Saúde
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22 de janeiro de 2023
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10:15

Ambulatório Trans de Porto Alegre atende mais de 1,6 mil pessoas pelo SUS

Por
Duda Romagna
mariaeduarda@sul21.com.br
O Ambulatório T Centro fica junto ao espaço do Centro de Saúde Santa Marta. Foto: Luiza Castro/Sul21
O Ambulatório T Centro fica junto ao espaço do Centro de Saúde Santa Marta. Foto: Luiza Castro/Sul21

Em 2019, Porto Alegre começou a ter espaços voltados para o atendimento de homens e mulheres trans, travestis e pessoas não-binárias. Neste início de 2023, já são cerca de 1.640 residentes da Capital atendidas e atendidos nos dois ambulatórios criados para o público, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde. Em 2022, o Ambulatório T Centro, que atendia junto à Unidade de Saúde Modelo, ganhou nova sede no Centro de Saúde Santa Marta com atendimento das 13h às 19h de segunda a sexta-feira. Além disso, em abril foi inaugurado o Ambulatório T Zona Sul, na Restinga, atendendo nas sextas-feiras, das 8h30 às 12h30.

Também em 2022, o espaço iniciou o fornecimento de hormônios, como o undecilato de testosterona e o valerato de estradiol, a partir de uma emenda parlamentar da deputada estadual Luciana Genro (PSOL), com verba de R$ 500 mil. A médica Gabriela Tizianel, coordenadora do Ambulatório T, explica que, pelo alto custo dos hormônios em farmácias, muitos pacientes recorriam a medicamentos de baixa qualidade. “Foi muito bom poder dizer para as pessoas que agora estamos fornecendo os hormônios que elas necessitam”, conta.

Leia também: Ambulatório Trans de Porto Alegre passa a oferecer hormônios gratuitos pelo SUS

A equipe é composta por médicas de família, enfermeiras, técnicos em enfermagem, psicólogos, assistentes sociais, residentes multiprofissionais das áreas de Saúde Coletiva, Saúde Mental e Dermatologia Sanitária e oferece consultas, exames, hormonização, grupo de convivência, acolhimento e encaminhamentos.

 

No centro, o espaço funciona de segunda a sexta à tarde. Foto: Luiza Castro/Sul21

“A gente precisava oportunizar que essas pessoas pudessem buscar um espaço de saúde que compreendesse as suas especificidades, mas que, para além disso, visse as pessoas numa lógica integrada e despatologizante. Além das intervenções clínicas na saúde, com as equipes a gente tem o ambulatório como um espaço de sociabilidade das pessoas trans”, explica Sophie Nouveau Guerreiro, integrante do Comitê Técnico Estadual de Saúde LGBT e colaboradora do ambulatório.

Em conversa com o Sul21, Gabriel, 15 anos, contou que começou a ser atendido pelo Ambulatório T Centro aos 12 e, a partir do acolhimento, já recebeu o encaminhamento para iniciar o uso de bloqueadores de puberdade pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre, um dos que são considerados referência no assunto no Brasil. Esses remédios impedem o desenvolvimento de certas características corporais relacionadas à liberação do estrogênio, no caso de homens trans, ou da testosterona, no caso de mulheres trans, que são produzidos em maior escala durante a puberdade. Ele também recebe acompanhamento psicológico e participa do grupo de convivência, coordenado por Sophie.

O grupo se reúne todas as terças-feiras e oportuniza um espaço de integração e sociabilidade em uma perspectiva terapêutica. “São trazidas diversas situações que vamos trabalhando em grupo, muita na perspectiva da troca de experiências, cada um com suas particularidades, mas em geral possibilitando que as pessoas desenvolvam estratégias para superar adversidade e se fortalecer enquanto grupo, população, indivíduo”, relata Sophie. O grupo recebe pessoas de todas idades. “Temos pessoas desde 12 anos, até uma travesti que começou com 70 anos que conseguiu se sentiu confortável só agora”, completa.

