Opinião
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3 de novembro de 2022
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06:54

O significado da histórica vitória de Lula (por Carlos Eduardo Bellini Borenstein)

Foto: Ricardo Stuckert
Foto: Ricardo Stuckert

Carlos Eduardo Bellini Borenstein (*)

Eleito presidente da República pela terceira vez pelo voto popular, um feito inédito na política brasileira, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entra para história como o candidato mais votado numa eleição ao Palácio do Planalto, ao conquistar mais de 60 milhões de votos. 

Das 9 disputas presidenciais que o país teve desde a redemocratização, o PT venceu 5 eleições (2002, 2006, 2010, 2014 e 2022). Em todas essas vitórias, Lula, o maior líder político da história do Brasil, foi o grande protagonista. 

A vitória do último domingo (30) foi marcada por um discurso do presidente eleito na Avenida Paulista, em São Paulo (SP), que entra para história por transmitir tudo que estava em jogo nas eleições de 2022. Esta foi uma campanha que Lula conseguiu transmitir a emoção das eleições de 1989 com a amplitude e a esperança do movimento das Diretas Já, de 1984. 

Ao contrário de eleições anteriores em que venceu (2002 e 2006), Lula não representava apenas o PT, mas sim uma Frente Ampla em defesa da democracia. Não foi por acaso que Lula iniciou o discurso enfatizando que “essa não é uma vitória só do PT. Foi uma vitória de todas as mulheres e homens que amam a democracia. Essa vitória é de todos os homens e mulheres que resolveram libertar esse país do autoritarismo”.

Outro ponto fundamental do discurso de Lula foi o reconhecimento ao povo nordestino. Desde 2006, quando as políticas sociais criadas pelos governos Lula e Dilma transformaram as famílias dos segmentos mais pobres da população, a região Nordeste se transformou no grande reduto eleitoral do Lulismo. 

O Nordeste, que deu cerca de 70% dos votos válidos para Lula no 2º turno, teve grande peso nesta segunda redemocratização do país. Por isso, os nordestinos se transformaram em alvo dos segmentos conservadores onde o bolsonarismo mostra mais força – as elites brancas, de maior renda e localizadas majoritariamente nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. 

As mulheres, outro alvo do bolsonarismo, também estiveram presentes no discurso de Lula. O presidente eleito destacou que “as mulheres querem ser tratadas como sujeitas da história. A mulher quer, pode e deve estar onde ela quiser sem pedir licença”.

Também não poderia faltar no discurso de Lula o grande problema que atinge os mais pobres: a volta da fome e da pobreza. Lula mostrou sua sensibilidade ao transmitir esperança, dizendo que jamais imaginou “voltar a ver nesse país mães e pais carregando criança no colo e pedindo comida porque não têm o que comer”.

Lula sinaliza ainda com gestos concretos que o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) terá uma ativa participação no novo governo. Vale destacar que Alckmin será coordenador da transição. Em seu discurso na Paulista, Lula agradeceu a Alckmin antes de ressaltar seu compromisso com a união e a reconstrução do país.

Outro ponto central no discurso de Lula foi a busca pela união. O presidente eleito lembrou que foi eleito “para governar para 215 milhões de brasileiros. Eu vou governar para todos sem distinção, sem olhar se é rico ou se é pobre, sem olhar se é de esquerda ou de direita”.

Ao mesmo tempo, Lula deixou claro sua prioridade: “mas as pessoas têm que saber que, embora eu vá governar para todos, são os mais necessitados que irão receber a política mais influente do meu governo”.

A recuperação do país no cenário internacional foi outro trecho do discurso de Lula que merece menção: “O Brasil vai ser protagonista internacional, porque a gente vai voltar a receber os presidentes e visitar outros presidentes”, declarou o presidente eleito. 

Lula acenou ainda aos indígenas, também vítimas do bolsonarismo, ao anunciar a criação do Ministério dos Povos Originários. Também destacou sua prioridade com o combate ao racismo: “haverá uma luta ferrenha contra o preconceito e o racismo. O racismo é uma doença que nós precisamos extirpar!”.

Ao abordar temas como a vitória da democracia contra o autoritarismo, a importância da região Nordeste, dos mais pobres, das mulheres, da reinserção do Brasil no mundo, de seu compromisso com o combate à fome e a pobreza, da luta contra o racismo e a defesa dos indígenas, Lula mostra que tem a dimensão do compromisso histórico que o aguarda.

Ao mesmo tempo em que demarcou suas prioridades de seu governo, Lula mostrou seu compromisso com a reconstrução do país ao destacar que, “Não existem dois Brasis. Somos um único país, um único povo, uma grande nação”.

Lula fez um discurso de estadista. Demarcou a vitória da democracia contra o autoritarismo. Sinalizou que fará um governo de Frente Ampla, dialogando com todas as forças políticas que desejam contribuir com a reconstrução do país, sem abrir mão de seu compromisso histórico com seu povo. 

(*) Cientista político formado pela ULBRA-RS. Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes. É mestrando em Comunicação Social na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)

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