Por Lélia Almeida*
Fato inegável é que as mulheres foram figuras de protagonismo na imprensa do país desta semana. Las Damas de Blanco, ou las locas de La Habana, Reyna Luisa Tamayo e Laura Pollán, de Cuba, chamaram o Presidente Lula e o Comandante Fidel às falas, clamando por justiça pela morte dos seus filhos. As Mães de Luziânia estarão em audiência pública no Senado, trazidas pelo Senador Cristóvão Buarque, para indagar sobre o desaparecimento dos seus meninos. E as pesquisas apontam que o maior índice de reprovação do governo Lula vem das mulheres e que o maior índice de rejeição à candidata Dilma, é feminino também.
Algumas explicações seriam apontadas pelo Observatório de Gênero do governo para explicar o fenômeno: a associação, cultural e histórica, da figura feminina ao âmbito privado e doméstico e, portanto, a interpretação óbvia de que as mulheres não podem ocupar cargos públicos e de poder. Nada mais classe média do que esta explicação. Há, historicamente, uma multidão de mulheres, cujas linhagens e gerações, sempre trabalharam fora de casa e jamais souberam o que era ficar em casa cuidando dos filhos e dependendo de um marido provedor.
A questão é que os marqueteiros de plantão se perguntam pela fórmula mágica, pela composição da beberagem que deverão ministrar à candidata Dilma, que qual uma passiva Galatéia de Pigmalião, deverá se travestir em personagem infalível para conquistar esta exigente fatia de votos, enquanto repetem sem respostas o bordão freudiano: afinal, o que querem as mulheres?
E o que querem as mulheres brasileiras? O vão querer as mulheres brasileiras na hora de votar?
A maioria das mulheres brasileiras é pobre, vive em condições desumanas e não lhes são permitidos grandes sonhos nem delírios. Elas querem poder trabalhar, cuidar dos seus filhos e sobreviver com dignidade. Não é muito o que elas querem e, portanto, não há como enganá-las. Não há cosmética que as convença.
Gosto do de lembrar o filme do espanhol Pedro Almodóvar, Tudo sobre minha mãe, dos anos 90, quando a personagem Amparo, que é um travesti, fala sobre ser autêntica, mostrando tudo o que nela é postiço e dizendo que a medida da nossa autenticidade é o quanto realizamos daquilo que sonhamos ser.
Penso que o mistério do voto das mulheres, um assunto tratado por alguns, com luvas de pelica, talvez possa ser desvendado de maneira fácil. Eu, que sou uma cidadã comum e que ouço as mulheres brasileiras há muitos anos, diria aos magos de plantão, que não há receitas miraculosas. E diria à Ministra Dilma que a fórmula para conquistar o voto das mulheres brasileiras, é simples: Seja você mesma, Ministra Dilma. Não sucumba aos aventais xadrezinhos, aos ares de vovozinha e nem às falsas pérolas. Nada disso combina com a senhora. As mulheres deste país não são burras, sabem o que querem e sabem que a medida da autenticidade é a única que vale, lá, no frigir dos ovos.
Represente apenas a si mesma, Ministra Dilma.
E represente, assim, as mulheres brasileiras, que são bravas e não desistem nunca.
E tenha a certeza de que, então, elas saberão escolher em quem votar.
* Escritora.
Blog: mujerdepalabras.blogspot.com