Eu queria ter escrito esse artigo quando retornei do primeiro protesto de 2014 em Porto Alegre e, talvez o primeiro do Brasil neste ano de Copa do Mundo e eleições. Porém, por falta de tempo não consegui finalizá-lo e como diz o velho ditado “há males que vem para o bem”. A greve dos rodoviários só veio para reforçar o título que eu pretendia dar a este texto: Porto Alegre é uma cidade que pulsa.
O ano de 2013 foi especial para o Brasil, mas principalmente para Porto Alegre que foi o berço, a capital responsável por colocar o país de vez na rota das revoltas hiperconectadas que eclodiram pelo mundo. Mas além do protagonismo nas manifestações, Porto Alegre viu, em 2013, seus movimentos sociais e sindicatos se unirem, viu uma juventude organizada disposta a lutar por suas reivindicações. Porto Alegre passou a ver as ruas como veias que bombeiam um coração. A cidade pulsou e a tendência é que continue pulsando em 2014. A questão, portanto é qual será a reação do poder público: Diálogo ou violência?
Em 2013, a Câmara Municipal era presidida pelo vereador Dr. Thiago Duarte (PDT), mesmo partido do prefeito José Fortunati (PDT), quando o Bloco de Luta Pelo Transporte Público ocupou o Legislativo por oito dias de forma pacífica e ordeira, como pude presenciar fazendo a cobertura jornalística. Porém, sem diálogo, houve um pedido para que a Brigada Militar usasse a força policial para desocupar o espaço. Com o pedido negado, Duarte acusou o movimento de golpe e criticou o Governo do Estado por não autorizar a intervenção da polícia. Quando a Justiça decidiu mediar um diálogo conciliatório, o Legislativo foi desocupado e dois projetos criados foram protocolados. Nenhum dos dois foi para votação.
Agora, em 2014, o tema transporte público que foi o estopim das manifestações, voltou à pauta com a greve dos rodoviários que já dura cinco dias e que só reforça a falta de diálogo e a dificuldade de alguns políticos. Fortunati já deu declarações em que cogita colocar brigadianos para dirigir os ônibus e até mesmo solicitar apoio da Força Nacional para forçar os grevistas a retornarem ao trabalho. Enquanto isso, o Passe Livre não existe e o transporte público funciona sem licitação.
Confesso, que após ataques até mesmo ao seu prédio durante algumas manifestações de 2013, esperava que o prefeito criasse mecanismos de diálogo com a população e principalmente, se tornasse um homem diálogo, de negociação por conta de seu passado sindical. Não é o que estamos vendo. Em um tempo em que sociólogos e cientistas políticos veem na democracia direta, a solução para crise de representatividade, os poderes públicos de Porto Alegre se afastam do povo e das ruas que fazem a cidade pulsar. As consequências devem vir em um 2014 longo para estas instituições.
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Guilherme Darros, estudante de jornalismo