Opinião
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6 de setembro de 2012
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08:53

Grandes negócios

Por
Sul 21
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Por Marino Boeira

Está aberta a temporada de grandes negócios. Até as eleições de outubro, políticos, cobrindo um amplo espectro que vai da extrema direita à esquerda, empresários, agências de propaganda , seus fornecedores e os veículos da mídia, estão no mercado negociando apoio e fazendo promessas.

Os grandes empresários apostam no mercado futuro, incluindo os barões da propaganda, oferecendo apoio agora para cobrar depois dos eleitos, com juros e correção monetária. Para não correr nenhum risco põem suas fichas nos mais variados candidatos, sem qualquer preconceito ideológico. Doações são feitas à esquerda e a direita, com o devido registro nos tribunais eleitorais e por baixo do pano para abastecer o “caixa dois” e gerar as tão desejadas pelos políticos “sobras de campanha”.

Este jogo cada vez mais escancarado provoca a repulsa do eleitor pouco politizado, que costuma simplificar sua avaliação dos candidatos com frases do tipo “todos eles são corruptos” e que gosta de dizer que “tem nojo da política”, se posicionando irremediavelmente naquela categoria que Bertold Brecht dizia ser a dos piores cegos: a dos que se omitem na hora de escolher um lado.

Infelizmente para os que gostariam que só existissem o branco e o preto, o certo e o errado, não existem na política o corrupto absoluto e o totalmente ético. Quando um empresário destina uma verba a um candidato, obviamente ele está fazendo isso para obter alguma vantagem mais tarde. O candidato sabe que assume uma dívida que um dia terá que saldar. Numa eleição passada, um partido de esquerda anunciou que só recebia financiamento de empresário nacional, numa espécie de reserva de domínio para o financiador nativo dessa prática que sempre fica no limite do ético e do antiético.

Agora que o “mensalão” ocupa as páginas de todos os jornais brasileiros, subitamente tomados de um furor moralista, é importante que se discuta quais seriam os limites, se é que eles são possíveis de serem fixados numa sociedade capitalista, entre as relações que envolvem os partidos, seus candidatos e os financiadores de suas campanhas.

Depois de perder três eleições sucessivas, quando fez alianças apenas com partidos de esquerda, o Presidente Lula anunciou que só seria candidato pela quarta vez se pudesse fazer as alianças necessárias para disputar com chances de ganhar as eleições de 2002. Ele ganhou, repetiu a dose quatro depois e ainda elegeu a Presidente Dilma em 2010.

Muitas das concessões feitas por Lula foram públicas, tais como as alianças com partidos fisiológicos, políticos de centro e até de direita e as reverências aos militares, esquecendo de cobrar a fatura pelos crimes do regime ditatorial de 64. Outras, possivelmente, permaneceram ocultas. Será que valeu a pena abandonar a pureza das primeiras campanhas, quando o seu o PT só tinha como aliados os partidos mais a sua esquerda? Perguntem ao povo brasileiro e ele certamente responderá que sim. Nunca um presidente e sua sucessora, como Lula e Dilma, tiveram tanto apoio popular.

Para quem gosta de história, não custa lembrar que o grande líder gaúcho Leonel Brizola só se elegeu governador quando aceitou o apoio do PRP,dos antigos integralistas. Quatro depois, mesmo tendo feito um dos melhores governos no Rio Grande do Sul, mesmo depois de ter comandado a Legalidade, seu candidato Egidio Michaelsen, perdeu a eleição para Ildo Meneghetti, porque o PRP, afastado do seu governo pela pressão da esquerda, passou para o outro lado.

Ninguém ganha uma eleição majoritária no Brasil se não contar com grandes verbas para montar estratégias de marketing, sempre caras porque incluem produção em massa de materiais gráficos, programas de televisão e rádio, pesquisas de opinião e contratação de cabos eleitorais. Tudo isso custa dinheiro e quem paga, seja uma grande construtora, uma rede comercial ou uma agência de propaganda, vai cobrar depois a contrapartida.

Não se trata de um fenômeno brasileiro. Enquanto nossos políticos movimentam modestos reais, nos Estados Unidos são milhões de dólares que são postos nas campanhas de Obama e Mitt Romney. Obviamente, a fatura que será cobrada depois vai ser muito mais alta. Naquelas eleições, muito pouco limpas,em que George Bush seu elegeu presidente, seus financiadores – as grandes companhias de petróleo e as megas- construtoras – exigiram que ele fizesse uma guerra contra o Iraque, para que as petroleiras não perdessem seus negócios e as construtoras pudessem reconstruir o que as bombas da indústria militar tinham destruído.

Com tudo isso, seria melhor que não houvesse eleições? Claro que não. Elas são um sinal de que vivemos num sistema democrático, ainda que imperfeito. Os políticos que gostam de demonstrar erudição costumam citar a famosa frase de Winston Churchill de que “que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos”, embora Churchill, principalmente pela sua política colonialista na África e na Ásia, esteja longe de ser um democrata.

Quem, como nós brasileiros, experimentou anos de uma ditadura militar, só podem festejar a possibilidade de poder votar em seus candidatos preferidos, ainda que possamos pensar ser um exagero aquele título ufanista com o qual os jornais costumam definir as eleições: “a festa da democracia”.

Financiamento público das campanhas eleitorais, fim dos partidos políticos de aluguel, ficha limpa dos candidatos, denúncia de corrupção pela imprensa, tudo ajudará a tornar o processo eleitoral mais transparente, mas serão sempre medidas paliativas.

Numa sociedade capitalista tudo é transformado em negócio e tem sempre um valor de compra e venda. É da essência desse sistema. Sua moral é o lucro a qualquer custo. E essa ética não é compatível com a verdadeira democracia que sonhamos.

Marino Boeira é professor universitário

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