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28 de julho de 2014
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19:44

Candidatos ao governo do RS respondem perguntas da população em terceiro debate

Por
Sul 21
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Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Debate foi promovido pela Agert e pelo Sindirádio, nesta segunda-feira | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Débora Fogliatto

Sete candidatos ao governo do Rio Grande do Sul participaram nesta segunda-feira (28) de debate promovido pela Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (Agert) e o Sindirádio,transmitido por mais de cem emissoras em todo o estado. O candidato João Carlos Rodrigues (PMN) foi convidado, mas não compareceu ao debate. Participaram Ana Amélia Lemos (PP), Edison Estivalete Bilhalva (PRTB), Humberto Carvalho (PCB), José Ivo Sartori (PMDB), Roberto Robaina (PSOL), Tarso Genro (PT) e Vieira da Cunha (PDT), neste que  foi o terceiro encontro desde o início da campanha eleitoral.

Dividido em três blocos, o debate começou com os candidatos respondendo perguntas da população enviadas pelas rádios do interior do estado. Houve sorteio das indagações, cujos temas foram saúde, segurança pública, educação, situação das estradas, construção de presídios e desoneração fiscal. No segundo bloco, os participantes perguntaram entre si, com tema livre e escolhendo a quem direcionariam seu questionamento. Por fim, houve uma rodada de considerações finais.

Não houve grandes embates entre os candidatos, que, no entanto, aproveitaram a maior parte dos momentos para cobrar o atual governador Tarso Genro (PT), que por sua vez procurou lembrar aos oponentes que o PDT era aliado em sua gestão, enquanto o PMDB faz parte do governo de Dilma Rousseff. Ele também mencionou que o PP, por sua vez, foi coligado com o PSDB na gestão de Yeda Crusius, em 2006.

Primeiro bloco: perguntas da população

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Estivalete foi o primeiro a responder, sobre saúde | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

O debate começou às 9h, com o candidato Edison Estivalete (PRTB) sendo questionado por um ouvinte sobre formas de melhorar a saúde no estado. Antes de responder, ele mencionou ser sortudo pelo fato de o debate estar acontecendo no dia 28, número de seu partido, afirmando acreditar em numerologia. Sobre saúde, Estivalete disse que o governo “falha”, pois “tem obrigação de destinar o que está escrito constitucionalmente na saúde”, garantindo que caso eleito irá cumprir “o que está escrito”. O candidato, que é brigadiano, falou também da importância de fortalecer a Brigada Militar e os bombeiros para que auxiliem com primeiros socorros.

O próximo sorteado foi Roberto Robaina (PSOL), que respondeu sobre segurança pública, classificada como “problema grave” por ele. “Precisamos qualificar polícias com melhores salários e treinamento e com concurso único, para que a pessoa entre como soldado e possa chegar às mais altas patentes”, falou, referindo-se ao fato de que as pessoas que não têm graduação e se alistam como soldados podem chegar a ser sargentos, mas nunca subir a postos mais altos. O candidato também criticou o governo federal, dizendo que a União “drena recursos” para “alimentar o sistema financeiro e as famílias mais ricas”.

Ao candidato Vieira da Cunha, deputado federal pelo PDT, coube responder sobre como lidar com a educação e cumprir o piso nacional do magistério. Prontamente, ele afirmou que essa será a “prioridade das prioridades” de sua gestão caso eleito. “Quero assumir o compromisso público de que vamos fazer todos os esforços possíveis para honrar o piso nacional do magistério”, colocou, criticando a dívida do Estado e dizendo que é necessário “reorganizar as finanças públicas”.

Humberto Carvalho (PCB) foi questionado sobre a condição das estradas estaduais e como fazer para melhorá-las, ao que inicialmente falou que o governo “abandonou as hidrovias e ferrovias, preferindo as rodovias”, o que faz com que seja necessário “repensar o sistema de transporte”. Segundo ele, o atual governo “favorece o capital” ao não revisar os contratos de incentivos fiscais. Também afirmou que as estradas estaduais devem contar com verbas do estado, sem depender da União.

