Geral
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8 de outubro de 2021
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17:50

Pacientes no chão expõem precarização da rede de saúde mental de Porto Alegre

Por
Luís Gomes
luisgomes@sul21.com.br
Foto feita por trabalhadores mestra pacientes no chão por falta de leitos no PACS | Foto: Reprodução
Foto feita por trabalhadores mestra pacientes no chão por falta de leitos no PACS | Foto: Reprodução

O Sul21 recebeu nesta sexta-feira (8) imagens, feitas na quinta-feira (7), de pacientes de saúde mental deitados no chão e sobre mesas por falta de leitos no Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul (PACS). Segundo funcionários do local, a área de atendimento em saúde mental está funcionando nesta semana com o dobro de sua capacidade, o que resulta em falta de leitos e profissionais de saúde para atender a demanda. Trabalhadores denunciam que a superlotação é resultado da precarização da rede de saúde mental de Porto Alegre.

Integrante da comissão de trabalhadores do PACS e representante da CUT-RS no Conselho Municipal de Saúde (CMS), Alberto Terres diz que a capacidade do plantão de emergência em saúde mental (PESM) é de atender 14 pacientes simultaneamente, mas a média está em 26 pacientes nesta semana. Nesta sexta-feira, quando visitou o local acompanhado da vereadora Laura Sito, eram 28 pacientes internados. “Aí ficam pacientes no chão, pacientes em cima de mesas, porque não tem cama, não tem coberta, faltam servidores”, diz.

Pacientes também estariam deitados sobre mesas | Foto: Reprodução

Laura Sito diz que irá cobrar uma reunião emergencial com o secretário municipal de Saúde e com a coordenação do PACS para tratar do tema. “Temos nove pessoas na fila de espera, muitas crianças, umas com menos de 10 anos. Contidas, amarradas com lençol”, relata. “Pessoas que estavam ali internadas e não podiam tomar banho, porque não tinha lençol para trocar. Imagina, numa crise sanitária como as que vivemos, as pessoas não podendo tomar banho por falta de lençol”.

Segundo Laura, a coordenação de Enfermagem do PACS já solicitou a contratação de mais 34 técnico da área para garantir a qualidade mínima de atendimento aos internados. “É preciso que a Prefeitura contrate mais técnicos de Enfermagem para conseguir garantir um atendimento mais adequado. E o que é emergencial, mesmo, é que a Prefeitura aumente o número de leitos para a internação. Ali, na verdade, não é um lugar para isso, é um espaço de triagem e porque não tem leitos suficientes, acaba por ser um lugar de internação”.

Terres diz que já foi solicitada uma reunião com o secretário em 23 de setembro e que ainda não houve retorno. Para ele, o principal problema que resulta na superlotação do PACS é a desarticulação da rede de saúde mental do município.

“O usuário tem um surto psicótico, é paciente com transtorno mental ou é dependente químico, ele vai para a emergência em saúde mental. Chegando aqui, ele é atendido, mas aqui não é um hospital, ele tem que ser encaminhado para o Hospital Espírita ou para outra clínica. Mas, como não tem uma rede de saúde mental estruturada em Porto Alegre hoje, que passaria pela prevenção, pelo cuidado, pela emergência e pela internação, o usuário chega aqui, é atendido e muitas vezes, como não tem para onde mandar, ele fica internado aqui. Aí não tem recursos humanos, não tem estrutura. Tem que ter uma política que abarque principalmente a prevenção, mas os últimos governos acabaram com as políticas de saúde mental. Infelizmente, os pacientes ficam nessa situação degradante, de humilhação”, diz.

A vereadora Laura diz que vai convocar uma reunião da Comissão de Direitos Humanos, Cidadania e Defesa do Consumidor (Cedecondh), da qual é integrante, para abordar o problema, especialmente pelo alto número de crianças e adolescentes internados.

Procurada, a SMS reconhece que há superlotação e apontou que está trabalhando para viabilizar a abertura de leitos em saúde mental. “A Secretaria Municipal de Saúde trabalha junto à Central de Leitos e aos hospitais da Capital para conseguir viabilizar a abertura de leitos e o encaminhamento dos pacientes do Pronto Atendimento de Saúde Mental Cruzeiro do Sul o mais rápido possível. Também são encaminhados pacientes ao CAPS para evitar internações”, diz a secretaria em nota.

Contudo, em relação à situação de pacientes deitados no chão e em cima de mesas, a secretaria diz que há cadeiras disponíveis para todos e que eles não deveriam estar nessas condições. “Quanto à imagem de pacientes deitados, a orientação é não deixar ninguém deitado no chão. São ofertadas cadeiras para todos os pacientes, mas nem todos as utilizam”, diz a nota da SMS.


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