Opinião
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25 de outubro de 2012
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07:47

Sul-brasileiro — um povo que busca unidade pela diversidade

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br

Por Celso Deucher*

Como já afirmamos em outras ocasiões, o sentimento separatista Sulista vive e está cada dia mais forte graças a nossa história de luta contra o poder central, antes nas mãos dos portugueses e hoje dos brasilianos.

Num breve retrospecto histórico sobre o nascimento deste sentimento de liberdade, vamos encontrar nas Missões do Guairá o primeiro exemplo de separatismo Sulista. É isto mesmo, foi no Paraná que germinou o primeiro exemplo de secessão real, construindo as primeiras páginas do projeto de Povo que hoje somos.  Foi lá que pela primeira vez aconteceu a unidade de ideal e de luta em defesa deste território.

Nestes primeiros embates entre Sulistas e brasilianos milhares de homens e mulheres já deram uma exemplar demonstração de que abaixo do Paranapanema existe um povo que “não se entrega sem pelear”. E foi das peleias em defesa do território Sulista lá na ponta do Paraná que nasceram nossos primeiros heróis, destacando-se entre eles o grande chefe Guairacá.

Mas, aquele primeiro embate entre Sulistas e brasilianos saímos perdendo. Com a derrota os precursores do separatismo Sulista tiveram que deixar aquele território e retiraram-se rumo mais ao Sul. Esta migração forçada mais tarde ficaria conhecida como a “Marcha dos Catecúmenos”. Foram aqueles “catecúmenos” que mais tarde ajudaram a formar e a moldar o sistema implantado nos Sete Povos das Missões já em território do Continente de São Pedro, Rio Grande do Sul.

Para nós que defendemos a autodeterminação do Povo Sulista, este fato, fruto de uma sangrenta luta pela posse do território Sulista já é prova mais do que concreta de que houve uma comunhão de ideais e de projeto na defesa de uma República Sulista.

Denominada pela historiografia como a República Guarani era formada territorialmente incluindo os três estados. Sabemos hoje, através de estudos mais aprofundados que não apenas no Paraná e Rio Grande houveram Missões Jesuíticas, mas também havia pelo menos quatro Missões em Santa Catarina, duas no oeste e outras duas no litoral catarinense. Há quem discorde do termo “República Guaranítica”, bem como da extensão do seu território. Mesmo respeitando certas discordâncias, do nosso ponto de vista os fatos históricos falam mais alto, pois foi efetivamente este o projeto das Missões Guaraníticas, queiram ou não certos historiadores brasilianos.

O fim das Missões já sabemos qual foi e da mesma forma temos as notícias de qual fim se deu a República Guaranítica. O fato é que este foi o primeiro grito de liberdade Sulista, muito bem expressado na frase “Esta Terra tem Dono”, legenda usada por outro grande herói Sulista, Sepé Tiarajú.

Após firmado e delimitado o primeiro “vinco” que iniciaria a separação Sulista, ao longo do tempo tivemos diversos outros levantes separatistas. O de maior destaque e relevância com toda certeza foi o da “Revolução Farroupilha”.  Esta revolução foi a mais eloquente no sentido de ter declarações formais (e de fato) de independência de pelo menos dois estados, a República Riograndense e a República Catharinense.

No entanto a Revolução Farroupilha, é preciso que se diga, está no mesmo contexto histórico de outros levantes do Sul contra o poder central, como a Guerra do Contestado, a República de Lorena, a Revolução federalista, entre outras.

Não nos esqueçamos que na Guerra do Contestado, o principal povo que novamente foi escorraçado e praticamente dizimado foram os descendentes daqueles antigos “Guaranis das Missões”, que nos idos de 1900 já estavam mesclados com o negro, o espanhol (descendentes dos Mouriscos “plantados” por Dom Álvar Núñez Cabeza de Vaca nos idos de 1541/1542) e o português/açoriano.

O que estamos tentando dizer é que nosso povo foi formado inicialmente pelas centenas de nações que compunham o Povo Guarani, mesclado com o africano, o “mouro”, o espanhol e o português… Mais tarde, uniram-se a estes povos outros diversos povos, como os alemães, italianos, poloneses, austríacos, suíços, etc, bem como algumas etnias asiáticas, em especial os japoneses. Em resumo, além dos povos originais e os chegados a partir de 1500, recebemos nestes últimos 180 anos povos de todos os três continentes.

É motivo de orgulho na atualidade sermos um povo resultado da soma cultural de todos estes grupos humanos. A luta separatista e autonomista no século XXI, tem dezenas de reivindicações e motivos, mas busca principalmente, nesta diversidade cultural, moldar a sua unidade, como Povo e como Nação, que reivindica seu irrenunciável direito de autodeterminação. Estamos aptos como coletivo humano, a assumir todas as responsabilidades perante a comunidade internacional, bem como a abraçar todas as responsabilidade que envolvem nosso futuro através da formação de um Estado nacional próprio.

Celso Deucher é o presidente Movimento O Sul é o Meu País e Secretário geral do Gesul (Grupo de Estudos Sul Livre).

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