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Tarso Genro foi questionado sobre a construção de novos presídios | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

O atual governador Tarso Genro (PT) começou sua participação respondendo às críticas que havia recebido, focando-se na questão da educação, ao lembrar que o governo atual “deu a maior correção salarial da história do magistério, de 86,6%”. Ele foi questionado sobre a construção de novos presídios, preocupação que classificou como “correta” e destacou que havia contratos malfeitos quando ele chegou ao governo. “Pela 1ª vez há um programa massivo e organizado para melhorar substancialmente o sistema prisional e combater as péssimas condições carcerárias que levam à reincidência”, afirmou, informando que há cinco presídios sendo construídos no estado e os detentos do Presídio Central já estão sendo transferidos.

Única candidata mulher, Ana Amélia Lemos (PP) destacou essa característica ao responder à pergunta feita por uma ouvinte, que indagou sobre possibilidades de melhorias nos postos e na rede de saúde pública. “Temos muita coisa a fazer na área da saúde, usar mais da informatização, aplicar adequadamente o recurso destinado à saúde. O atendimento precisa de uma grande parceria com instituições comunitárias, como Santas Casas”, colocou. A progressista destacou que a população “não percebe melhorias” na qualidade da saúde, apesar de haver aplicação de verbas.

O último a responder foi José Ivo Sartori (PMDB), que falou sobre a situação econômica do estado e o repasse de verbas da União. Segundo ele, a desoneração fiscal “prejudicou especialmente o Rio Grande do Sul” e, caso o federalismo fosse mais pró-ativo no país, “não teria essa dificuldade”. Ele defendeu que é preciso repensar a relação entre municípios, estado e União. “O alinhamento entre o RS e o Brasil funcionou apenas como propaganda eleitoral. Na prática, o governo do estado recebeu menos recursos do que Santa Catarina e inclusive menos do que durante o governo de Yeda Crusius”, criticou.

Segundo bloco: candidatos perguntam entre si

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Ana Amélia destacou comprometimento com agricultura familiar | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Na segunda rodada, os candidatos têm um minuto para questionar outro de sua escolha, que por sua vez pôde responder em dois minutos. Em seguida, houve a réplica para o que perguntou, também de dois minutos, e a tréplica, de um minuto.

Estivalete x Ana Amélia

Novamente o primeiro a ser sorteado para iniciar a rodada, Estivalete (PRTB) questionou Ana Amélia Lemos (PP) sobre políticas direcionadas aos pequenos agricultores, destacando ter essa preocupação por ser ele mesmo “um homem do campo”. A senadora prontamente agradeceu, afirmando que como candidata tem “compromisso inarredável de valorizar extremamente a agricultura familiar”. Segundo ela, embora os agricultores gaúchos demonstrem “alta capacidade de produtividade”, perdem “por falha do estado” na competitividade, lembrando que a energia está “sucateada” e garantindo que as iniciativas à produção agrícola terão “grande incentivo”.

Na réplica, Estivalete destacou que é preciso investir em tecnologias locais e pesquisas. “Precisamos trazer empresas para cá e fazer com que se fixem aqui, tecnologia gaúcha para produto gaúcho”, afirmou. Já Ana Amélia voltou a criticar o atual governo, afirmando que apenas falta “infraestrutura capaz de oferecer possibilidade aos produtores pequenos e médios de aumentar sua competitividade”.

Ana Amélia x Vieira da Cunha

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Vieira da Cunha defendeu parcerias público-privadas para rodovias | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

A senadora então pode escolher para quem perguntar e, decepcionando os espectadores que esperavam confronto entre ela e Tarso Genro – que lideram as pesquisas – preferiu questionar Vieira da Cunha (PDT) sobre situação das rodovias, segundo ela “cada vez mais esburacadas”. O deputado defendeu as parcerias público-privadas entre a EGR e empresas, com “transparência, licitações para buscar parceiros que queiram investir sem explorar os usuários”.

Na réplica, Ana Amélia, que está em seu primeiro mandato para um cargo público, destacou que “o grande problema da política” é não cumprir o que é prometido. “Tem 70 municípios gaúchos ainda sem acesso a asfalto. Isso estava nas promessas de campanha e não foi empenhado”, afirmou. Vieira da Cunha apontou a necessidade de se investir em hidrovias, visto que o Rio Grande do Sul é um os três estados com capacidade hidroviária no Brasil.

