Opinião
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25 de janeiro de 2023
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14:07

O campo progressista e a eleição de 2024 em Porto Alegre (por Carlos Eduardo Bellini Borenstein)

Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21

Carlos Eduardo Bellini Borenstein (*)

Embora a disputa de 2024 pela Prefeitura de Porto Alegre (RS) ainda esteja distante, o resultado das eleições do ano passado para governador e presidente na capital gaúcha mostra um avanço do campo progressista em relação ao pleito de 2020, quando Sebastião Melo (MDB) derrotou Manuela D’Ávila (PCdoB). A recuperação do voto de esquerda na cidade também é percebida quando comparamos os resultados de 2022 para governador e presidente com as eleições de 2018 em Porto Alegre. 

No primeiro turno da disputa ao Palácio Piratini nas eleições de 2022, Edegar Pretto (PT) venceu em seis das 10 zonais da cidade (1ª; 113ª; 114ª; 158ª; 159ª; e 161ª) em Porto Alegre. Eduardo Leite (PSDB) foi o vitorioso nas outras quatro zonais (2ª; 111ª; 112ª; e 160ª). Embora tenha chegado ao segundo turno contra Leite, Onyx Lorenzoni (PL) foi derrotado em todas as zonas.

Para efeito de comparação, no primeiro turno das eleições de 2018, Miguel Rossetto (PT), que naquela oportunidade concorreu a governador, havia vencido em apenas quatro zonais (113ª, 114ª, 159ª e 161ª) em Porto Alegre. 

Vale recordar que no segundo turno da eleição para governador de 2022, os votos dados a Edegar Pretto no primeiro turno migraram em massa para Leite, que derrotou Onyx nas dez zonais da cidade, indicando que o voto progressista teve grande peso na reeleição de Leite.

Cenário similar ao da eleição para governador ocorreu na disputa presidencial do ano passado na capital gaúcha. No primeiro turno, Lula (PT) venceu Jair Bolsonaro (PL) em oito zonais (1ª; 2ª; 113ª; 114ª; 158º; 159ª; 160ª; e 161ª) de Porto Alegre. No segundo turno da disputa, Lula foi o mais votado em sete zonais (1ª; 113ª; 114ª; 158; 159ª; 160; e 161ª). 

Apesar de Lula ter vencido em uma zonal a menos em relação ao primeiro turno, o resultado indica uma expressiva mudança em relação às eleições presidenciais de 2018 em Porto Alegre. Naquele ano, Bolsonaro venceu Fernando Haddad (PT) nas dez zonais da cidade tanto no primeiro quanto no segundo turno. A bolsonarização do voto em Porto Alegre nas eleições de 2018 levou, por exemplo, Sebastião Melo, nas eleições de 2020, a buscar alianças à direita no pleito em que venceu Manuela. 

Na disputa de 2020, em Porto Alegre, a votação de Melo nas zonais foi similar à de Bolsonaro dois anos antes. No primeiro turno da eleição de 2020 na capital gaúcha, Melo foi o mais votado em seis zonais (2ª; 111ª; 112ª; 158ª; 160ª; e 161ª). Manuela, por sua vez, venceu em quatro zonais (1ª; 113ª; 114ª e 159ª). 

Porém, no segundo turno daquela eleição, Sebastião Melo praticamente repetiu o desempenho de Jair Bolsonaro em 2018, vencendo em nove zonais (1ª; 2ª; 111ª; 112ª; 113ª; 114ª; 158ª; 160ª e 161ª) da capital. A única vitória de Manuela ocorreu na zonal 159. 

Apesar do campo progressista não eleger o prefeito de Porto Alegre desde as eleições de 2000, quando Tarso Genro (PT) derrotou Alceu Collares (PDT), os resultados das eleições de 2022 para governador e presidente na capital comparados a 2018, e também com a disputa de 2020, apontam uma recuperação do voto de esquerda/centro-esquerda na cidade. 

Vale recordar que, em 2020, mesmo tendo sido derrotada por Melo, o desempenho de Manuela D’Ávila nas urnas já indicava um avanço progressista na cidade. Naquela eleição, Manuela, no primeiro turno, obteve 29% dos votos válidos. Foi o melhor desempenho de um candidato de esquerda desde as eleições de 2004, quando Raul Pont (PT) tinha obtido 37,62% dos votos válidos no primeiro turno, mas acabou sendo derrotado no segundo turno por José Fogaça (PPS).

Em 2020, com Manuela, o campo de esquerda chegou novamente ao segundo turno numa disputa pela prefeitura de Porto Alegre, o que não ocorria desde 2008, quando Maria do Rosário (PT) foi derrotada por José Fogaça (PMDB). E o desempenho de Manuela no segundo turno de 2020 (45,36% dos votos válidos) superou a votação de Rosário no segundo turno de 2008 (41,05%).

O avanço do campo progressista nas últimas eleições em Porto Alegre (2018, 2020 e 2022) combinado o desgaste do bolsonarismo após os atos golpistas de 8 de janeiro no país, abrem espaço para a esquerda/centro-esquerda voltar a vencer na capital gaúcha após 23 anos. 

Para isso, a definição de um candidato que represente a unidade do campo progressista é necessária, evitando, por exemplo, a repetição das estratégias equivocadas nas eleições de 2012 e 2016, quando as forças de esquerda se dividiram e sequer chegaram ao segundo turno em Porto Alegre.

Outro aspecto a ser considerado é que o grupo político que administra a cidade, em que pese suas metamorfoses, é praticamente o mesmo desde 2005, quando encerrou a experiência de 16 anos da Administração Popular. 

Este longo ciclo de poder do campo de centro-direita/direita no comando de Porto Alegre mostra força ao mesmo tempo em que acumula desgastes, o que pode significar um esgotamento desse grupo político, abrindo espaço para uma transição de poder, o que potencialmente beneficiaria o campo progressista.

(*) Cientista político formado pela ULBRA-RS. Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes. É mestrando em Comunicação Social na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)

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