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29 de maio de 2014
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16:46

Eleições no CPERS: Chapa 4 defende que a base escolha como serão aplicados os recursos do sindicato

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Katiana Pinto dos Santos é a presidente da Chapa 4, Construção pela Base para Mudar o CPERS de Verdade| Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Samir Oliveira

Maior sindicato do Rio Grande do Sul, o CPERS reúne os professores e funcionários de escola da rede pública estadual e tem protagonizado, ao longo dos anos, diversas mobilizações em defesa destas categorias. Nos dias 10 e 11 de junho, os 81.892 sócios com direito à voto poderão escolher quem comandará a entidade pelo próximo biênio.

O Sul21 encerra, nesta quinta-feira, a publicação de uma série de entrevistas com as presidentes das quatro chapas que disputam a liderança do CPERS. As reportagens foram publicadas nos dias 20, 22, 27 e 29 de maio, respeitando a ordem numérica das chapas – começando com a 1 e finalizando com a 4. Foram feitas as mesmas cinco perguntas para todas as candidatas.

Leia mais:
– Eleições no Cpers: Chapa 1 defende mais atenção a aposentados e funcionários de escola
– Eleições no CPERS: Chapa 2 defende busca de recursos junto ao governo federal para pagamento do piso
– Eleições no CPERS: Chapa 3 defende reorganização interna para atrair a categoria e massificar mobilizações

A Chapa 4, “Construção pela Base para Mudar o CPERS de Verdade”, defende maior transparência na gestão das finanças do sindicato. O grupo quer que a categoria diga onde devem ser aplicadas as verbas e critica a precariedade dos balancetes divulgados pela direção. Além disso, a chapa defende o fim de adicionais recebidos pelos dirigentes e a expulsão de professores filiados à entidade que ocupam cargos de chefia no governo estadual.

Integrantes da Chapa 4: Construção pela Base para Mudar o CPERS de Verdade
Presidente: Katiana Pinto dos Santos
1º Vice-presidente: Lucas Cortozi Berton
2º Vice-presidente: Juliano Belém Gomes
Secretária Geral: Caroline de Aguiar da Cunha
Tesoureiro Geral: Letícia Neumann
Diretores(as): Deboráh Feijó da Fonseca, Rafael Claros, Viviane Cardoso Cerê, Marcello do Amaral de Mello, Vereni Nogueira Ribeiro, Eunice Souza Couto, Paulo Moarcir Farias da Silva Júnior, Gisele Silva Flores, Luciana Ferreira Santana, Merânia Izabel Tavares Ferreira

Confira abaixo a entrevista com a presidente da Chapa 4, Katiana dos Santos

“A base não sabe quanto é a arrecadação anual e mensal do sindicato e pra onde vão os recursos”

 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“A base não sabe quanto é a arrecadação anual e mensal do sindicato e para onde vão os recursos” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Sul21 – Quais são as principais propostas da chapa?
Katiana dos Santos – Defendemos a desburocratização do CPERS, que significa o sindicato fazer um trabalho de base que hoje não existe. O sindicato está distante e fez um corte: a vanguarda atua mais e a base fica mais na expectativa, não se envolve com todas as instâncias do sindicato. Não existe formação, hoje temos uns dirigentes que ficam lá durante anos. A Rejane já está se candidatando para o terceiro mandato. Todos esses que estão aí já foram direção. A Chapa 3 era vice da Rejane, não se renova os quadros. Eles vão se acostumando, porque os dirigentes sindicais recebem um adicional de 100% no salário e essa diferença faz com que eles continuem. Quem quer voltar para base e receber um salário que é a metade? Uma das nossas propostas é o fim dos privilégios dos dirigentes sindicais, que fazem com que se crie a burocracia sindical. Defendemos a desfiliação do CPERS da CUT e da CNTE, que defendem alteração no plano de carreira, defendem o PNE (Plano Nacional da Educação), que é um plano que está desmontando a educação pública e destinando verbas do setor público ao setor privado através do Pronatec. Defendemos também transparência nas finanças do sindicato. Hoje, as finanças são uma caixa preta. Quem dirige, organiza e destina as verbas é a própria direção. A base não sabe quanto é a arrecadação anual e mensal do sindicato e pra onde vão os recursos. Os balancetes são muitos simples e não dizem especificamente quanto vai para a CUT, para a CNTE, para as verbas de representação e para as diárias dos dirigentes. Achamos que a categoria que tem que definir anualmente pra onde vão os recursos do sindicato.

