Opinião
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2 de fevereiro de 2011
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08:00

“Il pericolo giallo”

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br

Franklin Cunha

“Como lemos na imprensa mundial (e muito pouco na brasileira), os chineses estão se propondo a comprar as dívidas públicas de Portugal, Espanha, Grécia e até da Itália. As negociações estão adiantadas, eis que os emissários do governo chinês acabam de visitar Portugal e Espanha. Já propuseram a compra dos 50 bilhões de dólares da dívida portuguesa em troca de um aumento substancial do comércio bilateral sino-português. Já estão a fechar o mesmo tipo de negócios com a Espanha que, junto com seus vizinhos ibéricos, irão pagar ditas dívidas com seus melhores e principais produtos: vinhos, frutas, azeitonas, azeites, carnes. Tudo o que os chineses querem para alimentar seu bilhão e trezentos milhões de compatriotas. Detalhe é que com a Espanha, os negócios estenderão aos investimentos espanhóis na América Latina, tais como empresas de petróleo, de telefonia, de produção de energia eólica e de bancos”.
Sob o tíitulo de “A indignação da imprensa portuguesa”, em 8 de janeiro, escrevemos um texto para o Sul21, no qual comentávamos notícias da economia e comércio internacionais e assinalávamos o fato de que a China comprara as dívidas de Portugal e Espanha. E que esses “negócios da China” poderiam ter consequências para o Brasil e para a América Latina em geral.

Confirmando o que já tínhamos lido na imprensa europeia (e assinalávamos que a mídia cabocla nada tinha noticiado sobre o tema), agora, revistas do centro do país estão, com certo tom alarmista, a chamar atenção sobre ” il pericolo giallo”. Os negócios dos netos de Mao Zedong são chamados de “quarta onda de investimentos ” no Brasil, sucedendo os americanos, europeus e a península ibérica.

Exemplos do que está a acontecer são as compras da petrolífera Sinopec a qual adquiriu 40% da subsidiária da Repsol espanhola no Brasil e, alguns meses antes, uma outra empresa de mineração chinesa pagou um milhão e meio de dólares pela mineradora Itaminas.

Sem falar nos milhares de hectares de terras compradas para o plantio de soja, principalmente no chamado cerrado nordestino.

A “China Town” do momento não são mais certos bairros das maiores cidades do mundo, onde de tudo se comprava barato em miríades de lojinhas. Agora podemos falar de “China World “, tais são os grandes negócios chineses pelo mundo afora.

Terras, minérios, poços de petróleo, carne, soja, fontes de energia as mais diversas, enfim, todo o tipo de “commodities ” que alimentarão, iluminarão e estão fazendo funcionar a economia chinesa a 10% anuais. E, claro, bancos, para negociar tudo isso.

Gore Vidal, há cerca de 30 anos, afirmava que a tecnologia japonesa e a mão-de-obra chinesa dominariam o século 21. Pois, agora, a China só precisa da mão-de-obra de seus cidadãos, já que domina sua própria tecnologia de ponta em todos os ramos da economia. Tanto isso é verdade que já ultrapassou o Japão como segunda potência econômica do mundo. E, em 20 anos, será a primeira.

Mussolini foi um fanfarrão a cantar uma trágica ópera bufa, mas talvez tenha tido a premonição correta ao avisar o mundo sobre “il pericolo giallo”. Pelo jeito que a economia mundial se desenvolve e evolui, será um bom investimento que nossos filhos e netos farão ao se dedicar ao aprendizado do idioma mandarim.


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