Franklin Cunha (*)
O filósofo, psiquiatra, ensaísta, e ativista político marxista Franz Fanon, nascido na Martinica e atuado como médico durante a revolução argelina, escreveu, entre outros, um livro “ Os Condenados da Terra” cujo prefácio foi assinado por Sartre.
Trechos do mesmo: “Vocês , tão liberais, tão humanos, que atingem o preciosismo em seu amor pela cultura, parecem esquecer que possuem colônias e que lá são cometidos assassinatos em vosso nome. Temos que enfrentar um espetáculo inesperado: o estriptise de nosso humanismo. Ei-lo aqui desnudado e nada formoso. Trata-se de apenas uma ideologia mentirosa e uma estranha justificativa da vossa pilhagem generalizada. O europeu não tem podido fazer-se humano senão fabricando escravos e monstros. Nossas vítimas nos conhecem por suas feridas e por seus grilhões. Isso torna irrefutável seu testemunho”.
Os intelectuais franceses – disse Sartre – têm obrigação moral de pedir desculpas. Mas a quem deverão pedir desculpas?
Pequena digressão.
Como sabemos, empossado por autoridades nazistas, Heidegger foi durante dez meses, Reitor da Universidade de Friburgo. Em 1945, terminada a guerra todos esperavam uma palavra sua de arrependimento e de autocrítica. Nunca a pronunciou, mas ante intelectuais e jornalistas que o questionavam fez seguinte pergunta: “ Digam-me , a quem eu devo pedir desculpas?”.
Sartre respondeu por Heidegger e disse que a desculpa e o perdão deviam ter sido dirigidas às milhões de vítimas do nazismo.
Na situação brasileira, onde se decidiu não acusar, julgar ou punir ninguém pelas ações homicidas organizadas, executadas e financiadas pelo estado durante a ditadura, nem sequer foram cogitadas por parte desse mesmo estado, palavras e ações de desculpa ou de arrependimento pelas vítimas assassinadas ou desaparecidas.
E pior, os cruéis e desumanos torturadores e assassinos, são ainda hoje lembrados e até homenageados.
(*) Médico, membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
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