Opinião
|
15 de dezembro de 2021
|
17:40

Lula e Alckmin, a frente ampla antibolsonarista em construção (por Carlos Eduardo Bellini Borenstein)

Geraldo Alckmin e Lula. (Foto: Divulgação e Ricardo Stuckert)
Geraldo Alckmin e Lula. (Foto: Divulgação e Ricardo Stuckert)

Carlos Eduardo Bellini Borenstein (*)

A saída do ex-governador de São Paulo (SP) Geraldo Alckmin do PSDB sinaliza que está em curso uma costura política para que Alckmin seja o candidato a vice-presidente na chapa que será encabeçada pelo ex-presidente Lula (PT) na disputa de 2022 ao Palácio do Planalto. 

Em sua carta de desfiliação do PSDB, Alckmin emitiu sinais que está se reposicionando politicamente. “É um novo tempo! É tempo de mudança! Nesses mais de 33 anos e meio de trajetória no PSDB procurei dar o melhor de mim. Um soldado sempre pronto para combater o bom combate com entusiasmo e lealdade. Agora, chegou a hora da despedida. Hora de traçar um novo caminho”, afirmou o ex-governador. 

Embora a chapa Lula-Alckmin ainda seja alvo de debate no campo progressista, essa possível composição tende a selar a construção da frente ampla antibolsonarista para a sucessão de 2022. 

Desde a anulação de suas condenações no âmbito da Operação Lava Jato, Lula vem caminhando ao centro. Vale lembrar que Lula teve encontros com líderes históricos do PSDB como, por exemplo, o ex-presidente FHC e o senador Tasso Jereissati. Também dialogou com líderes regionais do MDB e conversou com o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. Esse conjunto de movimentos tem sinalizado uma inflexão de Lula ao centro. 

Em recentemente entrevista concedida ao jornalista Mário Sérgio Conti, da GloboNews, o ex-prefeito de SP Fernando Haddad (PT), ao comentar a aproximação entre Lula e Alckmin, afirmou que a negociação parte de um entendimento do PT de que o segundo turno de 2022 não pode ser o mesmo de 2018. 

Haddad lembrou que no segundo turno de 2018, os três candidatos a governador do PSDB que disputaram segundo turno apoiaram Jair Bolsonaro. E três dos quatro candidatos a governador do PDT também fizeram campanha para Bolsonaro. 

A afirmação de Haddad confirma uma mudança na estratégia petista em buscar uma ampliação de alianças com setores democráticos, mesmo que alguns deles não sejam progressistas. De acordo com Haddad, foi dentro dessa circunstância que Lula procurou FHC, Tasso e Alckmin.

A chapa Lula-Geraldo Alckmin – se confirmada – representará o grande movimento estratégico da sucessão de 2022 até agora. O campo da esquerda/centro-esquerda está hegemonizado por Lula. Com a aliança com Alckmin, Lula e o PT avançam sobre o centro político e impõe obstáculos ao centro-liberal-lavajatista representado pelas pré-candidaturas do ex-ministro Sergio Moro (Podemos) e o governador de SP, João Doria (PSDB).

Mesmo que Lula e Alckmin tenham construído sua carreira política em SP, a chapa terá uma grande força nacional. Hoje, Lula tem mais de 60% das intenções de voto no Nordeste, que é a segunda região mais populosa do país. E Alckmin possui um grande prestígio em SP, principalmente no interior do estado, onde existem resistências ao PT. Assim, Lula, tendo Alckmin como vice, além contar com a força política do Lulismo no Nordeste, quebra resistências em um tradicional reduto antipetista. 

Outro aspecto importante é que ao firmar uma composição com um adversário histórico do PT – Geraldo Alckmin – Lula materializa a frente ampla antibolsonarista. Com a frente ampla, Lula caminha para o centro, dificultando a estratégia bolsonarista de radicalizar o debate contra a esquerda. 

Tendo Alckmin como parceiro de chapa, Lula também impõe obstáculos para Moro e Doria, pois Alckmin possui prestígio na fatia de eleitores de classe média alta dos grandes centros urbanos, principalmente de SP, que votou em Bolsonaro em 2018 e agora se desgarrou dele. Assim, a partir da aliança com Alckmin, Lula começa a construir o diálogo com um eleitor que foi muito refratário ao PT em 2018. 

Outra consequência envolve a disputa pelo governo de SP. Com Geraldo Alckmin concorrendo como vice de Lula, cresce a possibilidade do campo progressista vencer, pela primeira vez, uma eleição no maior colégio eleitoral do país. Mesmo que ainda exista o desafio de encontrar um entendimento entre Haddad, o ex-governador Márcio França (PSB) e Guilherme Boulos (PSOL), uma união de forças em SP tendo a chapa Lula-Alckmin como cabos eleitorais fortalece as forças progressistas-democráticas em SP.

Conforme podemos observar, a chapa Lula-Alckmin é eleitoralmente muito poderosa. A composição rompe o paradigma da radicalização de 2018, constrói a frente ampla antibolsonarista, quebra resistências ao PT em SP, amplia o diálogo com o centro e impõe obstáculos para Bolsonaro, Moro e Doria. Mais uma vez uma, Lula mostra sua sagacidade política ao encaminhar a composição de uma chapa com potencial para desarticular seus rivais. 

(*) Cientista político formado pela ULBRA-RS. Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes

***

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora