Opinião
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24 de abril de 2022
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17:15

‘Lula Já’ acerta na forma, conteúdo, posicionamento e estratégia (por Carlos Eduardo Bellini Borenstein)

Vídeo trabalha posicionamento de Lula dentro do conceito da frente ampla (Foto: Facebook/Reprodução)
Vídeo trabalha posicionamento de Lula dentro do conceito da frente ampla (Foto: Facebook/Reprodução)

Carlos Eduardo Bellini Borenstein (*)

Diante da crise na comunicação da pré-campanha do ex-presidente Lula (PT) viralizou espontaneamente nas redes sociais a peça publicitária de autoria de Juliano Corbellini, cientista político e consultor em Marketing Político, responsável pelas campanhas vitoriosas de Flávio Dino (PSB) ao governo do Maranhão de 2014 e 2018, intitulada “Lula Já”.

A peça publicitária (ver vídeo abaixo), que é uma adaptação do “Lula lá” de 1989, sintetizada no slogan “Lula Já” acerta na forma, conteúdo, posicionamento e estratégia.

Através de uma narrativa de amplitude, que se relaciona com a ideia da frente ampla anti-bolsonarista que Lula busca construir desde a escolha do ex-governador de São Paulo (SP) Geraldo Alckmin (PSB) como seu parceiro de chapa, o comercial foca em prioridades do eleitorado que deve ser decisivo no pleito – e tem como prioridades do seu dia-a-dia a superação do fome e do desemprego. 

A peça publicitária relembra que os brasileiros “perderam o que era nosso”, fazendo uma comparação com o bem-estar econômico e social da Era Lula (2003-2010) com a situação atual. Outros dois pontos centrais do comercial é a menção que hoje o brasileiro “enxerga ódio ao invés de esperança” e que “precisa que se governe com o coração e com a competência, que em vez da briga promova o diálogo, e que conheça o caminho, colocando o Brasil nos trilhos”. Com isso, o material publicitário oferece uma mensagem de futuro – a esperança de um país melhor – ao mesmo tempo em que apresenta Lula como o candidato que irá, através do diálogo, construir o caminho para solucionar os problemas. Num cenário de crise econômica e social, o ex-presidente é apresentado como um candidato com experiência para resolver este problema.

Outro acerto do comercial é a menção a frase bíblica “Quando o justo governa, o povo se alegra”. O eleitorado religioso, principalmente os evangélicos, são uma importante base do bolsonarismo. Ao apresentar a frase bíblica, o comercial de autoria de Juliano Corbellini sinaliza para essa fatia do eleitorado que é influenciado por valores religiosos. 

A peça publicitária também acerta na linguagem e estética de amplitude. A bandeira nacional e a utilização da cor azul juntamente com o vermelho busca penetrar nos setores do eleitorado para além da esquerda tradicional. E essa ideia de amplitude é combinada com a emoção, mostrando Lula junto ao povo. Do ponto de vista do posicionamento e da mensagem, o comercial busca atrair a fatia do eleitorado que não é ideologicamente antipetista, mas foi capturada por esse sentimento nas eleições de 2018 e hoje se afastou de Jair Bolsonaro. “Tem gente que sempre foi Lula. Tem gente que nunca foi Lula. E agora está lulando. Eu já lulei”, diz um dos trechos do comercial. 

O PT nacional ainda está debatendo os rumos da comunicação da pré-campanha de Lula após a demissão do marqueteiro Augusto Fonseca. Nesse comercial criado por Corbellini há avanços importantes para o partido no que diz respeito as peças publicitárias criadas por Fonseca e que foram utilizadas na propaganda partidária recentemente. O material produzido por Fonseca carecia de emoção, mostrava Lula dentro de uma sala, e apostava num slogan vazio (“Se a gente quiser a gente pode”), praticamente reproduzindo o “Sim, nós Podemos”, da campanha de 2008 do então candidato democrata à presidência dos EUA, Barack Obama. 

Já no comercial “Lula Já”, de Juliano Corbellini, acerta na forma, conteúdo, posicionamento e estratégia, que é o grande desafio de uma campanha eleitoral. Apostando na emoção, Lula é apresentado como a única opção para resolver problemas como a fome e o desemprego, através do diálogo e tendo como credenciais sua experiência como presidente. Outro foco importante do comercial é o posicionamento de Lula dentro do conceito da frente ampla, buscando atrair o eleitor que ainda não “lulou”. 

(*) Cientista político formado pela ULBRA-RS. Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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