Opinião
|
18 de outubro de 2021
|
08:24

Dólar alto é bom só pra quem lucra com a penúria e a morte do povo (por Fernanda Melchionna)

Deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS) (Foto: Maia Rubim/Sul21)
Deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS) (Foto: Maia Rubim/Sul21)

Fernanda Melchionna (*)

O Brasil anda estarrecido com os preços abusivos da gasolina, do gás de cozinha e dos alimentos, e a vida anda difícil com a dor do luto das mais de 600 mil vidas perdidas pela COVID-19. Mas há quem chore pelas vítimas da pandemia e padeça com o alto custo da vida e quem esteja a lucrar e a sorrir.

“O dólar está alto. Qual o problema? Zero” Essa declaração dada pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes, diz muito sobre a crise social, política e econômica do país. Quando a superexploração do povo é um projeto, a fome não é acidente. Quando o genocidio é parte de uma necropolítica, a morte não é mera consequência. Dólar alto é bom somente para os acionistas do mercado financeiro e para o agronegócio. E para quem pediu propina (um dólar por dose de vacina) e para ministro que mantém offshore milionária hospedada em paraíso fiscal no exterior.

Neste mês, o dólar atingiu o maior valor desde abril (R$ 5,45), o que vem tornando tudo que o trabalhador compra e come mais caro, ainda mais diante de um salário mínimo baixo e com menor poder de compra por conta da inflação. A política econômica ultraliberal de Guedes e Bolsonaro, voltada para os interesses do sistema financeiro, tem o câmbio flutuante com cláusula pétrea do tripé macroeconômico.

A consequência dessa desastrosa política, que se apoia na “mão invisível do mercado” (ou seja, na intervenção zero do Banco Central no mercado de câmbio) reflete diretamente no preço dos produtos vendidos pela Petrobrás. Mesmo que cerca de 80% dos combustíveis consumidos no país, por exemplo, sejam produzidos em território brasileiro, o preço cobrado equivale ao de um produto importado. Por quê? Hoje, os preços dos hidrocarbonetos são definidos com base na variação internacional do barril de petróleo e na cotação do dólar através do chamado Preço de Paridade de Importação (PPI). Uma política com alto impacto inflacionário, como temos visto no aumento do preço dos alimentos.

Levando em conta que parte significativa do valor da gasolina, do diesel e gás de cozinha são definidos direto na refinaria da estatal, apresentei um projeto na Câmara dos Deputados para “desdolarizar” a política de preços da estatal, optando por um modelo que leve em consideração os custos reais da empresa para a produção, extração e refino em solo nacional. Com isso, o valor do litro da gasolina e do diesel passariam para R$ 4,52 e R$ 3,73, respectivamente, e o valor do botijão de cozinha passaria para R$ 67,79.

Por mais que o Brasil tenha tantas outras dificuldades, é preciso ter iniciativas e agir. É urgente fazer diferente do atual governo que mente ao dizer que o aumento do preço da gasolina é devido ao ICMS em uma tentativa vil de colocar a culpa nos governadores. Enquanto a população pobre está na fila do osso e o país tem mais da metade da população vivendo em insegurança alimentar, o Brasil ganhou 40 novos bilionários em 2021 – maioria acionistas e setores ligados ao agronegócio. Isso é o que deveria indignar qualquer um que se reivindique patriota.

O Brasil precisa se tornar um país sério e não permitir que um ministro da Economia arraste o país ao abismo visando interesses particulares e de quem o apoia. O faturamento de Paulo Guedes no valor de R$ 14 milhões com seu rendimento fiscal no Caribe só não é mais escandaloso e desumano que o pacto de morte desse mesmo ministro, com aval do chefe da Presidência da República, com a operadora de saúde Prevent Senior. Para quem recomenda induzir contaminados pela COVID-19 ao óbito para liberar leitos (visando o lucro), o único lugar que lhe é possível é na cadeia.

 (*) Deputada federal PSOL/RS e vice-líder do PSOL e da Oposição na Câmara dos Deputados.

§§§

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora