Franklin Cunha (*)
Não pensamos, nos pensam.
Slavoj Zizek
Marcuse (Eros e a Civilização), o ensaísta argentino J.J. Sebreli (El Ocio Repressivo) e Foucault afirmam que a repressão social funciona também dando prazer, por meio de uma das mais espetaculares e poderosas características que tem o poder atual que é o de nos dominar, entretendo-nos.
As lutas sociais do século XIX eram dirigidas contra a exploração dos trabalhadores. Em plena Revolução Industrial, quando ocorreu a maciça concentração urbana do proletariado, era evidente a exploração do trabalho através da extração da mais valia. No século XXI, no entanto, a nova revolução que a burguesia realizou foi a revolução comunicacional que constrói e domina nossa subjetividade para os interesses do capital financeiro.
Nos anos 60 e 70 do século passado, tentava-se realizar uma revolução social, mas no século XXI quem fez a revolução foi a burguesia e esta foi a revolução dos meios de comunicação. E com grande êxito, pois através do tecnocapitalismo dominam o mundo. E são tão poderosos, as fusões entre eles tão gigantescas e abrangentes que adquiriram uma capacidade de penetração no mais fundo de nossa consciências, criando um subjetivismo pessoal e coletivo dos quais poucos conseguem se furtar. Portanto, a luta fundamental de nossos dias deve ser dirigida contra a dominação de nossa subjetividade.
Foucault descreve o que ele chama de “ poder pastoral “ do Estado como tinha a Igreja na Idade Média.” Podemos chamar pastoral – diz Foucault – as técnicas de poder dos Estados modernos”. O poder pastoral na cristandade era o poder da Igreja que era exercido pelos sacerdotes os quais expressavam a palavra de Deus e quem os escutava, ouvia um poder que lhe dizia: fiquem tranquilos, esperem, tenham paciência que serão felizes no reino dos céus.
Então o poder pastoral de hoje tem este poder medieval, o de imobilizar as consciências, de freá-las, de sujeitá-las e mantê-las tranquilas. E com a vantagem sobre o poder da Igreja medieval, a de prometer a felicidade, de obter dinheiro, saúde, segurança como algo imediatamente possível.
E hoje, no lugar dos púlpitos das Igrejas, o poder pastoral é exercido através das telas, telinhas e telões presentes em todas partes e em todo o tempo e que somado com a mídia impressa nos subjugam, dominam nosso subjetivismo e pior, impedem nossa capacidade intelectiva de crítica e de debate de ideias.
Assim, cremos que o objetivo político mais importante de nosso tempo é ter consciência de que os socialmente patológicos poder comunicacional e financeiro devem ser revelados, incansavelmente refutados e rechaçados. Para não permitir que nos pensem e nos dominem.
(*) Médico Membro da Academia Rio-Grandense de Letras
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