afirmou a ativista Reginete Bispo.
O ato também criticou a violência contra a mulher, a proibição do aborto e o Congresso conservador, o qual estaria diretamente ligado à tentativa de impeachment da presidenta. “Não aceitaremos o golpe! Continuaremos lutando por um sistema de representação proporcional à nossa representação na sociedade brasileira”, afirmaram.
Este ponto foi abordado também por Télia Negrão, do Coletivo Feminino Plural. “Queremos a paridade na política, queremos a metade dos cargos na política, porque somos a metade da população e só assim nós podemos nos sentir representadas. Temos um Congresso Nacional que é branco, rico, masculino, proprietário, latifundiário, velho, homofóbico, conservador. E apenas 10% daquele Congresso composto por mulheres”, apontou.
Por volta das 18h30, as mulheres saíram em caminhada pela avenida Borges de Medeiros e chegaram no Largo Zumbi dos Palmares. O ato foi encerrado ao som de “não vai ter golpe, vai ter luta” e com um chamamento para o evento em defesa de Dilma e Lula que acontece no próximo domingo (13).
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