“O Gerdau pode ser sócio do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos? Claro que não. A mesma coisa entendemos para os que ocupam cargos no governo”

Sul21 – Qual deve ser a postura do sindicato em relação ao governo?
Katiana – De independência. Não temos vinculo nenhum com governo, muito menos com o partido ou a central sindical que dá apoio ao governo. Temos que fazer a defesa da classe trabalhadora, independente do governo que venha a assumir. Nossa chapa não tem vinculação com nenhum dos partidos existentes hoje. Tem independentes e gente que participa de coletivos e movimentos sociais. Não que a gente seja apartidário. Uma outra coisa que defendemos que é polemico no CPERS é a expulsão dos governistas do sindicato. O secretário estadual de Educação e coordenadores de Educação hoje são filiados ao CPERS. Estão ocupando um cargo, atuando como patrão e filiados ao sindicato dos trabalhadores. Fazemos a comparação: o Gerdau pode ser sócio do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos? Claro que não. A mesma coisa entendemos para os que ocupam cargos no governo, especificamente os CCs com cargos de chefia no governo.

Sul21- Qual a sua posição a respeito da lei do piso nacional do magistério, da política de reajustes salariais do atual governo e da reforma do Ensino Médio?
Katiana – A lei do piso é uma lei que não saiu do papel. Nenhuma das cláusulas da lei é aplicada, nem a hora atividade, nem os treze períodos e muito menos o valor do piso. Isso que o governo fala na mídia é mentira. O governo tenta enganar o povo gaúcho para ter rentabilidade eleitoral.

A política de reajustes é uma farsa. O governo está dizendo que deu 76%, sendo que parte do valor era um abono que recebíamos e que foi transformado em percentual para dizer que está dando 76%. Nosso salário deveria ser o piso como básico, sobre o qual todas as vantagens incidem, mas isso não acontece. Esses 76% são uma jogada midiática, porque não vemos mudança na qualidade de vida dos professores.

“O governo precisa melhorar os índices educacionais para receber os recursos do Banco Mundial”

 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“O governo tenta enganar o povo gaúcho para ter rentabilidade eleitoral” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Somos contrários à reforma do Ensino Médio, começando pela forma como foi colocada. A proposta do governo não foi para ser discutida e deliberada. Ele apresentou para as escolas como proposta do governo e a gente tem que aplicar. Na verdade, essa reforma vem no sentido de tensionar os trabalhadores em educação para aprovação automática, para melhorar os índices educacionais. O governo precisa melhorar os índices educacionais para receber os recursos do Banco Mundial. Eles têm prazo para cumprir, por isso a pressa do governo Tarso em tocar a reforma do Ensino Médio do jeito que foi colocado. Sem falar que aumentou a carga de trabalho, mas o piso, que deveria vir, não tem. Estamos com uma carga de trabalho maior, mas no sentido de melhoria da qualidade de ensino, não observamos nada. As escolas continuam com problema de infraestrutura, de esgotos entupidos, de redes elétricas sucateadas, de prédios desmoronando. Em termos de qualidade pedagógica, a reforma tirou a autonomia das escolas. O que se tinha de discussão nas escolas foi patrolado com a proposta pedagógica do governo. Então interferiu na gestão democrática das escolas. Somos contrários não só à forma, como ao conteúdo da proposta do governo.

Sul21 – Como a senhora avalia as últimas greves promovidas pelo sindicato, pelo menos desde 2011?
Katiana – Nós tivemos greves de vanguarda, que nós discordamos. Entendemos que greve é uma última tática dos trabalhadores. Primeiro temos que ver se a categoria está mobilizada e com disposição para fazer o enfrentamento. Fazer uma greve com 6% ou 7% de participação é tiro no pé. Serve mais para o governo ver que a categoria está frágil e implementar mais ataques. Discordamos de três paralisações chamadas pela CNTE em março de 2014, de 2013 e de 2012. Chamamos de paralisações pelegas, porque são paralisações chamadas pela CNTE, que defende a aprovação do PNE, que é o plano do Banco Mundial, que tem um caráter privatista, que destina as verbas do Ministério da Educação para setor privado e que incentiva ingerência do sistema financeiro e de ONGS no gerenciamento das escolas, comprometendo a gestão democrática. Nossa corrente foi terminantemente contra essas paralisações, nós boicotamos, porque eram paralisações de apoio ao governo Dilma e ao governo Tarso. O CPERS aqui no estado propôs uma outra pauta para disfarçar a pauta nacional. Dissemos que tem que ser claro, porque isso é para enganar a categoria. Tínhamos deliberado em assembleia e em conferência estadual rechaçar o PNE. Seria uma contradição ao mesmo tempo fazer uma paralisação exigindo do Senado e da Câmara sua aprovação. A direção do CPERS teve que usar o subterfúgio de criar uma pauta local para fazer com que os trabalhadores aderissem.

“Fazer uma greve com 6% ou 7% de participação é tiro no pé. Serve mais para o governo ver que a categoria está frágil e implementar mais ataques”

Sul21 – Qual a composição política da chapa?
Katiana – Nossa chapa é formada por trabalhadores de escolas, não temos nenhum liberado sindical, somos de esquerda, independentes. O coletivo que faço parte é o coletivo Luta Marxista. E faço parte também da corrente Construção pela Base, que é a nossa corrente dentro do CPERS.


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