 

Foto: Luiza Castro/Sul21

Para Sophie, o ambulatório é a realização de um sonho e o resultado da luta pelo direito à saúde dessa população. A conquista do laboratório foi um movimento na contramão da escalada do preconceito e do ódio às diferenças no contexto político brasileiro. “É uma mistura da questão da violência estrutural transfóbica que distancia a minha população dos direitos humanos mais básicos, com a falta de um incentivo na educação dos profissionais para se capacitarem, e por fim a gente encontra um contexto das pessoas que culturalmente aprenderam ou foram ensinadas de maneira compulsória de que a saúde não era o seu lugar”, diz Sophie.

Entretanto, um desafio encontrado na implantação do espaço foi o de conseguir profissionais. “A gente não tinha muitos profissionais de equipe da Prefeitura, ao ponto que a maior parte da equipe era de fato composta por membros de programas de residência que tinham interesse nessa pauta, majoritariamente pessoas LGBT.”

Hoje, qualquer profissional que inicia trabalhos no local passa por uma experiência observacional para se ambientar ao espaço e entender o funcionamento. Ao longo desse processo de observação, passa por capacitações.

 

Sophie Nouveau é integrante do Comitê Técnico Estadual de Saúde LGBT. Foto: Luiza Castro/Sul21

Para ser atendido pelo Ambulatório T Centro, basta comparecer ao local, no Centro de Saúde Santa Marta (rua Capitão Montanha 27, 1º andar, Centro Histórico) de segunda a sexta, das 13h às 19h ou entrar em contato pelo WhatsApp (51) 9506-9632 em horário comercial para direcionar o atendimento. Todas as pessoas que procuram o ambulatório passam por uma escuta inicial para que sejam definidas as demandas e necessidades .

Apesar de ter se tornado referência, ainda são poucos os espaços de acolhimento como o Ambulatório Trans de Porto Alegre. Confira alguns locais que contam com atendimento especializado no Rio Grande do Sul:

  • Porto Alegre
    • Ambulatório Trans Centro: Centro de Saúde Santa Marta, Rua Capitão Montanha, 27, 1º andar, Centro Histórico
    • Ambulatório Trans Zona Sul: Clínica da Família Álvaro Difini, Rua Álvaro Difini, 520, Restinga
    • PROTIG (Programa de Identidade de Gênero): Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Rua Ramiro Barcelos, 2350
  • Canoas
    • Centro de Especialidades Médicas, Rua Brasil, 438
  • Pelotas
    • Programa Pelotense de Saúde LGBT, Rua Lobo da Costa, 1764, sala 201
  • Rio Grande
    • Ambulatório da População LGBTI em Rio Grande, Rua Marechal Floriano Peixoto, nº 05
    • Hospital Universidade Dr. Miguel Riet Corrêa Jr. (HU-FURG/Ebserh), Rua Visc. de Paranaguá, 102, Centro
  • Santa Maria
    • Hospital Casa de Saúde, Rua Ari Lagranha Domingues, 188, Nossa Sra. do Perpétuo Socorro
    • Ambulatório Transcender, Policlínica do Rosário, Rua Serafim Valandro, nº 400
  • Passo Fundo
    • Centro de Referência em Saúde da Mulher e População LGBT, Rua Lava Pés, Vila Operária
  • São Borja
    • Ambulatório de Saúde LGBTTQIA+, Rua Olinto Arami Silva, 623
  • Santa Cruz do Sul
    • Ambulatório multiprofissional de atenção à saúde da população LGBTTQ+, AMBITRANS, Av. Independência, 2293, bloco 31 da Unisc
  • Novo Hamburgo
    • Centro Integrado de Especialidades em Saúde da Universidade Feevale, Rua Rubem Berta, 200, Vila Nova
  • Esteio
    • Unidade Básica de Saúde (UBS) Nickollas Gomes, Rua Fernando Ferrari, 948, Centro

 

O primeiro atendimento pode ser feito presencialmente ou online, pelo WhatsApp. Foto: Luiza Castro/Sul21

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