Vieira da Cunha x Tarso Genro

Em sua vez de perguntar, o deputado Vieira da Cunha cobrou do governador Tarso Genro os motivos que o levaram a não tentar mudar o artigo 4° da Lei do Piso do Magistério, que trata de repasse de  recursos da União para integralização do piso de magistério nos casos em que os estados alegam indisponibilidade financeira para o pagamento.

Tarso, que foi criticado por outros candidatos, respondeu à Ana Amélia que mais da metade das cidades têm acessos de asfalto, em grande avanço, e que “não é verdadeira a afirmativa em relação às Santas Casas”, pois se repassa muito dinheiro para essas entidades.

Sobre o piso, um dos temas que mais são indagados a ele, Tarso esclareceu que há dois padrões de valores estabelecidos e que seu governo está cumprindo o piso do INPC, mas não o do Fundeb, considerado “inviável”. Lembrou que sua gestão está “dando uma atenção aos salários do magistério que nenhum governo deu”. Vieira, rispidamente, colocou que o governo tem interesse em “cavar ainda mais fundo o buraco em que o estado se encontra” e que os esforços deveriam estar concentrados em mudar o artigo 4° para garantir os recursos da União. Já Tarso alegou estranheza como “a fúria de ataque” do deputado contra um governo com o qual “até ontem” o PDT estava colaborando.

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Sartori disse que conseguiu recursos por ter bons projetos enquanto foi prefeito | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Tarso Genro x José Ivo Sartori

O governador optou por questionar Sartori (PMDB), a quem chamou pelo primeiro nome, atitude que foi rechaçada pelo ex-prefeito de Caxias do Sul. Tarso questionou sobre os recursos conseguidos pela prefeitura da cidade serrana enquanto o candidato era prefeito e se houve dificuldade de obtê-los visto que Sartori é de uma corrente de seu partido que não é alinhada ao governo federal. “Conseguimos recursos na relação com o governo federal enquanto eu era prefeito porque nós tínhamos projetos e conhecíamos prioridades para o município”, justificou o peemedebista.

Tarso afirmou que a relação do governo federal com os estados foi “muito boa a partir de Lula”, quando foi ministro e, já como governador, instituiu uma secretaria de relação com os municípios. “Temos projetos e estamos alavancando RS para um novo patamar de desenvolvimento e civilidade”, garantiu. Já Sartori lembrou que “esse dinheiro” emprestado pelo governo federal vem com juros e “juro alto”. “Penso que é preciso recuperar capacidade de governar para maioria dos gaúchos. Queremos implantar projeto de governo e não projeto de poder, um governo de todos os gaúchos”, completou.

José Ivo Sartori x Roberto Robaina

Ao escolher para quem questionar, Sartori perguntou a Robaina sobre como lidar com “as mudanças que são solicitadas nas ruas”. O candidato do PSOL começou destacando que os outros participantes haviam escolhido direcionar suas perguntas a candidatos alinhados, com Ana Amélia tendo “a sorte de receber pergunta de seu amigo Estivalete” e, por sua vez, indagando Vieira, o qual ela “sabe que não vai questioná-la”. Já o deputado federal do PDT, que “estava até há pouco no governo de Tarso”, perguntou ao governador, que questionou Sartori, do partido “que é aliado de Dilma”.

Sobre os protestos, Robaina afirmou que o PSOL “busca reivindicar e traduzir as demandas de junho para um projeto eleitoral”. Sartori, mais uma vez destacando as ações feitas enquanto prefeito de Caxias, disse que na cidade sua gestão escolheu “junto com a comunidade todas as prioridades” e que o governo precisa “garantir condições para que demandas das ruas se tornam realidade”. Robaina, na réplica, destacou que sua candidata à vice, Gabrielle Tolotti, participou ativamente das “lutas juvenis contra aumento das tarifas de ônibus ainda antes das jornadas de junho” e que seu partido ajudou a conquistar a redução da passagem a partir de atuação na Câmara Municipal.

Robaina x Humberto Carvalho

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Robaina questionou Carvalho sobre a dívida pública | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

“Por culpa dos outros”, Robaina teve que questionar Humberto Carvalho (PCB), que classificou como um amigo, e escolheu perguntar sobre a dívida pública. Embora Estivalete também não tivesse respondido ainda, como havia número ímpar de pessoas, ele precisava ser deixado por último, já que não pode questionar duas vezes.

