Selvino Heck (*)
A notícia: “Desigualdade de renda aumenta 3,1% na Grande Porto Alegre no final de 2020. Estudo aponta maior diferença entre ricos e pobres e impacto mais forte da crise em relação aos mais vulneráveis.”
Dia 10 de julho foi o Dia da Solidariedade em Porto Alegre. Foram arrecadados militantemente 2 toneladas de alimentos e distribuídas 170 cestas básicas, 250 pães e 1000 quentinhas para cozinhas comunitárias nas regiões Glória, Cruzeiro e Farrapos, com ampla mobilização dos Comitês Populares contra a Fome existentes em diferentes bairros da capital gaúcha. Arroz orgânico foi doado pelo MST para as quentinhas e para outras 23 cozinhas comunitárias na Grande Porto Alegre. No total, 5 mil refeições foram preparadas e acabaram sendo distribuídas. Tudo organizado pelas Frentes Populares, Centrais Sindicais, pastorais de diferentes igrejas, partidos e setores mobilizados da sociedade civil.
São tempos de denúncia e de anúncio. A denúncia é fundamental e necessária, em tempos tri difíceis, quando circulam o ódio, a intolerância, o racismo, quando ditaduras disfarçadas e o neofascismo dominam a sociedade, quando a fome, a miséria e o desemprego voltam a estar no cotidiano de milhões de brasileiras e brasileiros.
E acontece, profeticamente, o anúncio, por outro lado e ao mesmo tempo, do novo, da solidariedade ainda e sempre presente, do ‘outro mundo possível’, urgente e necessário que, de alguma forma, constrói-se no meio da pobreza, de baixo para cima, com consciência política, com cidadania, com direitos, com soberania popular e democracia.
Os Comitês Populares contra a Fome estão se espalhando, seja pela necessidade concreta, quanto como forma de resistência ativa. Nos Comitês Populares constroem-se direitos, consciência política, humanidade. Neles, faz-se formação na ação, freireanamente, lembrando o Movimento contra a Carestia dos anos 1970 e a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida dos anos 1990. São os gestos concretos de solidariedade na emergência, na falta ou extinção de políticas públicas por parte dos governos em diferentes níveis. O povo e a sociedade organizada não se deixam dominar. Como sempre na História, são fonte de esperançar, de futuro e de amanhã, com coragem e fé na vida.
A Conferência Popular de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, aconteceu dias atrás com mais de 300 participantes, discutindo políticas de soberania e segurança alimentar e nutricional, como de agroecologia e produção orgânica, rumo à Conferência Popular nacional. Assim, estão acontecendo também as Conferências Populares nacionais de Economia Solidária e de Educação. É a participação popular concreta, envolvendo milhares de militantes, educadoras e educadores populares. Que lá atrás, com Conferências e mobilização social construiu, por exemplo, o SUS e tantas outras políticas públicas.
As mobilizações populares continuam e vão crescendo de tamanho, desde 29 de maio, passando pelo 19 de junho,10 de julho, 13 de julho. A próxima data de mobilização nacional do VACINA NO BRAÇO, COMIDA NO PRATO, FORA BOLSONARO será no sábado 24 de julho. Em Porto Alegre está sendo chamada a Caminhada ou Passeata dos 100 mil, lembrando a Passeata dos 100 mil, acontecida em 1968 no Rio de Janeiro, depois da repressão e assassinato do estudante Edson Luís. E assim será e acontecerá em todo Brasil dia 24 de julho.
O vigésimo sétimo Grito das Excluídas e dos Excluídos, organizado pela CNBB todos os anos no dia 7 de setembro, tem como tema e lema em 2021, e vai espalhar-se com força nas ruas de todo país: VIDA EM PRIMEIRO LUGAR – NA LUTA POR PARTICIPAÇÃO POPULAR, SAÚDE, COMIDA, MORADIA, TRABALHO E RENDA JÁ!
No Rio Grande do Sul, está em preparação, para novembro ou dezembro, um Plebiscito Popular contra as privatizações, lembrando os grandes Plebiscitos Populares contra a AlCA, no início dos anos 2000, e o Plebiscito pela Reforma Política com Constituinte exclusiva e soberana em 2014.
Nada mais poderoso que a mobilização popular com unidade, acompanhada de solidariedade. Como foi nos anos 1970/1980/1990, em plena ditadura, quando a luta pela redemocratização juntou amplos setores da sociedade, em torno do Movimento contra a Carestia, das Diretas-Já e a favor de uma Constituinte exclusiva e soberana, da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida.
O povo não se cala, nem se calará, nem fica ou ficará em casa mesmo com a pandemia. Sai como sempre saiu, e sairá às ruas, com todos os cuidados sanitários. Ditadores, elites conservadoras elitistas e antidemocráticas foram, estão sendo, serão derrotadas mais uma vez. E o sol da liberdade, da justiça, da igualdade, da soberania e da democracia brilhará intensamente.
(*) Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990)
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