Opinião
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3 de novembro de 2021
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17:18

O novembro negro e o racismo revelado (por Maister F. da Silva)

Faculdade de Medicina da UFMG oferece toucas próprias para 'cabelos volumosos' (Foto: Portal da Faculdade de Medicina/UFMG)
Faculdade de Medicina da UFMG oferece toucas próprias para 'cabelos volumosos' (Foto: Portal da Faculdade de Medicina/UFMG)

Maister F. da Silva (*)

Assassinatos brutais, achaque, cárcere privado e discriminação contra trabalhadoras domésticas negras são alguns dos fatos com que a sociedade brasileira contemporânea convive e faz de conta que não vê. Algo como aqueles casos de violência ou assédio que as famílias e os círculos de amigos fazem questão de esconder embaixo do tapete para não se incomodar. O detalhe é que assim como no ambiente familiar, o ocultamento dessa chaga chamada racismo criou um país ignorante, incapaz e enrustido.

O discurso da intelectualidade brasileira que se impôs foi errôneo desde sua gênese, Gilberto Freyre com seu mito da democracia racial e os próprios intelectuais de esquerda que ainda hoje afirmam que vivemos no Brasil um ambiente de racismo velado reproduzem de forma subjetiva esse enrustimento. O racismo no Brasil é revelado e explícito, é velado só nos grandes meios de comunicação televisivos, jornalísticos, radialisticos, na grade curricular do ensino fundamental, médio e universitário e nos ensaios literários dos pseudo-intelectuais.

Como é possível afirmar que vivemos um ambiente de racismo velado, onde a Faculdade de Medicina da UFMG oferece toucas descartáveis específicas para cabelos volumosos, como os trançados e o black power/afro, quando, a cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado, onde, segundo dados do IBGE, sete em cada 10 pessoas que moram em casas com algum tipo de inadequação são pretos ou pardos (ausência de banheiro exclusivo, existência de paredes externas com materiais não duráveis, adensamento excessivo de moradores, ônus excessivo com aluguel e ausência de documento de propriedade), onde os atores e atrizes negros foram até agora praticamente obrigados a interpretar serviçais ou personagens de caráter duvidoso, onde mais de 80% dos trabalhadores em situação análoga à escravidão são negros. 

Para vencer a ignorância primeiro é preciso admitir, o Brasil é racista, o racismo não é velado e precisamos de uma intervenção à altura desse inimigo do desenvolvimento cultural e econômico da nação, que pode iniciar com a revisão do currículo escolar e a inclusão da educação antirracista como disciplina obrigatória em escolas públicas e privadas. Educar a sociedade brasileira para uma transição geracional preparada para enfrentar seus dogmas e medos, o universo acadêmico não pode se manter alheio ao racismo cotidiano a que estamos submetidos, ou discutir o tema em guetos e pequenos espaços alusivos a datas comemorativas.

São muitas perguntas, a resposta é uma só. 

O racismo sempre foi revelado. Para quem não escolheu andar com os olhos cobertos!

(*) Graduando em Administração Sistemas e Serviços de Saúde da UERGS.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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