Opinião
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22 de fevereiro de 2022
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12:04

Nilce queria ser bailarina, mas nasceu na América Latina (por Ateneu Libertário A Batalha da Várzea)

Nilce Azevedo Cardoso, militante histórica da Ação Popular (AP) (Reprodução/Facebook)
Nilce Azevedo Cardoso, militante histórica da Ação Popular (AP) (Reprodução/Facebook)

Ateneu Libertário A Batalha da Várzea (*)

É com muita tristeza que recebemos a notícia do falecimento de Nilce Azevedo Cardoso, militante histórica da Ação Popular (AP) que ficou conhecida pela sua imensurável coragem na luta e resistência contra a ditadura civil-militar.

Nilce foi uma mulher guerreira que não cansava de dizer que “aprendeu política e coragem” quando se “integrou na produção” e passou a viver com as mulheres pobres que enfrentavam a dor de perder seus filhos para fome.

Quando narrava suas memórias dando o seu importante testemunho das lutas e agruras vividas nas diferentes frentes de luta contra a ditadura, Nilce sempre começava dizendo que “queria ser bailarina”, mas aí chegou na USP e junto com ela chegaram os tanques do golpe de 1964.

O sonho da “bailarina que só queria dançar” foi sendo transformado pela consciência da situação política do país, do continente, do mundo… Nilce integrou a Ação Popular e foi uma militante de linha de frente, dirigente, enfrentou com a coragem característica das mulheres o “centralismo democrático” machista das organizações de esquerda da época.

Devido a sua atuação política e a sua condição de mulher (na cabeça da repressão mais sensível e suscetível a “abrir” o que sabia) foi perseguida, capturada, “interrogada”, barbaramente torturada (aqui barbaramente não é mero exercício retórico) e presa.

Por coragem e convicção na luta, por compromisso com seus e suas companheiras nunca disse nada, apenas que não sabia. De tanta tortura e de tanto não saber, acabou esquecendo quem era.

Travou outra luta para redescobrir quem era. Narrar suas memórias, trazer seu testemunho foi a forma que encontrou para se reencontrar com a memória, para contribuir com a luta por VERDADE e JUSTIÇA, para que NUNCA MAIS ninguém tenha que ser torturado, em ditadura ou em “democracia”.

Nilce deixa um legado de coragem e abnegação, um exemplo que só pode ser efetivamente honrado seguindo a sua luta contra todas as formas de arbítrio e opressão! Hoje e sempre, NILCE PRESENTE!

(*) Artigo publicado originalmente nas páginas do Ateneu Libertário A Batalha da Várzea no Facebook e no Instagram

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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