“Dívida está implodindo estado e isso não pode continuar, sob pena de crescer e ser acumulada por séculos”, respondeu Carvalho, defendendo, como já havia feito no debate anterior, uma revisão da dívida em vez de a negociação que está tramitando no Congresso. Ele criticou os juros “altíssimos” colocados sobre as dívidas, caracterizando uma “política neoliberal de governo que se diz do partido dos trabalhadores”. Robaina aproveitou para colocar as candidaturas do PSOL como “construção de uma alternativa, que quer dizer nem projeto continuísta do PT e evidentemente nem aceitar projeto de retrocesso do PSDB”.

Humberto Carvalho x Estivalete

Na última pergunta, Carvalho questionou Estivalete sobre suas propostas em relação à pecuária e à questão ambiental no Rio Grande do Sul. “Queria agradecer à pergunta, porque sou um homem do campo, fui de cavalo ao último debate. Quem deve receber e quem deve estar pronto para ajudar o estado é o homem do campo”, respondeu.

O candidato do PCB afirmou estar preocupado com o meio ambiente e o bioma do pampa, onde já se encontram áreas de desertificação. “Tudo isso acontece devido a um mau uso da terra pela monocultura e latifúndio, que nós combatemos”, disse Carvalho. Estivalete também disse estar preocupado com o meio ambiente, afirmando ter especialização universitária no assunto e destacando que o caminho é “fixar homem do campo e fazer com que ele busque verbas para sua região. Quem mora em regiões ribeirinhas, por exemplo serão incentivadas a cuidar e limpar dos rios”.

Terceiro bloco: considerações finais

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Carvalho defendeu que a população vá às ruas | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Tarso Genro: Apontou os altos níveis de criminalidade e baixos de competitividade e investimentos em Minas Gerais após “sete anos governado pelos tucanos”. “Enquanto o estado que é modelo de administração representado por Aécio caiu, o modelo que eu represento está proporcionando índices de desenvolvimento, inclusão social e renda inéditos”, afirmou.

Sartori: Afirmou que o momento é “de mudança para o estado” e que, no entanto, “os serviços públicos não se atualizaram”. Para isso, ele apontou a necessidade de se valorizar os servidores. “Desejamos fazer o poder público funcionar a e atender bem as pessoas”.

Carvalho: Segundo ele, o “divórcio entre aspirações populares e a política e os políticos tradicionais” é o drama mais recente da nossa história. Por isso, “é preciso ir às ruas para conquistar direitos, mas também ir às urnas como forma de dizermos não ao conservadorismo e continuísmo”.

Vieira: Criticou mais uma vez o atual governo, dizendo que todos precisam “parar de gargantear e começar a agir”. “Ninguém vai conseguir governar sem mudar relação com a União, 13% é um castigo do governo FHC ao RS mantido por Lula e Dilma”, disse, referindo-se aos recursos destinados pelo governo federal ao estado.

Ana Amélia: Disse que o debate foi uma “bela oportunidade para debater propostas em que pessoas foram ouvidas, de diversas regiões do estado”, criticando Tarso por “tentar definir” a quem ela deve perguntar. Ela também rebateu à crítica ao PP de que estava aliado com o PSDB em 2006, dizendo que entrou na política apenas em 2011.

Estivalete: Destacou que seu partido “tem uma proposta sim” e é formado por mulheres e homens de valor “que trabalham e lutam diariamente para manter suas famílias”. Ele apontou a necessidade de se criar vagas no mercado de trabalho e de se pagar a dívida, “que já foi consumada”.

Robaina: Encerrou o debate, colocando-se mais uma vez como “a verdadeira terceira via”. “Precisamos combater retrocesso representado pela candidatura de Ana Amélia e Aécio, cujo último símbolo foi fazer pista de aeroporto em uma fazenda de sua família, o que é o cúmulo do privatismo”, afirmou, dizendo que ao mesmo tempo é preciso não dar continuidade a um projeto que “aceitou fazer governo comum com oligarquias de retrocesso e com as grandes empreiteiras, beneficiando bancos e famílias milionárias”.


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