Carlos Eduardo Bellini Borenstein (*)
As especulações envolvendo a construção de uma chapa unindo o ex-presidente Lula (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que deixará o PSDB para se filiar ao PSD ou PSB, tem crescido nas últimas semanas. Diante desta possibilidade, algumas reflexões são importantes.
O primeiro aspecto é que uma aliança entre Lula e Alckmin seria eleitoralmente poderosa. Lula possui uma extraordinária força entre o eleitorado da região Nordeste e junto aos segmentos sociais de menor renda e escolaridade. Desde o realinhamento eleitoral realizado por Lula 2006 – e que foi objeto de estudo por parte do cientista político André Singer – surgiu o chamado Lulismo, que possui um forte vínculo social com o eleitorado de menor renda e escolaridade. Embora os setores conservadores façam uma leitura equivocada desse fenômeno, restringindo o Lulismo ao sucesso econômico e social da Era Lula, o vínculo de Lula com essas camadas da população é estruturado em valores de classe, algo muito mais profundo que a simples relação econômica.
Por outro lado, a partir deste realinhamento eleitoral, Lula e o PT perderam capital político junto as classes médias dos grandes centros urbanos, conforme mostram os resultados das eleições presidenciais de 2006, 2010, 2014 e 2018.
Caso se concretize, a aliança com Geraldo Alckmin tem o potencial de quebrar essas resistências, ajudando Lula a dialogar com os segmentos que foram perdidos. Mais do que isso, se tiver Alckmin como vice, Lula poderá crescer em São Paulo, maior colégio eleitoral do país e que se transformou num dos epicentros do antipetismo, principalmente no interior, que é conservador.
O segundo aspecto é que a aliança Lula e Alckmin, guardadas as devidas proporções, repetiria a fórmula da dobradinha de sucesso entre Lula e o hoje falecido ex-vice-presidente José Alencar. Na eleição de 2002, Alencar foi uma peça estratégica para Lula quebrar resistências junto aos empresários. Dono da Coteminas e filiado naquela oportunidade ao PL, Alencar foi fundamental na construção da aliança capital-trabalho.
O terceiro aspecto importante é que a composição Lula-Alckmin praticamente inviabilizaria uma chapa de centro-direita alternativa ao bolsonarismo. Tendo Alckmin de vice, Lula avançaria em direção ao centro. Como este campo está bastante pulverizado, as demais alternativas encontrariam dificuldades para se viabilizar.
O quarto aspecto é que a eventual aliança com Alckmin selaria a construção da frente ampla antibolsonarista, que vem sendo esboçada desde as conversas que Lula tem tido com o ex-presidente FHC e demais líderes de centro.
No campo progressista, há quem veja a aliança Lula e Geraldo Alckmin como um equívoco, afinal de contas Alckmin é um histórico adversário das esquerdas em São Paulo. Embora existam contradições, o momento histórico não deve ser desconsiderado. Para derrotar o bolsonarismo em 2022, Lula precisa conquistar aquilo que não tem, ou seja, o eleitor de centro que votou em Jair Bolsonaro nas eleições de 2018 e hoje tem uma postura crítica em relação ao governo.
E para conquistar o centro, Lula precisa fazer sinalizações, assim como fez em 2002 como a aliança com José Alencar e a “Carta ao Povo Brasileiro”. Lula já conta com o voto da esquerda. E uma aliança pressupõe negociar e conquistar aquilo que você não tem, deixando de lado posturas sectárias que levam ao isolacionismo.
(*) Cientista político formado pela ULBRA-RS. Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes
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