Opinião
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30 de agosto de 2012
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15:30

As redes sociais nas eleições 2012

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br

Com bastante atenção – mais que o normal e menos que gostaria – tenho acompanhado as campanhas eleitorais nas redes sociais. Espaço profícuo para o debate político e antipolítico, as plataformas sociais na internet estão agitadas durante a eleição municipal.

Logo nos primeiros dias acompanhamos uma avalanche de nomes e números nas redes. Seguido por um rechaço, também expressivo, das pessoas que “detestam política”, que pararam de curtir e de ser amigos virtuais de quem posta conteúdo de candidatos, que deram “unfollows impiedosos nos partidários”.

Mas logo veio agosto e já estamos no período “quente” da campanha, quando começa a propaganda eleitoral na TV e no rádio. As redes sociais, pelo menos no Brasil, ocupam-se muito da programação da TV e do rádio. Bastante comum os assuntos mais comentados do twitter terem temas da televisão, em especial Big Brother, novelas e futebol. Porém, a política também entra forte em cena quando os debates televisivos acontecem ou em temas de grande repercussão como o julgamento do mensalão no STF.

Vemos uma briga de gato e rato. Conteúdo positivo e negativo circulando na rede. Um atrás do outro. Pautar o adversário é quase mais importante do que o próprio conteúdo postado. Os vídeos de campanha são legais, mas muitos são longos e maçantes, rapidamente descartados pelos eleitores internéticos. O que “bomba” mesmo são as imagens carregadas de sentido ou com algum texto.

Por mais força de disseminação de conteúdo que as redes possuam, elas seguem sendo um meio, não são a força da política em si mesmas. É o que foi muito debatido em 2011: quem fez a revolução no mundo árabe foram as pessoas, não o Facebook. Nesse ponto as eleições municipais são uma expressão mais visível a olho nu dos fenômenos sociais da política. E ainda são bastante parciais num país continental, brutalmente segregado pela desigualdade econômica, social, educacional e cultural. A análise das redes sociais são boas para as metrópoles. Por mais que tenham penetrado nas médias cidades, ainda repercutem em círculos pequenos.

Em Porto Alegre, a candidata Manuela, a mais jovem postulante à Prefeitura, fenômeno eleitoral em 2006/10 para Deputada Federal, conta com enorme parcela de apoio na juventude. Algumas pesquisas apontam 50% de voto no eleitorado jovem. Porém, a campanha de Manuela não deslanchou nas redes sociais. Sendo que Porto Alegre é uma cidade em que a internet já pauta a vida real, a imprensa tradicional e que influencia o chamado voto 1.0, analógico, dos que não estão na rede. Por mais que seja a mais tuiteira dos candidatos, não possui uma multidão espontânea de pessoas que disseminem suas ideias. Não chegou ao que se chama na política de campanha-movimento. E, contraditoriamente, tem levado uma surra da campanha do Prefeito Fortunati no que diz respeito à interligação da TV-Rádio-Internet. Sem falar na incapacidade de responder às críticas que sofre pela suas alianças com a direita, a forma burocrático-governista que atuam no movimento estudantil e os escândalos de corrupção no Ministério dos Esportes, do seu correligionário Orlando Silva.

De maneira surpreendente, a campanha do prefeito, de um partido menos jovem e menos plugado que o de Manuela, através de muitas iniciativas, supera dia a dia a campanha da jovem candidata. Entretanto, Fortunati é o voto do conservadorismo, que possui pouca capacidade de mobilização espontânea na rede.

As iniciativas políticas nas redes sociais mais importantes foram de esquerda, pela liberdade de expressão, pela democracia direta. No mundo e no Brasil. Desde o Occupy Wall Street ao Wikileaks de Assange, passando pelas russas do Pussy Riot, de oposição a Putin. Os indignados da Espanha moveram milhões, insuflando jovens chilenos e brasileiros a seguirem o exemplo. Tudo isso iniciado pelas revoluções democráticas do mundo árabe em dezembro-janeiro-fevereiro de 2011. Por mais que tenham expressões de direita, até neonazistas, na internet, ainda não foram capazes – FELIZMENTE – de impôr à realidade seus ideais. E isso também é parte da nova situação mundial, fruto da crise econômica iniciada nos EUA em 2007/08. A crise do capitalismo é econômica, ideológica e estratégica. Já são poucas opções que podem oferecer às novas gerações nos principais países do mundo. É tempo de busca pelo novo, que conectado com as redes sociais, permite ligar pontos distantes geograficamente e próximos na luta pelas transformações.

O que se vê na eleição de Porto Alegre é a disputa das máquinas eleitorais na rede, com menos eficiência do que elas têm nas ruas. Para nossa sorte os jingles de campanhas deles não tocam sem a nossa autorização no computador. Vale ressaltar o alto nível estético dessas duas campanhas, que mesmo assim não empolgam para além de seus próprios militantes.

Registro importante: se a rede reflete uma orientação política das candidaturas, é fato notório que Manuela paga o preço das escolhas que fez. Ao optar pelo caminho convencional da luta pelo poder político, abdica de ser uma mudança verdadeira, uma mudança na essência. Sua candidatura é oposição aparente. Por, no mínimo, quatro motivos:

  1. alianças sem princípio, com o PSD de Kassab e o vale-tudo pelo PP de Ana Amélia;

  2. financiamento de campanha pelo grande empresariado (construtora OAS já doou 250 mil reais, conforme noticiado por Felipe Prestes);

  3. a naturalização do fisiologismo através da reação contemplativa e de defesa da gestão do PCdoB no Ministério dos Esportes;

  4. e a localização política internacional, com a defesa de regimes políticos autoritários como o da China, Coreia do Norte e da Síria.

Isso não é sobre a análise só das eleições de 2012. É sobre o espaço que se abre para o futuro. O PT de Villa, ao abandonar sua história, ao deixar de ser petista, abriu um largo espaço de esquerda no espectro político brasileiro. Em Porto Alegre, são milhares de pessoas sem uma representação política de fato. Muitas ficaram céticas com o PT, mas os levantes populares pelo mundo reacenderam a chama da transformação social, a factibilidade da mudança. A Graúna do Henfil foi resgatada na memória: “Tô vendo uma esperança”. E o PCdoB não será o partido, nem Manuela será a liderança desse momento que seguirá depois das eleições municipais.

O melhor contraponto verificável nas redes sociais, de um outro jeito de fazer política, que resulte em outro poder político, a serviço do povo, está na campanha de Marcelo Freixo do PSOL no Rio. A descrição desse processo merece um capítulo à parte. Se Freixo for ao segundo turno sua campanha de internet o fará o Obama brasileiro. E isso sim nós podemos. Está ao alcance das mãos, de alguns cliques e muito suor.

Rodolfo Mohr é jornalista e estuda Direito na UFRGS.

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