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20 de junho de 2014
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22:00

Um ano depois, promotora reabre investigação sobre jovem morto em festa em Porto Alegre

Por
Sul 21
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Foto: Reprodução/ Facebook
Eduardo tinha 17 anos e cursava pré-vestibular quando foi encontrado morto | Foto: Reprodução/ Facebook

Débora Fogliatto

A morte de Eduardo Vinícius Fösch dos Santos no início de maio de 2013, aos 17 anos, volta a ser investigada. A promotora Dirce Carvalho Soler, da Promotoria Criminal de Justiça do Tribunal do Júri de Porto Alegre, concluiu que a morte do menino não parece ter sido um acidente.

Há um mês, o Sul21  publicou matéria sobre o caso, sendo seguido por outros veículos, o que motivou os responsáveis pela investigação a transferirem o caso para a Promotoria Criminal. A promotora Dirce recebeu o inquérito na quarta-feira da semana passada (11). Antes disso, ela não tinha muitas informações sobre o caso, além do que havia sido divulgado pela mídia. “O inquérito veio para mim ante a possibilidade de estarmos diante de um crime contra a vida. Eu poderia ter entendido como o delegado de polícia, mas não me parece que é esse o caso de forma nenhuma”, afirmou.

Eduardo morreu no dia 6 de maio de 2013, por traumatismo craniano, após passar nove dias em coma. Ele foi com amigos à festa “A Zona Sul chegou”, no condomínio Jardim do Sol, no dia 27 de abril. Na manhã do dia seguinte, foi encontrado com ferimentos no corpo e em estado semiconsciente no pátio da casa ao lado do local do evento. As investigações conduzidas pela Polícia Civil concluíram que se tratava de um acidente, mas a família do garoto nunca se conformou com essa hipótese.

A investigação feita pela Delegacia de Polícia para Crianças e Adolescentes Vítimas de Delitos concluiu que ele havia caído de uma altura de seis metros, distância entre o prédio onde acontecia a festa e a residência vizinha. “Lendo tudo que está nos laudos não consigo me conformar com a ideia de que foi um acidente, não me parece pela posição em que a vítima estava, pelo fato de existir uma escadaria entre o muro e o corpo da vítima. Não tem como ela ter caído e ficado naquela posição”, ponderou a promotora Dirce.

Em agosto do ano passado, a família contratou um escritório de advocacia para auxiliar na avaliação e acompanhamento do inquérito, trabalho que tem sido feito pela advogada Lesliey Gonsales desde então. Também foi contratado perito particular para realizar um laudo, pois a Polícia Civil nunca requisitou que isso fosse feito pelo Instituto Geral de Perícias (IGP). “Encaminhamos tudo que já tínhamos encaminhado para a delegacia. A perícia, os questionamentos de inconsistência na investigação, nas declarações dos adolescentes que tinham sido ouvidos”, narrou Lesliey.

O Parecer Técnico Pericial Preliminar de Exame em Local de Morte, feito por Celso Menezes Danckwardt no dia 25 de novembro de 2013,  aponta que Eduardo teria sido arremessado já em estado semiconsciente ou inconsciente ao lugar em que foi encontrado. O Laudo Técnico afirma que ele foi agredido na cabeça com o uso de um instrumento contundente.

Segundo o laudo, foi verificado de imediato que a vítima apresentava “inúmeras lesões no dorso e nos dedos da sua mão direita, com as características daquelas (lesões) produzidas durante uma intensa luta corporal”. O parecer acrescenta relatos de médicos do Hospital Pronto Socorro, dando indicativos de que o paciente teria sofrido agressão física, com base nos ferimentos apresentados.

A abertura das investigações 

Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Família confeccionou camisetas em campanha pedindo justiça pela morte do filho | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

A promotora requisitou que o processo corra em segredo de Justiça, por entender que é necessário preservar a investigação, considerando que já aconteceram alterações no local da morte de Eduardo. “Há a possibilidade de alguém estar interessado em atrapalhar a investigação. Mas vou pedir algumas perícias, vou reinquirir algumas pessoas e inquirir outras. Hoje (20) já entreguei um pedido de quebra de sigilo telefônico de algumas pessoas, além de busca e apreensão”, esclareceu.

As investigações em geral só chegam à promotoria quando são encaminhadas pela polícia, que realiza um relatório em que se manifesta pelo arquivamento ou indiciamento do caso. A promotoria já havia determinado novas diligências e devolvido o caso para a delegacia, que o concluiu no dia 22 de janeiro, passando o inquérito novamente para o MP.

O caso foi encaminhado para o Foro Regional da Tristeza, na Zona Sul de Porto Alegre, e apenas foi para o Tribunal do Júri após a repercussão na mídia e nas redes sociais. A família se reuniu com Dirce na sexta-feira passada (13), quando foi informada sobre a decisão de reabrir o caso.

A advogada Lesliey aponta que quanto mais tempo passar, mais difícil será achar qualquer tipo de provas. Mesmo assim, ela reconhece que a reabertura do caso representa “um grande passo” e dá esperanças a ela e à família de Eduardo. Dirce também lamenta que o inquérito tenha sido reaberto apenas um ano depois de ocorrida a morte de Eduardo, o que “prejudica enormemente” a investigação. “Fica mais complicado resolver o caso um ano depois. Não é impossível descobrir o que houve, mas é difícil. Eu não sei se vou chegar na autoria, mas vou buscar isso de todas as formas possíveis”, garantiu.

Eduardo morreu aos 17 anos, enquanto era aluno do curso  pré-universitário. Ele estudou em diversos colégios particulares de Porto Alegre, onde recebeu boas notas durante sua vida escolar. O jovem também era skatista e instrutor de surf, além de ter participado de bandas. Enquanto ele estava em coma, os amigos e família fizeram uma corrente de solidariedade e publicaram um vídeo com depoimentos expressando o desejo de que ele melhorasse. A família estima que cerca de 600 pessoas tenham ido ao velório de Eduardo.


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